* Pedro Cardoso da Costa – Trata-se se de uma guerra injusta, como qualquer guerra. Como as outras, nesta todos saem perdendo. Essa é bem longa e ainda não acabou e, diferente das demais, teve motivo suficiente que a justificasse.
Começou no longínquo ano de 1998. Após prestar atenção num trecho do livro “Não Erre Mais”, de Luiz Antonio Sacconi, com uma dica de que horas só teria uma abreviatura correta. Seria somente horas com a letra “h” minúscula e quando fracionada, com “h” entre horas e minutos e min, no final. Assim: 10h, 18h, 24h ou 10h10min, 11h11min ou 00h16min. As demais formas eram inglesas e norte-americanas, em razão de representação digital, ou invencionices brasileiras.
Passei a prestar atenção quais meios de comunicação tinham a preocupação de escrever da forma correta. As revistas Veja e ISTOÉ não escreviam; os jornais O Estado de São Paulo e a Folha de S.Paulo, também não. Do mesmo modo o ex-impresso Jornal do Brasil e O Globo, meu oponente atual. E todos os outros veículos de comunicação. E, ainda, essa forma errada aparecia nos telejornais, nas novelas, e em toda a mídia brasileira. O erro era seguido até por sites de relevantes órgãos públicos, como o da própria Presidência da República, da Câmara dos Deputados, do Senado. Os do Supremo Tribunal Federal-STF e da Confederação Brasileira de Futebol-CBF que mantêm o erro até hoje. O pior era que o erro se repetia até nos sites das secretarias e no do Ministério da Educação, órgão máximo responsável oficialmente por essa área. As igrejas erravam nos horários de missas e cultos.
Naquele ano de 1998, escrevi um texto com o título do livro e o encaminhei aos jornais, especialmente aos citados questionando a existência do erro, já que se fosse representado da forma correta, facilitaria para que os leitores passassem a escrever também corretamente. Fiz o mesmo encaminhamento aos governos estaduais, prefeituras e até para o Ministério da Educação. Cheguei a entregar algumas cópias do texto às empresas que confeccionam faixas e cartazes.
Alguns veículos de comunicação corrigiram imediatamente. Outros, não. Alguns mantinham os erros apenas em determinadas seções, especialmente nas de classificados. Mas seguimos em frente.
Algumas mudanças foram apenas para trocarem de erro e isso perdura até hoje. Passaram, principalmente, a representar “10:30h”. Mas houve avanço a ponto de até os postos de combustíveis grafarem corretamente o atendimento de 24h. Aliás, cobro muito dos postos em todos os sentidos, devido ao atendimento contínuo e o tempo que as pessoas ficam para abastecer.
O Jornal O Globo trocou a abreviatura de minutos por metro, “m”. Já escrevi inúmeras vezes para os e-mails do jornal, mas o erro permanece. Já liguei, mas teima em manter o erro. Não imagino que seja pelo poder que queira mudar até a regra gramatical. Só que enquanto não altera a regra, deveria corrigir. Enquanto isso, outros veículos de comunicação mantêm nome de mês com letra maiúscula, dia de semana como segunda, terça e não terça-feira, quarta-feira e assim segue o festival de erros gramaticais em todo o país.
Não sou especialista no assunto. Embora toda guerra seja desumana e injusta, essa ainda é mais desigual. O conjunto de “os Globos” aparece diariamente para milhões de pessoas e um ser comum não é visto por ninguém. Mas como o erro não tem força, por ser erro, esta formiga precisa vencer o elefante. Várias batalhas foram perdidas, mas a guerra deverá ser vencida pelo bem de todos.
* Pedro Cardoso da Costa é Bacharel em Direito e morador de Interlagos, em São Paulo
Nenhum comentário on "Caçada ao erro maior"