Combinação com células de insetos pode ser alternativa de baixo custo para a produção de testes e vacinas para o combate às doenças hepáticas no Brasil
Da Redação – A partir de materiais biotecnológicos, Bruno Carrijo, estudante de Medicina do Centro Universitário de Brasília (CEUB) desenvolveu testes moleculares que detectam o vírus da hepatite B, causador de doenças hepáticas como a Cirrose Hepática e Carcinoma Hepatocelular (câncer), com maior especificidade. O experimento, que utilizou como ferramenta biotecnológica a combinação com o Baculovírus, revela uma opção de simples manipulação e baixo custo financeiro para a confecção de kits de exames e testes para futuras vacinas, visando melhorar as formas de prevenção, diagnóstico e o tratamento das doenças hepáticas no Brasil.
A pesquisa “Teste imunológico para detecção de antígenos de superfície do vírus da Hepatite B: uma estratégia promissora para desenvolvimento de insumo para diagnóstico” é fruto do Programa de Iniciação Científica do CEUB e foi desenvolvida em colaboração com o Laboratório de Virologia da Universidade de Brasília (UnB) sob supervisão do Professor Bergmann Ribeiro e sob a orientação da Professora Anabele de Azevedo Lima e colaboradores. Para desenvolver a pesquisa, o universitário usou culturas de células de insetos com o vírus recombinante (Baculovírus) contendo a proteína necessária para o diagnóstico. Representando um sistema mais barato e eficiente, o produto utilizado favorece a detecção da Hepatite B.
O experimento testou 25 amostras de pacientes cedidas pelo Laboratório Central do Distrito Federal (LACEN-DF), sendo que as amostras eram positivas para hepatite B com presença do antígeno previamente testadas e identificados de acordo com a doença pré-estabelecida. Nesse sentido, o estudo conclui que a principal vantagem da utilização da proteína analisada é a possibilidade de realizar teste rápido e específico e até mesmo para o desenvolvimento de vacinas.
De acordo com a orientadora acadêmica do projeto, Prof.ª Dra. Anabele Azevedo Lima, as linhas de pesquisa deste projeto visam identificar regiões com capacidade de reagir de forma mais específica, evitando reações cruzada com outros vírus que apresentem semelhança genética com o vírus da hepatite B. “A partir deste estudo, poderíamos, então, propor o desenvolvimento de insumo, como, por exemplo: kits de diagnósticos específicos para este vírus e produção de vacina com uma estratégia molecular diferente da que temos no mercado, com biotecnologia desenvolvida no país”, explica a docente.
Bruno Carrijo destaca que sua principal motivação foi ir além no âmbito da visão clínica, ampliando o olhar para necessidade de investimento em pesquisas científicas, a parte laboratorial e a de diagnóstico.“O trabalho revela a possibilidade do uso desta combinação para a produção de kits diagnósticos e futuramente a elaboração de antígenos vacinais acessíveis contra a hepatite B para a população. É um estudo de grande relevância para a saúde pública brasileira”, completa Carrijo.
O que é Hepatite B?
As hepatites são doenças caracterizadas pela inflamação do fígado e causadas por cinco tipos de vírus (nomeados das letras A à E). A hepatite B permanece uma problemática para a saúde pública, não apenas para o Brasil, mas em todo o mundo, mesmo com a existência de uma vacina eficaz desde 1981. Estima-se que existam 400 milhões de infectados pelo vírus da Hepatite B mundialmente e que de 15 a 40% desses chegam ao óbito anualmente.
Segundo o Ministério da Saúde, de 2000 a 2021, foram notificados 718.651 casos confirmados de hepatites virais no Brasil. Destes, 168.175 (23,4%) são referentes aos casos de hepatite A, 264.640 (36,8%) aos de hepatite B, 279.872 (38,9%) aos de hepatite C e 4.259 (0,6%) aos de hepatite D. O vírus da Hepatite B tem como transmissão a via parental, principalmente por via sexual, sendo considerada uma infecção sexualmente transmissível (IST). Também é possível a transmissão vertical, passada da mãe para o filho durante o parto.
A hepatite B pode evoluir para uma hepatite crônica, trazendo complicações como cirroses ou tumores. Segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde, aproximadamente 5% dos pacientes evoluem para uma cronificação da doença e cerca de 70% de recém-nascidos contaminados por transmissão vertical correm risco de cronificação. As hepatites B e C são as principais causas de doenças hepáticas crônicas, cirrose hepática e carcinoma hepatocelular (câncer), o que representa uma carga significativa para o Sistema Único de Saúde (SUS).
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