Anacã Cia de Dança põe foco no jazz e traz EleEla ao Municipal de Santo André

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Da Redação – Se a Anacã Cia de Dança está engatinhando em seus primeiros passos – EleEla é seu segundo trabalho, o primeiro foi Principiar em junho de 2013 – seus dirigentes, juntos, somam mais de sete décadas de trajetória profissional dedicada à dança. Não é pouco. Com direção do coreógrafo Edy Wilson e direção geral de Helô Gouvêa, EleEla coloca o jazz no foco e o resultado pode ser visto no espetáculo que a companhia apresenta dias 30 e 31 de julho de 2016, no Teatro Municipal de Santo André (Pça IV Centenário, Centro, Santo André), grátis. As apresentações com entrada franca fazem parte do Projeto de Circulação Estadual do espetáculo “EleEla”, com incentivo da Lei Rouanet e patrocínio do Banco Itaú.

Para falar de amor, Edy inicia o espetáculo subvertendo a ciência: é a mulher que nasce do homem, e não o contrário. Daí surgem as cenas que permeiam o espetáculo sobre o amor ideal e da (falsa) ideia do príncipe/princesa encantado (a) que bate à porta. A partir de um conto de Moisés Vasconcelos, Edy Wilson criou 11 cenas acerca da diversidade de elos estabelecidos entre os gêneros masculino e feminino, em como cada um conceitua o amor. Para concretizar a ideia no palco, Edy convidou Úrsula Félix para criar o figurino, Raquel Balekian para a luz, Divanir Gattamorta na música e Lucas Simões na cenografia.

A companhia, desde a estreia em 2015 no Teatro Alfa, em São Paulo, já percorreu duas cidades, Santos e Jundiaí, e até final de outubro estará em Santo André, Jacareí, Bauru, São José do Rio Preto, Araraquara e Praia Grande.

A Anacã Cia de Dança – Edy Wilson E Helô Gouvêa – Helô Gouvêa e Edy Wilson são os dois artistas responsáveis pela ‘criança’ Anacã, que vai completar três anos de vida em 2016 (sua fundação foi em agosto de 2013). Ambos trilharam caminhos diferentes na dança, mas a partir de 2012 uniram-se para criar a companhia que colocaria o jazz na pauta da dança novamente. Assim nasceu a Anacã Cia de Dança, que abraçou o jazz como linguagem-motriz e é composta atualmente por 16 bailarinos jovens, com idade média entre 20 e 23 anos. Além dos artistas que compõem o grupo, há 40 alunos bolsistas que integram o projeto.

Com 31 anos de carreira profissional, Edy Wilson teve sua primeira experiência profissional em Assis, com Charlie Linhares, quando integrou o Corpo de Baile Municipal da cidade. Nessa cidade também graduou-se em Educação Física, o que foi bastante importante para seu amadurecimento corporal. Em 1993, viajou pela primeira vez ao Festival de Dança de Joinville quando conheceu Roseli Rodrigues (1955-2010), coreógrafa da Raça Cia. de Dança e referência no desenvolvimento de uma linguagem brasileira de jazz dance, marcada pela criação de obras que apostavam na polirritmia e na orquestração de grandes grupos. Com ela Edy montou coreografias, ganhou prêmios e em paralelo, atuou como preparador corporal dos atores dos musicais “Vitor ou Vitória” (2001), estrelado por Marília Pêra e dirigido por Jorge Takla, e “Godspell” (2002), dirigido por Miguel Falabella, além de ter participado de montagens de vários shows pelo Brasil.

Com suas obras autorais, Edy conquistou prêmios de melhor coreógrafo em importantes eventos como o Passo de Arte (2001) e o Festival de Dança de Joinville (2006), o que lhe garantiu uma participação na Bienal de Dança de Lyon, na França. “Tive uma influência muito grande da dança contemporânea, mas isso veio do próprio jazz, que permitia a criação de um movimento a partir de outro, ou seja, você nunca precisava imitar ou reproduzir o mesmo movimento sempre. Assim meu jazz ficou um pouco contemporâneo”, avalia o coreógrafo que, no ano seguinte, estreava Principiar, seu primeiro trabalho à frente do novo grupo, e agora está envolvido na criação de EleEla.

