Da Redação – Entre milhares de inscritos, o curta metragem brasileiro “Não Olhe Para Trás” foi um dos selecionados do SFC-“Short Film Corner/2020” para exibição na concorrida ‘Mostra’ ligada ao Festival de Cannes, que é considerado o mais importante do mundo.
O SFC carrega os altos valores de Cannes e conta com a presença de centenas de cineastas de todo o planeta. Um momento aguardado por toda a indústria cinematográfica internacional.
Escrito, dirigido e produzido pela jovem cineasta Malu Portela (com estudos pelas New York Film Academy/EUA, UFF/BR e Escola de Cinema Darcy Ribeiro/BR), conta a realidade de uma menina de 16 anos, venezuelana grávida de 8 meses.
Na trama, a protagonista tem apenas 24 horas para atravessar a fronteira com o Brasil e fugir das estatísticas mortais de bebês e parturientes, no país bolivariano. Segundo dados oficiais do Ministério da Saúde daquela nação; em 2016 a mortalidade de bebês foi de 30%, e a de mães, 65%.
É bastante comum inúmeras jovens, grávidas, cruzarem a fronteira de ônibus ou a pé, por quilômetros intermináveis.
Em 2017, 566 bebês nasceram brasileiros; em 2018, 1.603; e em 2019, 1.598. “Não Olhe Para Trás” levanta uma voz sobre tal realidade e, por exigência da trama, foi rodado em dois idiomas; português e espanhol.
Numa declarada homenagem narrativa a 2 de seus mestres: Rui Guerra e Martin Scorsese, a diretora de apenas 26 anos, realizou em seu “debut”, um filme consistente socialmente e de avançada consciência política, sem apelo ideológico.
Um enredo quase documental mas absolutamente metafórico, conjugando os gêneros: ‘drama, surrealismo fantástico, estrada e maioridade’.
Para identificar as atrizes mais adequadas aos papéis, Malu percorreu por vários dias a Rua Uruguaiana/RJ (local onde muitos latinos sobrevivem como camelôs). Mas foi com a ajuda do Projeto Cáritas, para refugiados, que obteve êxito.
A atriz principal, Nazareth Gonzáles, tem apenas 15 anos de idade e, assim como a sua mãe na trama e na vida real (Norma Gonzáles), são refugiadas venezuelanas.
Durante 2 meses consecutivos, Nazareth recebeu aulas exclusivas em regime ‘full time’, com o “coach” de atores, Jorge Silpen.
Em um trabalho minucioso de preparação, Nazareth participou (3 vezes na semana) de sessões de cinema, acompanhadas pela Malu Portela. “A ideia foi faze-la conhecer grandes interpretações juvenis, e a desafiar, como atriz”, revela a diretora.
O resultado surpreende; a menina Nazareth Gonzáles impressiona com uma atuação de gala.
A viabilidade econômica do filme ocorreu na França. Para conseguir os recursos do curta, Malu Portela trabalhou em Paris como garçonete, recepcionista de eventos e professora de línguas, concatenando seu tempo como estudante na Universidade de Sorbonne. Mas todo o sacrifício valeu a pena.
Com 15 minutos de exibição (sob chuvas torrenciais) e ao custo total de 12 mil Euros, a película foi gravada em Aldeia Velha/RJ-Brasil, com mais de 60 pessoas envolvidas no projeto. Da equipe técnica rigorosamente selecionada, a maior parte foi constituída por mulheres, algo incomum.
“Não Olhe para Trás” surpreende pela originalidade do tema e pela rebuscada linguagem cinematográfica. Um filme para refletir!
Nenhum comentário on "Brasil está no Short Film Corner 2020 com “Não Olhe Para Trás”"