* Gabriel Clemente – Jornalismo sério deve ser feito e baseado em fatos, inclusive quando se trata de opiniões. Na disputa política, por razões óbvias, até dá para compreender as tentativas de construções de narrativas, mas no tocante à constatação de fatos essas manobras são inaceitáveis.
O bom senso e a lucidez pedem equilíbrio, ponderação e repulsa à negação do óbvio. Isso parece de uma claridade tão intensa quanto a luz solar. Pois bem. Quem minimizou a gravidade do vírus desde o começo ?
Quem pronunciou frases como: “Apesar da vacina…….”, tão logo a Anvisa aprovou o uso emergencial da Coronavac ? A condição presidencial para investimento não era a aprovação pela agência reguladora ? Ué ? Pois bem. Assim que o órgão permitiu a aplicação, o presidente veio com essa.
Quem boicotou a campanha de vacinação o tempo todo, desestimulando os brasileiros a comparecerem aos postos de saúde? Quem associou a pandemia, o tempo todinho, a um “golpe comuno-globalista”? Quem fez deboche sobre as vítimas acometidas pela doença?
Quem menosprezou e ignorou dezenas de contatos de várias empresas farmacêuticas, assim que começou a haver o oferecimento de doses? Certa vez, Bolsonaro disse: “O interesse é delas em vender. Elas que nos procurem.” Mas não foi isso o que ocorreu? Estranho, não?
Claro que CPI carece de certa credibilidade. Afinal, trata-se de uma investigação política, cujo debate acaba caindo na disputa por interesses e na construção de narrativas, no mínimo, duvidosas, mas não dá para negar fatos e ocorrências. Não dá.
Óbvio que o governador de São Paulo, João Doria, não é santo e, certamente, também possui interesses políticos ocultos por trás dessa tragédia sanitária vivida pelo mundo, mas também é fato claro que foi ele que, independentemente de qualquer circunstância, liderou um movimento pela busca de uma solução rápida e eficaz.
Notem que a discussão sobre a tal cloroquina e o ‘kit covid’ restringe-se só ao Brasil. O restante do planeta, mesmo em países cujos líderes encabeçam ideologias de ‘direita’, abstiveram-se de, sequer, discutir a tal ‘panaceia’ defendida por Bolsonaro e seus ferrenhos asseclas.
Claro que ninguém gosta de lockdowns, isolamento e transtornos econômicos. Ninguém. Óbvio que a política do ‘fique em casa’ deve se limitar a quem, de fato, pode se dar a esse luxo. Perfeito. Mas isso não pode, em hipótese alguma, servir como argumentos para ‘liberar geral’, pelo menos por enquanto.
O que causa muita estranheza nesse imbróglio todo é ver ‘jornalistas’ que mais parecem ‘assessores de imprensa’ do governo, fazendo verdadeiras ‘ginásticas mentais’ na tentativa de defenderem o indefensável, ao distorcerem totalmente a realidade e os números. No mínimo, muito suspeito.
Verdade que corrupção mata. Mas e a irresponsabilidade vinda de uma figura pública que, inevitavelmente, dita exemplo? Não mata?
Como todo populista, aliás, a exemplo de Lula, Bolsonaro fortalece o discurso agressivo para fidelizar ainda mais a sua fatia de cegos e fiéis seguidores, com o único objetivo de tentar chegar ao segundo turno no ano que vem. O recrudescimento de uma terceira via não interessa a ambos. A polarização é o cenário político ideal aos dois populistas.
Bolsonaro quer enfrentar Lula num segundo turno e vice-versa. E pobre do povo que ainda só enxerga dois lados para o futuro do país.
* Gabriel Clemente é jornalista graduado pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Atuou como repórter da Rádio ABC, assessor de imprensa político e Assistente de Comunicação Institucional do Centro Universitário Fundação Santo André (FSA)
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