Borracha: um caso de amor e traição nas arquibancadas do ABC

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* Carlos Alberto Coquinho Bazani – Você se lembra de Agenor Pereira Franco? Não? Talvez os mais antigos torcedores do Ramalhão sim. Afinal, o Senhor Agenor, o conhecido Borracha, era torcedor símbolo do Ramalhão, o EC Santo André. Alegre e bem arrumado, Borracha levava uma mensagem de paz e amizade às arquibancadas do Bruno Daniel, ou mesmo de outras praças esportivas. Borracha, se estivesse vivo, estaria hoje com mais de 80 anos.

12312115_1747662165468464_930627546_nPai de três filhos, negro, magro, alto, sempre elegante, trajando terno azul ou branco, gravata borboleta e chapéu clássico. Borracha tinha orgulho de ser considerado o torcedor símbolo do Ramalhão. Quando o time jogava no estádio Bruno Daniel, dava a volta olímpica na pista do Estádio, cumprimentando os minguados torcedores do Santo André, e era efusivamente saudado e aplaudido pela torcida andreense.

E no dia 25 de novembro de 1979, Borracha tentou fazer a mesma coisa na casa do adversário, mas não deu muito certo. O Santo André foi a São José dos Campos enfrentar o forte time da casa, no Estádio Martins Pereira. Foi um jogo de muitas emoções e violência, que terminou empatada em 1 a 1. Foi quando Borracha teve uma infeliz ideia.

Ele e uma torcedora da organizada local entraram no gramado, cada qual com a bandeira do seu clube, para dar dar a tal volta olímpica, e assim  amenizar o clima de guerra e aliviar a tensão pré-jogo. Alguns elementos da torcida uniformizada local invadiram o campo e agrediram o Borracha e sua bandeira foi reduzida a trapos.

Nos anos 80, sem muitos recursos financeiros e com dificuldades para manter a família, esposa e três filhos, tomou uma atitude inusitada: virou a casaca e se tornou torcedor símbolo do Saad EC, um dos maiores rivais do Ramalhão. Borracha aceitou a proposta do industrial Felício Saad, presidente do clube de São Caetano, recebendo uma casa e uma substancial ajuda de custo mensal.

Depois do ‘chapéu’ no Santo André, ele ganhava a vida fazendo bicos, entregando intimações emitidas pelos Distritos Policiais de Santo André. Os anos se passaram e o velho Borracha nunca mais foi visto em nenhum jogo de futebol. Mas a sua humildade, alegria e o amor pelo Ramalhão, apesar de ter se bandeado para os lados do Saad, fazem muita falta até hoje nas arquibancadas do velho e ainda não reformado estádio Bruno José Daniel.

 

12182080_1737990406435640_1159220129_n* Carlos Alberto Coquinho Bazani é natural de Santo André. Atuou como assessor parlamentar e político. É membro do Conselho de Cultura de Santo André e colaborador dos veículos Jornal Informação Resumo Jovem, Gazeta do Grande ABC, Orion FM e Cocknews, além de coordenador do Bloco O Beco do Conforto. Contato com o colunista: coquinhobazani@hotmail.com

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7 Comentários on "Borracha: um caso de amor e traição nas arquibancadas do ABC"

  1. Andreense

    Não concordo com o trecho que diz “minguados torcedores do Santo André”, afinal, se hoje o Santo André não leva muitos torcedores ao estádio, nenhum time fora do eixo dos queridinhos da mídia levam. (Graças diga-se de passagem a imprensa que temos hoje e que só dá destaque aos times do clube dos 13 e olhe lá, pois estão querendo migrar os torcedores de hoje para Barcelona, Real Madrid, Manchester U. Chelsea e outros enlatados). Porém nos anos 70 e 80 sempre levamos bom número ao Bruno Daniel.
    Outro ponto que merece destaque é que segundo dizem, o Saad nunca honrou o acordo com o Velho Borracha e ele até tentou voltar a frequentar o Bruno Daniel, mas a torcida do Ramalhão não o perdoou pela virada de casaca.

    • CliqueABC

      Olá Ramalhão. Quero dizer que foi uma colocação de um repórter esportivo que acompanhou com paixão o esporte, em especial o futebol no Grande ABC. E quero que saiba que sempre achei muito esquisito que uma região tão forte, ao menos tenta parecer ser, não ter um time forte no futebol profissional. Pelo Caderno SPABCD, veiculado pela Folha de S.Paulo, com redação na Barão de Limeira, cobri muito o Grêmio Mauaense, o Palestra e o São Bernardo, escrevi sobre alguns clássicos memoráveis entre esses dois times de São Bernardo, também vi de perto o Santo André, que depois de um time espinhoso e difícil de ser batido veio caindo numa sequência sem fim de maus resultados, comentários sobre dirigentes e cartolas, perdeu público e até mesmo o lugar na A!. Depois veio o São Caetano, que também alterna bons e maus momentos no Paulistão. Veio então o São Bernardo, que foi um Furacão de Torcida, com ingressos pagos pela diretoria e depois foram trocados por gêneros para o Banco de Alimentos, mas que agora pode haver um racionamento nos ingressos. Escrevo tudo isso para dizer que acompanhei e sou amigo pessoal de integrantes da Fúria e da Dragão Andreense, mas infelizmente, com o público que comparecia aos jogos, falando sem paixão, não sustenta um futebol de primeira linha. Mas quero dizer que apesar dos minguados, não se pode desprezar o amor, a abnegação e até mesmo as dificuldades dos torcedores do Ramalhão, que espero possa voltar a ser grande. Um grande abraço, e obrigado por sua participação na coluna Do Fundo do Baú. E quanto ao Borracha, agora eu entendo o motivo de o Torcedor Símbolo ficar tão distante das uniformizadas, como se estivesse sem jeito em festa de outros. Você explicou para mim, e para muitos leitores, o motivo do distanciamento da torcida do Ramalhão com o Borracha.

  2. Edson

    Desculpe, mas também não posso concordar com “minguados”. Frequento o Bruno Daniel desde os anos 70 e até a metade dos 80 sempre lutamos nossa casa. Sempre fomos nos jogos fora em bom número. Em 2001, a média de público do Ramalhao foi de 7 mil pessoas. No jogo contra o Ituano tinha mais de 11 mil pessoas. Ainda nos anos 80 sempre dividimos o estádio contra os ditos “grandes” e várias vezes fomos maioria. “Minguados” é um termo bastante infeliz. Abraço.

  3. jussara

    Vi algumas mentiras nessa reportagem sobre o velho Borracha….mas hoje não vejo necessidade de debater os erro mesmo porque ele faleceu sem nem um reconhecimento do clube que ele amava mais que tudo nessa vida e foi enterrado com o terno e a bandeira do clube por nós que os amávamos ….ele era meu padrasto e com conhecimento de causa digo que ele só queria ser reconhecido pelo clube

    • Jussara, eu faço parte de um Grupo de Torcedores Pesquisadores da História do Santo André e estamos há tempos procurando alguém da família pra levantar algumas informações…. Se possível entre em contato conosco: punkabc@ig.com.br

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