Cantor e compositor faleceu no Rio de Janeiro neste sábado (6), aos 88 anos
Da Redação – A Música Popular Brasileira está mais triste neste final de semana. Morreu neste sábado (6) o cantor e compositor baiano João Gilberto, considerado o criador da Bossa Nova, que levou a música brasileira a emplacar no hit parade internacional. A morte foi confirmada pela cantora Bebel Gilberto, sua filha, e pelo filho Marcelo Gilberto, nas redes sociais.
Depois de muitas disputas judiciais com familiares, tendo sido inclusive interditado judicialmente pela filha Bebel Gilberto, João fez seu último show em 2008 e passou a viver apenas com a companheira moçambicana Maria do Céu Harris, no seu apartamento no Rio de Janeiro.
Na última semana de vida, João Gilberto confirmou a sua tese de durão e de poucas palavras. Na última terça-feira (2), o cantor foi foi levado pelo advogado Gustavo Carvalho Miranda e pela companheira, a moçambicana Maria do Céu, à churrascaria Mariu’s, no Leme, onde jantou frutos do mar, seu prato predileto.
A reclusão, os problemas de saúde e as disputas na família foram assuntos sobre João impulsionados na mídia na mesma medida em que sua distância das aparições públicas aumentava. Em entrevista à BBC News Brasil publicada em março, Roberto Menescal, amigo antigo de João Gilberto, afirmou que não tinha notícias dele há anos. “Recluso ele sempre foi. Mas, nos últimos anos, chegou ao máximo da reclusão”, lamentou.
O jornalista e pesquisador Ricardo Cravo Albin também relatou tentativas de aproximação. “Há uns cinco anos, liguei para o João. Ele atendeu, mas disse que não estava. Respeitei. Dias depois, a pedido do Otávio Terceiro, seu antigo empresário, voltei a ligar. Ele atendeu de novo e disse que o João não estava. Pô, a voz do João é inconfundível!”, lamentou o musicólogo.
A Carreira
De volta ao Rio, ainda desconhecido, João Gilberto começou a se aproximar de nomes importantes da cena musical, como Roberto Menescal e, depois, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, estes dois compositores da música que consagraria João, Chega de Saudade.
Este era também o nome do disco de estreia do baiano, que começou a ser gravado nos estúdios Odeon em 1958 e foi lançado em 1959. Em março, nos 60 anos de estreia do LP, a BBC News Brasil publicou os bastidores da produção da obra.
O começo
Em uma outra reportagem da BBC News Brasil, o produtor musical André Midani – que morreu em junho e foi um dos nomes mais importantes da indústria fonográfica brasileira nas últimas décadas – lembrou de seu primeiro encontro com João Gilberto, em 1957.
“O Dorival (Caymmi) chegou ao estúdio da Odeon, me chamou e fomos para a minha sala. Nisso, apareceu também o Aloysio de Oliveira, que era diretor artístico. Dorival disse: ‘Gente, tem um menino que veio da Bahia, calado, conversa pouco, mas que canta demais. E tem uma divisão revolucionária. Vocês precisam ouvir isso'”, contou Midani.
“Marcamos um encontro e, no dia combinado, o Dorival chegou com aquele sujeito, que eu não sabia nem o nome. Conversamos um pouco e nada do moço abrir a boca. Até que em um determinado momento, o Dorival falou ‘João, toca aí um pouco, porque eles querem ouvir o que você faz’. Ele tocou e o resto é história”.
Ganhando o mundo
Havia uma veia internacional na bossa nova, o que logo deu frutos como, em 1961, o lançamento nos Estados Unidos do álbum de João Gilberto Brazil’s Brilliant. Em 1962, o brasileiro se apresentou no Carnegie Hall, influente sala de concertos em Nova York; e em 1964, lançou em parceria com o saxofonista americano Stan Getz um disco.
Já no início da década de 60, o músico começou a fazer turnês pelo mundo. Também viveu fora por quase duas décadas, principalmente nos Estados Unidos, voltando para o Brasil definitivamente em 1979.
Morando no Rio de Janeiro, fez mais parcerias com nomes da música brasileira, como com Caetano Veloso, Gilberto Gil e Maria Bethânia no álbum Brasil; além de turnês no exterior.
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