* Carlos Laranjeira – Houve um tempo não tão distante que a classe política se dedicava a pensar o Grande ABC. O falecido Celso Daniel, criador do Consórcio Intermunicipal de Prefeitos, chegou inclusive a defender um novo perfil econômico para a região, porque, segundo ele, a indústria do automóvel se exauria e a tendência dessa indústria era escassear a oferta de empregos e diminuir o desempenho no ICMS.
Parecia uma predição. Entre os anos 70 e 90 o Grande ABC possuía uma boa classe política que sabia pensar, identificar problemas e resolvê-los razão pela qual experimentou, nesse período, um crescimento industrial espetacular. Hoje quem governa os sete municípios, especialmente São Bernardo, prova com uma profusão de bobagens e frases irrefletidas não possuir ideias, projetos, absolutamente nada.
Vejam o exemplo do presidente da Câmara Municipal de São Bernardo, Pery Cartola, que resume o objetivo do seu trabalho com uma frase em alusão aos cães que ele ajuda a recolher pela cidade: “Nosso mandato é animal”. Esse ajuntamento de palavras não passa ao cidadão nenhuma esperança por uma cidade mais justa capaz de gerar renda e emprego aos que a constroem. Não passa ao menos promessa de realizar um trabalho para oferecer uma vida melhor.
Inconsequente, destituída de bom senso, a frase transmite ao contribuinte a ideia de que o cão – e não o eleitor ou o pagador de tributos – está acima de suas preocupações. Então, o que esperar de uma Câmara de Vereadores cujo presidente se encontra preocupado, sobejamente inquieto, com os rumos dos cães e gatos da cidade e não com a população?
Como se essa bobagem já não fosse suficiente, o prefeito Orlando Morando distribuiu há poucos dias um jornal no qual comunica que sua gestão tem economizado 1 milhão de reais ao dia, mas não explica se essa política de contenção de gastos vai continuar durante os seus quatro anos de mandato ou até pagar a eventual dívida herdada da administração anterior. Nem torna claro se ela se destina ao cumprimento de suas promessas de campanha ou à correção da defasagem salarial do funcionalismo.
Se o propósito do jornal com 16 páginas feito em papel de 75 gramas e em quatro cores, a um custo no mínimo de 2 reais cada, era só para comunicar à população o controle de gastos, não havia necessidade de fazê-lo. Bastava o prefeito conceder uma entrevista coletiva à imprensa, que o efeito seria praticamente igual, além de proporcionar uma economia a mais.
Todavia o açodamento não o leva a refletir, a pesar os prós e contra antes de decidir, então – a exemplo de Pery Cartola – faz bobagens.
* Carlos Laranjeira é jornalista e autor entre outros do livro Geraldo Faria: Tempos Difíceis
E o salário do Morando ultrapassa os R$ 30.000,00!