Da Redação – Conhecida por sua intensa pesquisa e militância, a Companhia Estudo de Cena pretende levar a público através de uma web-série a história de quem esteve presente e até hoje sofre com as consequências do que ficou conhecido como o Massacre de Eldorado dos Carajás. Através de uma grande imersão no tema e de uma série de apresentações realizadas em momentos especiais e locais emblemáticos, a Companhia registrou fatos e memórias importantes para apresentar a ótica de quem está diretamente relacionado a este que é um dos marcos históricos do Brasil e do mundo, no que diz respeito a luta por terra.
A web-série A farsa: ensaio sobre a verdade é a continuidade da pesquisa da Estudo de Cena que une experimento de linguagem com o tema da memória e violência social no Brasil. A Companhia se debruçou sobre toda a história do Massacre de Eldorado dos Carajás, foi de encontro aos sobreviventes, realizou uma jornada de apresentações em lugares marcantes e agora apresenta à população todo o resultado dessas vivências, que tem como maior objetivo demonstrar outras facetas da história do Brasil e a visão de quem esteve e foi afetado diretamente pelo Massacre. Visões estas, que muitas vezes passam desapercebidas ou até ignoradas pelos livros de história.
A série é composta de 21 episódios de aproximadamente 05’ cada, que serão lançados em ações públicas, acompanhados de apresentações teatrais do grupo. Simultaneamente, os episódios serão disponibilizados na internet via canal do Youtube, para que a população possa acompanhar e conhecer um pouco mais desta história. O lançamento dos episódios serão realizados em 09 cidades diferentes do estado de São Paulo e o público terá acesso a muitas histórias, memórias e fatos intrigantes.
A Estudo de Cena desenvolve ações de audiovisual desde 2005 e a partir de 2010 iniciou a pesquisa com a linguagem teatral. No ano de 2012 o grupo montou o espetáculo de rua A farsa da justiça (adaptação do texto de Sérgio de Carvalho – Cia do Latão), que narra o julgamento fictício de um sobrevivente real do massacre de Eldorado dos Carajás, Inácio Nascimento, que se fingiu de morto para salvar a própria vida.
O fato que ficou mundialmente conhecido como O Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorreu em 1996 na estrada PA-150, no sul do estado do Pará. No dia 17 de abril daquele ano um grupo de trabalhadores sem terra interditou a estrada em um ato pela defesa da reforma agrária. A polícia militar agiu com extrema violência, matando oficialmente 19 trabalhadores e deixando 71 feridos. Entre os feridos estava Inácio Nascimento, que se fingiu de morto, foi jogado no caminhão dos corpos e se revelou vivo apenas quando chegou no Hospital de Eldorado dos Carajás. Posteriormente 02 feridos faleceram, totalizando 21 mortos. O dia 17 de abril se tornou então a data mundial da luta pela terra e por este motivo, a série será lançada exatamente no dia de aniversário de 21 anos do massacre.
No ano de 2006, que marcou 10 anos do massacre, integrantes do setor de cultura do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra criaram, sob a coordenação de Augusto Boal, o teatro procissão, onde quatro peças foram apresentadas. A quarta e última peça era A farsa da justiça burguesa. O teatro procissão ocorreu durante a Marcha Nacional pela Reforma Agrária em Brasília. A apresentação da “farsa,” realizada por bonecos gigantes e coro, ocorreu em meio a forte repressão policial, que tentou dispersar as pessoas com uso da Cavalaria, helicópteros e a Tropa de Choque. Depois da marcha a peça não foi mais encenada.
Seis anos depois, em 2012, a Estudo de Cena retomou o projeto da peça e criou a adaptação para atores e atrizes. O espetáculo teve grande repercussão e foi encenado em diversas cidades e estados brasileiros (AC, PA, SP, RJ). Em abril de 2014 o grupo participou do Acampamento Pedagógico da Juventude do MST, montado no exato local do massacre, na curva do “S” da PA-150. Nesse período foram realizadas 05 apresentações da peça: no assentamento 17 de abril, no centro de Marabá, na cidade de Curionópolis e duas apresentações na curva do S da PA-150. As apresentações na estrada tiveram a participação de um coro de 100 jovens assentados e contou com a presença de sobreviventes do massacre, entre eles Inácio Nascimento, que é representado na peça.
A viagem para o sul do Pará foi documentada por uma equipe de cinema. Nesse processo a Estudo de Cena gerou um material muito importante sobre a história da peça, sobre a peça e acima de tudo sobre a história do Brasil, que agora será disponibilizado na internet.
