Cada vez mais pessoas são acometidas pelo câncer de bexiga

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São esperados mais de 30 mil casos para o triênio 2020/2022 no Brasil; julho é o mês de conscientização do tumor

Da Redação – Embora o câncer de bexiga seja mais raro se comparado ao de mama e de próstata, cada vez mais as pessoas estão sendo acometidas por essa doença, que já é o nono tumor mais comum no mundo e no Brasil. O mês de julho é o mês de conscientização e combate a este tipo de tumor, que de acordo com estimativa do Instituto Nacional de Câncer (INCA), para cada ano do triênio 2020/2022, serão diagnosticados no país 10.640 novos casos,sendo 7.590 em homens e 3.050 em mulheres.

Esses valores correspondem a um risco estimado de 7,23 casos novos a cada 100 mil homens e de 2,80 para cada 100 mil mulheres. Para o oncologista Vinícius Corrêa da Conceição, sócio do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia, estes números estão relacionados, principalmente, a dois importantes fatores: o envelhecimento da população e o tabagismo. “É importante conscientizar a população para a importância de se atentar para sinais de alerta e sintomas que muitas vezes são negligenciados, mas podem indicar algo mais grave, especialmente em pessoas com mais de 60 anos e que são ou já foram fumantes”, alerta.

De acordo com o oncologista, o câncer de bexiga é muito mais comum após os 60 anos, sendo a média de idade dos indivíduos acometidos de 73 anos.”Com a população vivendo por mais tempo, é natural que esse tipo doença apareça com maior frequência. Sabemos ainda que mais de 70% dos casos de tumores neste órgão estão diretamente relacionados ao uso de cigarro. Embora o número de fumantes venha caindo no país nos últimos 20 anos, ainda temos cerca de 10% da população tabagista, o que representa mais de 20 milhões de fumantes. Os homens são mais acometidos do que as mulheres na proporção de 3:1 e os negros têm um menor risco se comparados aos caucasianos”, explica.

A bexiga é o órgão das vias urinárias responsável por armazenar a urina até o momento de eliminá-la. Muitas substâncias tóxicas que podem estar presentes na urina ficam em contato com a parede de revestimento interno da bexiga e essas substâncias podem causar danos e alterações no DNA dessas células, possibilitando o aparecimento dos tumores. “Algumas dessas substâncias estão presentes no cigarro, como já comentado, mas existem outras tais como os componentes químicos da indústria têxtil, tintas e outras fábricas que lidam com metal, couro, borracha, corantes e plásticos, além de adoçantes artificiais usados na dieta”, alerta Dr. Vinicius.

Segundo o médico descobrir a doença na fase inicial não é uma tarefa fácil. No início o tumor pode não causar qualquer sintoma ou os sintomas são confundidos com outras doenças menos graves, como infecção urinária ou cálculos renais ou de vias urinárias. “Um sintoma que às vezes chama muita atenção é a presença de sangue na urina, mas nem sempre isso acontece.Por isso, todas as pessoas com mais de 55 anos que apresentem essa anomalia devem procurar um médico com urgência”, explica.

Tratamentos e novidades

Cerca de 50% de todos os tumores de bexiga são diagnosticados em uma fase quando ainda não invadiu a musculatura da bexiga. Esse é o momento quando a chance de cura é maior com intervenções relativamente simples. “É necessário fazer uma raspagem da área da bexiga acometida pelo tumor, podendo ou não ser necessário fazer algum tratamento local depois. Esses tratamentos locais podem ser com ONCO BCG (uma espécie de vacina, parecida com a BCG que é aplicada nos bebês para proteger contra a tuberculose). Especificamente sobre a ONCO BCG, o Brasil e o mundo vivem um problema de desabastecimento deste medicamento. No Brasil, o único laboratório que produz essa substância encontra-se fechado pela vigilância por não atender as normas adequadas de produção. Outra opção seria a realização de quimioterapia por infusão dentro da bexiga”, afirma.

Nos casos em que o tumor já compromete a musculatura da bexiga, o tratamento padrão é a retirada cirúrgica da bexiga, podendo ser precedida de alguns ciclos de quimioterapia. E quando o paciente não pode ser submetido à cirurgia, outra opção é o tratamento combinado de quimioterapia com radioterapia.

Quando o tumor já provocou metástase, ou seja, já se espalhou para outros órgãos, o tratamento até há pouco tempo era a quimioterapia exclusiva, com resultados considerados ruins e com muita toxicidade comentou o médico. Porém, novos tratamentos vinham ganhando espaço nesse cenário, principalmente a imunoterapia, masque sozinha também não tinha mostrado resultados tão expressivos.

“Recentemente, em maio de 2020, no Congresso Americano de Oncologia(ASCO), o maior congresso do mundo neste assunto, realizado especialmente esse ano de forma virtual, mostrou os resultados de um estudo que combinou uma droga imunoterápica chamada Avelumabe com quimioterapia no começo do tratamento e, depois de alguns ciclos, mantém apenas a imunoterapia. Essa combinação alcançou resultados nunca vistos quando usado apenas quimio ou apenas imuno e, provavelmente, se tornará o padrão de tratamento quando este esquema estiver aprovado pela Anvisa para ser usado no Brasil”, comemora o oncologista.

Dr. Vinicius explica também que outro caminho vem se mostrando promissor é a detecção de alterações moleculares no tumor e o desenvolvimento de medicamentos que agem diretamente nessas alterações, a chamada terapia-alvo. “Já existe no Brasil uma droga oral chamado Erdafetinib, que pode ser usado nos tumores avançados de bexiga que tenham alteração em um gene chamado FGFR”, conta.

* Vinícius Correada Conceição é médico oncologista com residência médica em oncologia pela Unicamp, graduação e residência médica em clínica médica também pela Unicamp. Tem título de especialista em cancerologia e oncologia clínica pela Sociedade Brasileira de Oncologia, foi visiting fellow no serviço de oncologia do Instituto Português de Oncologia (IPO), no Porto. Membro titular da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO), da Sociedade Europeia de Oncologia (ESMO), da International Association for the Study of Lung Cancer (IASLC), do Grupo Brasileiro de Melanoma (GBM), e da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas(SMCC).

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