Alpharrabio Edições apresenta novo livro – CTPS, de Airton Mendes

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Da Redação – Neste sábado (30), das 11h às 13h, na Alpharrabio Livraria, Editora e Espaço Cultural (Rua Eduardo Monteiro, 151, altura do número 1.000 da Av. Portugal), acontece o lançamento do livro CTPS, de Airton Mendes. O mundo do trabalho visto e escrito por quem dele participou. Sobre o livro CTPS (do posfácio assinado por Tarso de Melo):

Sempre me chamaram atenção, nas páginas iniciais da brochura azul da Carteira de Trabalho e Previdência Social, as seguintes palavras: “As máquinas não respeitam ninguém, mas você deve respeitá-las”. Para além da segurança do trabalho, essa instrução sempre me pareceu guardar um significado mais grave: o respeito pelas máquinas, dentro da fábrica, é um respeito pela máquina de que as fábricas fazem parte.

Agora, ao cruzar este livro de poemas de Airton Mendes, a máquina se desmontou diante de meus olhos. Ela ainda funciona – “não converse/ não discuta/ não desobedeça/ não fume/ não se acidente/ não desligue a máquina// nunca desligue a máquina” –, mas, sabemos, a voz de alguém que nunca se deixou forjar (engolir, moldar, anular) completamente pela máquina é capaz de revelar suas entranhas.

E é muito significativa a radical mudança de perspectiva: quem fala, aqui, é um poeta forjado no corpo, na vida, na luta de um trabalhador. Mesmo nas mais sensíveis páginas da nossa “poesia social”, o leitor está acostumado a encontrar, em geral, versos em que o trabalhador é retratado e representado, em que um poeta (normalmente vindo do mesmo lugar da sociedade de que vêm os patrões) fala pelos trabalhadores. Como se costuma dizer, o poeta “empresta sua voz” aos trabalhadores (como se diz com relação a todos aqueles e aquelas que raramente – cada vez menos, quero crer – puderam falar por si na poesia – e não apenas na poesia). Aqui, não. Airton não quer uma voz emprestada. Não quer que alguém fale em seu lugar. Constrói sua própria voz e retrata a si mesmo, em toda a complexidade de uma vida submetida à(s) máquina(s).

Aqui quem fala é o próprio operário – é aquele que se vê preso entre as páginas da CTPS como entre as paredes da fábrica, essa “prisão multinacional”. De certo modo, é também aquele que se vê preso entre os versos que falam de sua vida, mas o fazem “de fora”, como no famoso poema de Vinícius de Moraes que tanto ecoa no livro. Airton é, sem dúvida, o operário que adquire a “dimensão da poesia”, mas também sabe que, na vida real, “de dentro”, não é tão fácil trocar o “sim” pelo “não”. E, por isso, os ecos dessa poesia que vê a vida operária de fora são soterrados pelo ruído absurdo da fábrica, pela forma como esse ruído se espalha pela vida e pela voz do poeta-operário.”

Trecho da orelha do livro, assinada por Paulo Dantas

“Quando ouço o “velho peão metalúrgico” dizer que “tudo era eu e minhas mãos”, penso que este é um grito de todo um povo (sempre) espoliado na labuta dos dias. Sei também que é o mote, a encruzilhada e o nó a ser desatado por quem teima seus versos e segue em frente, firme, praticando o ofício da poesia “na vida onde o dia é proibido”. É isso que o nosso poeta faz.

uma pequena biografia, segundo o próprio autor

Sou de nome Airton Gonçalves Mendes, ou Airton Mendes ou engenheiro, como na primeira fábrica, por conta das tantas teorias (e nenhuma prática), ou macarrão, na segunda fábrica, pela magreza (saudades), ou ainda sexta-feira, pela altura (a sexta é o dia mais comprido da semana). Na fábrica somos mais os apelidos que nossos nomes. De Santo André, 61 anos, pai do Gabriel e peão metalúrgico por bem uns 45 ou mais. Todos esses anos foram trabalhados e sangrados no ABC, sobretudo em São Bernardo do Campo e Diadema. Sou movido a paixões. Por conta de uma delas, a poesia, formei-me em letras. Dei um cadinho de aulas num novo projeto sonhador e acabei voltando à fábrica… não de poesia, mas de usinagem. Parafraseando o Vinícius, gosto de dizer que sou operário construído e poeta em construção.

Serviço – Lançamento do livro CTPS, de Airton Mendes, poesia, Alpharrabio Edições, 84 pg. 14x21cm – R$ 35,00 o exemplar. Data: 30 de abril de 2022 (Véspera do dia do trabalhador), sábado, das 11h às 13h, na Alpharrabio Livraria, Editora e Espaço Cultural (Rua Eduardo Monteiro, 151 – (altura do nº 1.000 da Av. Portugal) Contatos: [11] 4438-4358 – WhatsApp  97275-7802

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