Da Redação – Os pais de Yuri Mendes de Souza tiveram de esperar 12 anos até conseguir ouvir o filho dizer pela primeira vez as palavras “mamã” e “papá”. Como sequela do medicamento que tomou para tratamento renal, ainda bebê, Yuri ficou surdo. Mais tarde viria o diagnóstico de autismo.
Yuri, hoje com 13 anos, está matriculado na Escola Municipal de Educação Básica (Emeb) Arlindo Miguel Teixeira, no Alvarenga, e é atendido pelo Centro Especializado em Reabilitação (CER) de São Bernardo, no Jardim Hollywood. “Nunca imaginei que um dia ele iria dizer mamã. Chorei de alegria”, diz a mãe do garoto, Maria Rita da Silva Santos.
A família, que é natural do município de Rio do Pires (Bahia), veio para São Paulo em 2003 para dar continuidade ao tratamento renal de Yuri. Já o diagnóstico de deficiência auditiva de grau severo foi feito quando o menino tinha apenas um ano. “Notamos que havia algo errado, pois não conseguíamos nos comunicar. Mesmo assim, não me desesperei, pois tinha fé que iríamos superar isso”, afirma a mãe.
Foi depois da mudança da família para São Bernardo, em 2005, que uma psiquiatra da rede municipal de saúde encaminhou Yuri para o CER. Maria Rita lembra que, até então, o menino era um pouco agressivo por conta da dificuldade de se comunicar com a família, além de não conseguir se socializar.
Com as consultas semanais com a equipe interdisciplinar do CER – formada por fonoaudióloga e psicóloga –, Yuri apresentou melhoras em diversos aspectos, principalmente na socialização e na comunicação. “Ele precisava se reconhecer como pessoa que tem deficiência auditiva para que pudéssemos ajudá-lo a desenvolver a questão da socialização”, afirma a psicóloga Gilmara Castro.
Yuri faz parte de um grupo de 55 pacientes encaminhados pelo CER para escolas, cursos profissionalizantes ou mesmo o mercado de trabalho. “Nosso objetivo é mostrar que esses pacientes têm condições de estudar e trabalhar. Para que isso ocorra, o apoio da família é muito importante”, destaca a psicóloga.
Gilmara lembra que, paralelamente ao atendimento aos pacientes, também é oferecida assistência aos familiares, que são estimulados a participar de grupos de discussão para que possam trocar experiências sobre os cuidados com os filhos. “Em muitos casos, os pais estão fragilizados e acreditam que os filhos não terão capacidade de ter uma vida. Esses grupos, junto com o acompanhamento terapêutico, acabam mostrando o contrário”, garante.
O CER realiza diagnóstico, avaliação, orientação, estimulação precoce e atendimento especializado em reabilitação para pessoas com deficiência física, intelectual, visual e auditiva. O atendimento é realizado por equipe de 70 profissionais que realizam, em média, 4.400 atendimentos mensais, envolvendo 720 pacientes em reabilitação. Os pacientes são encaminhados para a unidade a partir da rede municipal de saúde.
Busca de vitórias – A mãe lembra ainda que a família participou de aulas de Libras oferecidas pela Prefeitura de São Bernardo, o que ajudou na comunicação com o filho. “Antes a gente tentava se comunicar, mas se não entendíamos o que ele queria nos dizer, o Yuri se estressava. Isso não ocorre mais”, diz.
Aluno em uma escola regular da rede municipal de ensino, Yuri conta com uma intérprete de Libras para auxiliá-lo em sala de aula. “Sem contar que ele causou uma revolução na escola. Agora há placas com indicações em Libras e os demais alunos o auxiliam. Ao invés de excluí-lo, eles o incluíram”, frisa Maria Rita.
A mãe relata que nunca viu a deficiência do filho como um problema, mas sim como uma forma de buscar vitórias para o desenvolvimento dele. “Acredito muito no Yuri e tenho fé que ele vai conseguir estudar e que, cada vez mais, conquistará sua independência.”
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