* Isabel Marçal – A “revolução tecnológica”, da qual estamos a bordo, vem transformando o modo como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. O impacto da tecnologia – cada vez maior em nossa rotina diária – trouxe muitas mudanças positivas, porém, é preciso ficar atento aos malefícios que a utilização indiscriminada pode acarretar. Muitos estudos relacionam o tempo de uso da internet com questões de saúde mental. Depressão, transtornos alimentares e suicídio parecem estar ligados à vida online, notadamente ao uso de redes sociais.
Segundo a empresa britânica GlobalWebIndex – que estuda o tempo que usuários passam em redes sociais em todo o mundo – o Brasil é o segundo país que mais fica conectado em redes sociais. Em média, passamos 3 horas e 25 minutos por dia nas redes, atrás apenas dos filipinos, com um pouco mais de 4 horas. Supondo um tempo médio de sono de oito horas diárias, isso significa que usamos 20% do nosso dia conectado em redes sociais.
Existem épocas que as postagens nas redes sociais se tornam mais frequentes e praticamente “obrigatórias”. Quais são elas? Os eventos pré-estabelecidos culturalmente e que se tornaram fontes de bem-estar e realização. Passam por eles, aniversários, férias, Natal, Ano-Novo e Carnaval.
Destes momentos, o Carnaval é tido como um ápice de alegria e satisfação. Na visão antropológica é um ritual de reversão, no qual os papéis sociais são invertidos e as normas de comportamento são suspensas, fazendo com que possam ser realizados desejos reprimidos. No Brasil, essa é a maior festa popular e um dos maiores feriados do ano. São cinco dias, para os mais tradicionais, de momentos de pura diversão, sendo tudo registrado e postado em tempo real. E este é um cenário rico para que as comparações com os outros aparecem, impreterivelmente, quase que automática.
“A baixa autoestima, sintoma bem contemporâneo do sofrimento moderno, se intensifica na relação virtual, ampliando a sensação e a suposição imaginária de que o outro pode, é ou possui o que lhe falta”, afirma psicanalista e colunista voluntária do Instituto Bem do Estar, Mirmila Musse.
De acordo com um estudo da Royal Society For Public Health, do qual participaram 1.500 voluntários de 14 a 24 anos, sendo que 90% deles utilizam mídias sociais, o Instagram é o líder do ranking de redes sociais mais aliadas à sensação de solidão e ansiedade. Além de ser descrito pelos jovens como mais viciante do que cigarros e álcool.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), essa faixa etária é a que mais sofre com problemas de saúde da mente, sendo a depressão uma das principais causas de adoecimento e deficiência entre eles. Enquanto o suicídio é a segunda maior causa de morte entre os indivíduos de 15 a 29 anos de idade.
As redes sociais mexem com o nosso instinto do reconhecimento social, aquela sensação boa que você tem quando recebe muitos likes em uma foto que acabou de postar. Os pesquisadores, do estudo citado acima, apontam que o Instagram é uma rede social muito focada na imagem, por isso, gera sentimentos de inadequação e ansiedade nos jovens. A interação na internet não gera uma recompensa social real – e isso pode levar a pioras em quadros de sofrimento psíquico.
O grande segredo para proteger sua saúde da mente dos malefícios das redes sociais reside em não permitir que sejam substitutas da vida real e da convivência com outros seres humanos. Além disso é necessário que alguns hábitos sejam adotados:
preste atenção em como você se sente nas interações virtuais;
pense em para que elas te servem e o que realmente quer consumir;
restrinja redes que não te tragam benefícios;
estabeleça o tempo que você gostaria de passar em cada rede;
limite onde e quando utilizá-las; e
pratique momentos ou até períodos de desconexão total, periodicamente.
Aproveite o Carnaval para estar presente, curtindo o momento com as pessoas ao seu redor ou até sozinho, descansando. Desconecte-se do mundo paralelo – e por vezes imaginário – das redes sociais e SINTA a alegria do Carnaval. A saúde da sua mente agradece!
* Isabel Marçal é Cofundadora do Instituto Bem do Estar e especialista em gestão de projetos sociais, com 15 anos de experiência no setor de Impacto Social
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