Departamento foi criado na gestão do prefeito Filippi e já atendeu 97 pessoas com orientações diversas, como apoio em casos de homolesbobitransfobia, retificação de documentos, capacitação profissional e encaminhamento para vagas de emprego
Texto: Aline Melo – Foto: Dino Santos
Da Redação – Emily Graziela de Carvalho tem 31 anos e mora no bairro do Taboão. Apesar de ser formada em história, auxiliar de enfermagem e ter feito cursos na área da beleza, passou cerca de quatro anos sem emprego. Após uma formação no programa Capacitar Trans, conseguiu um contrato de trabalho de cinco meses em uma empresa de Diadema. Agora, aguarda por nova oportunidade.
Murillo Eloi Costa, 19, é morador do Jardim Inamar e há cerca de dois meses sofreu assédio sexual no trabalho. Após registrar boletim de ocorrência, encontrou apoio e acolhimento para continuar com o processo. Os dois munícipes são pessoas transgêneras que tiveram a vida impactada pela atuação da Coordenadoria de Políticas de Cidadania e Diversidades de Diadema, que completa um ano neste dia 28 de julho e já atendeu 97 pessoas desde sua implementação.
A criação da Coordenadoria de Diversidades foi um compromisso de campanha do prefeito José de Filippi Júnior. “Nosso governo está comprometido com todas as pessoas, independentemente de orientação sexual ou identidade de gênero”, afirmou. “Criamos a Coordenadoria, criamos o ambulatório DiaTrans para pessoas transgêneras, garantimos o uso do nome social, capacitamos os servidores públicos para atender bem essa população e é esse o trabalho que vamos continuar na cidade”, concluiu.
O responsável pela coordenadoria é Robson de Carvalho, que define a implementação do departamento como a “realização de um sonho, fruto do trabalho da sociedade civil organizada, em especial da Associação Viva Diversidade, que já realizava um trabalho semelhante na cidade e sem o apoio permanente do poder público. “Ter um espaço dentro do governo municipal que fala, ouve e principalmente acolhe o clamor e as necessidades da comunidade LGBTQIA+ é uma conquista muito gratificante”, afirmou.
Para o coordenador, a principal conquista nesses 12 meses de trabalho foi a abertura da gestão para que fosse possível receber e acolher a comunidade LGBTQIA+ com respeito e tratamento igualitário, além de proporcionar a difusão de informações, levando conhecimento à população sobre seus direitos e deveres. “Em tão pouco tempo pudemos contribuir com fatores primordiais, como a abertura de uma política inclusiva com o Capacitar Trans, o Ambulatório Diatrans, em parceria com a Secretaria de Saúde, que é o primeiro do Grande ABCD, reconhecimento do nome social, o lançamento do webdocumentário Vidas Trans Importam, a implementação da Ouvidoria LGBTQIA+, a campanha de retificação de nome e gênero ‘Diadema Meu nome importa’, são alguns dos exemplos da nossa atuação”, citou.
A coordenadoria também tem atuado no incentivo da retomada dos estudos pela população LGBTQIA+, no caso em que as pessoas ainda não concluíram a formação básica, para que cada vez mais elas possam participar dos cursos profissionalizantes na Fundação Florestan Fernandes. “Acho que o principal movimento é o de abrir a porta da prefeitura para fazer as escutas e dar espaço de voz e vez. Isso sim é falar em democracia participativa, onde colocamos os protagonistas destas histórias em primeiro lugar”, frisou Robson.
Entre as pessoas que têm sido atendidas pela Coordenaria, o sentimento é de gratidão. “Eu imaginava que com toda a formação e experiência que eu tenho não haveria tanta dificuldade em encontrar um emprego”, citou Emily, que participou o Capacita Trans. Ela relembra que soube pelo programa através de uma divulgação recebida pelo whatsapp e foi durante o curso de capacitação que conheceu a coordenadoria. “Foi uma experiência que me abriu portas e tenho certeza que esse trabalho é muito importante”, avaliou. “Só tenho a parabenizar a todos”, completou.
Para Murillo, o jovem que passou por um episódio de assédio sexual no local de trabalho, ter sido atendido pela coordenadoria e poder registrar a violência que sofreu na ouvidoria foi um alento em um momento de dificuldade. “Fui orientado e atendido muito bem. A gente não se sente só, se sente acolhido, sente que tem alguém por nós do outro lado”, afirmou. O jovem foi encaminhado ao serviço pelo ambulatório. A mãe de Murillo também elogiou o trabalho. “Nós não tínhamos apoio nenhum e esse serviço é uma benção. Fiquei muito feliz e muito contente, o atendimento foi excelente”, afirmou a agente de vigilância em saúde, Cristina Sicupira Costa, 43.
Assim como Murillo, o morador do bairro Eldorado, Henry Castelamary Firmino Pinheiro da Silva, 25, também conheceu a coordenadoria por meio do ambulatório DiaTrans. O munícipe tem sido beneficiado pelos dois serviços: a parte de acompanhamento para o tratamento hormonal no ambulatório e auxílios como acesso a cestas básicas, pela coordenadoria. “Se tivesse nota 1.000 eu daria para eles. Esse desenvolvimento está sendo muito importante, realizando sonhos. O ambulatório foi para mim como uma mãe, onde me sinto eu mesmo. Nós, pessoas trans, precisávamos dessa força”, afirmou.
Para o futuro, Robson destacou o desejo de consolidar a atuação da coordenadoria, que permanece como instrumento de defesa dos direitos da população LGBTQIA+ para além dos governos, na missão de tornar Diadema um município melhor. “Nossos próximos passos são encaminhar para a Câmara Municipal a proposta de criação do Conselho Municipal de Atenção à Diversidade Sexual, para que possamos ampliar a participação dos protagonistas da história e de todos que quiserem aderir a esse trabalho”, pontuou. “A Coordenadoria não é minha ou de uma só pessoa, mas é de todos que lutam por uma cidade acolhedora e respeitosa.”
“Dar continuidade e acompanhar o Protocolo de Atendimento à Pessoa LGBTQIA+ no Hospital Municipal e reafirmar para todos os munícipes que nossa gestão quer a participação de todos, para juntos fortalecermos uma cidade de respeito, pois ninguém faz nada sozinho e apenas em conjunto construiremos oportunidades iguais para todos”, concluiu.
A criação da Coordenadoria da Diversidade em Diadema, avalia Robson, é uma provocação aos outros municípios da região, para que todos possam olhar e agir pela população LGBTQIA+. “São pessoas que ainda continuam escondidas, trancadas nos seus armários e sem oportunidades de fala e serviços adequados. Queremos ser provocadores de uma referência de respeito, onde as oportunidades de garantia dos direitos sejam para todos. Esse é o nosso papel enquanto gestores de Diadema, onde o compromisso é com o cidadão e cidadã de nossa cidade”, completou.
O coordenador agradeceu o apoio do prefeito Filippi, da vice-prefeita Patty Ferreira e do secretário de Governo, Dheison Renan Silva, e toda equipe da administração municipal pelo incentivo ao trabalho. “São essas pessoas que sempre nos animam para que possamos construir um trabalho de respeito e humanizado a todos que nos procuram”, concluiu. A Coordenadoria de Políticas de Cidadania e Diversidades de Diadema fica na Rua Almirante Barroso, 111, Vila Dirce. Telefones 4057-7925 e 4057-7965, e-mail coordenadorias@diadema.sp.gov.br .
Diadema sempre fazendo revolução, parabéns a todos por ouvir a população LGBTQIA+.