Helô Gouvêa completou em 2015, nada menos que 45 anos de dedicação à dança. Sua paixão pelo jazz veio junto com seus anos de intercâmbio com os mestres americanos, nos meados dos anos 1970 e 1980, quando viajava aos EUA e trazia para o Brasil as novas técnicas difundidas pelos professores de lá. Assim foi com Lennie Dale (1934-1994), ex-dançarino do mestre da Broadway Jerome Robbins (1918-1998) e criador do lendário grupo Dzi Croquettes. Helô, nessa época, viajou por inúmeros estados brasileiros criando escolas, dando aulas, compartilhando a técnica que alimentava sua alma: o jazz.

Helô teve professores e parceiros de aula ilustres – e ícones de suas gerações – como Renée Gumiel (1913-2006), Kitty Bodenheim (1912-2003), Klauss Vianna (1928-1992), Joyce Kermann (1955-2006), Mônica Japiassú, Ruth Rachou, entre outros grandes nomes. Na turma com Renée, era a caçula nas aulas em que que os alunos eram Thales Pan Chacon (1956-1997), Ivaldo Bertazzo e Célia Gouvêa. Anos mais tarde deu aulas para a atriz Claudia Raia e para a empresária Ana Maria Diniz, hoje sua sócia no Estúdio Anacã, escola profissional que reúne mais de mil alunos em aulas disputadas, atualmente em duas unidades paulistanas: uma na Avenida Brasil e outra na Avenida Henrique Schaumann.

Sobre EleEla – Logo de início, o coreógrafo apresenta sete casais para representar um nascimento às avessas: em vez de ser da mulher que nasce o homem, é do homem que nasce a mulher – uma alusão ao mito de Adão e Eva, que inaugura as possibilidades de relação entre homens e mulheres. Na visão de Edy Wilson, a atração é o que norteia desde o princípio esses dois indivíduos.

Existe um homem ou mulher ideal para cada pessoa? O coreógrafo quer desconstruir a ideia do príncipe encantado que bate à porta. Do jogo de sedução às promessas de amor eterno, dos olhares ao desejo, da Cinderela às farras amorosas e sexuais; todas essas fases são atravessadas pelo amor, pelo arroubo do sentimento, mas vividas e sentidas diferentemente por cada um dos gêneros. “A ideia do ‘príncipe’ ou ‘princesa’ ainda é atual para muita gente. Existe um homem/mulher ideal na cabeça das pessoas, mas as buscas por essa metade idealizada frustram, porque não se concretiza nunca”, explica o coreógrafo.

“Todos eles sentem o mesmo desejo, mas com intensidades diferentes. Quero mostrar outras nuances de atitudes de desejo”, diz Edy Wilson. O início do espetáculo também apresenta o vocabulário de movimentos com os quais vai trabalhar dali em diante, como a dança jazz sendo pontuada em meio à construção de uma cena absolutamente contemporânea.

A partir daí o coreógrafo passeia por diferentes formações, entre solos, duos e trios e, especialmente, conjuntos para explorar temas como a dualidade entre homem e mulher, os jogos de sedução entre essas duas figuras, a sensualidade, a ilusão e a ingenuidade do amor romântico. “Dessa vez irei para outra estrutura, diferente do que ocorreu em Principiar onde há mais solos duos, trios… Agora construirei as cenas com mais conjuntos”, explica.

O figurino desenvolvido por Úrsula Félix se alinha com essa concepção. Por mais de dez anos ela atuou como diretora criativa do ateliê de Tânia Agra, que, além de sua mãe, é uma das mais conceituadas figurinistas de trajes de balé clássico do país. Para EleEla, Úrsula desenvolve um design que migra gradualmente, a cada cena, de tons terrosos para tons quentes, com destaque para os sapatos de salto que as bailarinas ostentam nos pés – um ícone jazzístico por excelência.

Conhecido por seu trabalho na criação de músicas voltadas para dança contemporânea, o músico Divanir Gattamorta, do Departamento de Artes Corporais da Unicamp, se arrisca pela primeira vez na composição para uma obra de dança jazz. Ao misturar influências, ele trilha um caminho nada óbvio para o gênero, desafiando o ouvido dos bailarinos, convocados por Edy Wilson a imprimirem suas individualidades em cada movimento.

Serviço – EleEla, da Anacã Cia. de Dança, dias 30 e 31 de julho, no Teatro Municipal de Santo André – Antônio Houassis (Praça IV Centenário – Centro/ Santo André/ SP) – Duração: 60 minutos. Sábado às 20h e domingo às 18h. Classificação: 12 anos. Entrada Franca

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