A web-série é composta por relatos e registros de apresentações, entrevistas com sobreviventes do massacre, ações do acampamento, como a marcha de 300 pessoas pela floresta até o cemitério onde estão enterrados os trabalhadores assassinados, entrevistas com jovens assentados que falam da importância de desenterrar a história, gravação da peça para câmera tendo como cenário o monumento de 19 castanheiras erguido no local do massacre, encontro dos integrantes da Estudo de Cena com Inácio Nascimento em sua casa, na beira da estrada PA-150.
Na volta da viagem o grupo continuou a apresentar o espetáculo e documentar. Em junho de 2016 a Estudo de Cena foi convidada por Julian Boal (filho de Augusto Boal) para apresentar a peça A farsa da justiça no Encontro Internacional de Teatro Político, que ocorreu no Festival da Utopia em Maricá/RJ. No encontro também foi apresentada uma versão da peça realizada por jovens que vivem em assentamentos no sul do Pará. A montagem dos jovens incorpora trechos da encenação da Estudo de Cena. Esse encontro das duas versões da peça foi documentado e foram realizadas entrevistas com os participantes da montagem do MST. Foi constatado que a montagem da Estudo de Cena e sua apresentação em Eldorado dos Carajás reativou o projeto da peça, sendo o texto montado pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra em mais 03 assentamentos do Brasil e apresentado no Encontro Internacional da Via Campesina em abril de 2016. A peça ficou mundialmente conhecida como referência da relação entre arte e sociedade.
A partir desse material se concretizou a ideia de montar a série audiovisual que articula três histórias: o Massacre de Eldorado dos Carajás, a criação e trajetória da peça A farsa da justiça burguesa e a circulação e encenação da versão criada pela Estudo de Cena. A relação dessas três narrativas cria uma reflexão sobre arte e sociedade, arte e história brasileira. E é de extrema importância aos interessados em entender o outro lado da história sobre o Massacre.
Em abril de 2017 se completam 21 anos dessa tragédia brasileira que deixou 21 mortos. Os 21 episódios da série A farsa: ensaio sobre a verdade vão ser lançados a partir de 17 de abril de 2017. O lançamento dos episódios acontecerá em espaços públicos, como assentamentos, universidades, praças e parques de nove cidades do estado. Cada projeção vai ser acompanhada pela apresentação da peça A farsa da justiça da Estudo de Cena. Após o lançamento público os episódios vão ser lançados no canal do Youtube: A farsa: ensaio sobre a verdade. Assine o Canal e participe dessa viagem no tempo e na história junto com a Companhia Estudo de Cena. Mais do que nunca vivemos tempos em que se faz necessário entender e conhecer a história do Brasil. Separe uns minutinhos para refletir sobre a luta por terra e olhar o tema sobre uma nova ótica.
A Companhia Estudo de Cena tem em seu histórico a narrativa de histórias de revoltas populares que não são lembradas pela história oficial do país, mas que pertencem ao imaginário coletivo de parte do povo brasileiro e retratam a diversidade de nossa cultura. Em um dos trabalhos anteriores, o grupo se apresentou com o que ficou conhecido como Barraca de Cena. Com uma estrutura de ferro e lona, um teatro mambembe, o grupo apresentou o espetáculo Guerras Desconhecidas em diversas feiras livres de São Paulo e realizou uma emblemática temporada no sertão nordestino, passando por cidades como Juazeiro, Canudos, Uauá, Euclides da Cunha, Alagoa Grande, Itabaiana e João Pessoa. Se apresentando em universidades, praças e feiras nordestinas típicas de diversas cidades da Bahia e da Paraíba, o grupo fez um convite à memória social, para que através dela houvesse uma reflexão sobre o nosso presente. O espetáculo Guerras Desconhecidas, criado em 2013, apresenta ao público a história de três guerras brasileiras que não aparecem na história oficial de nosso país: a Guerra do Pau de Colher, a Guerra de São Bonifácio e a Guerra do Gatilheiro. Inspirado no caderno “Guerras Desconhecidas do Brasil” escrito pelo jornalista Leonencio Nossa e publicado pelo jornal O Estado de S.Paulo em dezembro de 2010, tem como tema central conflitos sociais da história do Brasil, essas demonstrações coletivas de luta por uma vida digna e por respeito à diversidade cultural brasileira. A obra faz alusão também a escritos dos palestinos Edward Said e Mahamud Darwich, do peruano Aníbal Quijano e do poeta da Martinica, Aimé Césaire.
Conheça o trabalho da Companhia Estudo de Cena, acessando a página do facebook: www.facebook.com/Companhia-Estudo- de-Cena
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