* Fabrizio Postiglione – A legalização da cannabis movimenta quase todos os setores de um país, principalmente a saúde e a economia. Considerando a grande variedade de produtos oferecidos, entender a procedência e a qualidade dos medicamentos é essencial para garantir um tratamento eficaz. Com o mercado ficando mais maduro pelo mundo, as empresas que conseguem manter seus produtos com qualidade e boas estratégias mercadológicas estão se desenvolvendo cada vez mais.
Hoje, vejo que a mídia em países que podemos chamar de mais medicinalmente orientados está focada em informar sobre a importância de checar a qualidade dos medicamentos. É um assunto que deve ser tratado de forma cautelosa pelos meios de comunicação, considerando os estigmas sociais acerca do uso da planta, mesmo com a sua eficácia comprovada cientificamente e resultados extremamente promissores em pacientes.
Podemos verificar que cada país tem uma metodologia de rastreio dos produtos e matérias- primas utilizadas para os artigos finais. Nos Estados Unidos, por exemplo, os cultivadores precisam de uma licença para realizar os processos de desenvolvimento dos insumos com limites de plantas, de acordo com as genéticas e as concentrações de canabidiol (CBD). Já no caso do tetrahidrocanabinol (THC), as licenças são bem mais restritas e limitadas, pois o ativo é a principal substância psicoativa encontrada nas plantas do gênero cannabis.
Depois desse processo, são necessárias novas autorizações para manipular a matéria-prima e começar o procedimento para a fabricação do produto final. Além disso, em muitas regiões do país é necessário encaminhar ou receber fiscais para uma colheita de amostras que serão enviadas a um laboratório certificado para verificar se os níveis de canabinóides presentes são condizentes com a licença em posse. Por isso, muitos certificados de boas práticas e controle de qualidade são utilizados para garantir a melhor qualidade dos produtos.
Entretanto, alguns países mais liberais, que não conseguiram implementar um controle de qualidade, ou que não usam a cannabis e seus derivados como uma ferramenta medicinal, acabam tendo problemas de análise de qualificação. Isso porque alguns podem trazer produtos finais, não são oriundos do cultivo orgânico, logo, podem conter metais pesados e pesticidas químicos em suas composições. Além disso, uma produção não orgânica, que usa pesticidas químicos ou faz o cultivo em um solo contaminado com metais pesados, acaba afetando também os insumos, já que eles absorvem essas substâncias indesejáveis que, logo, estão no organismo.
Nesta linha, também destaco a importância do controle de qualidade, uma informação equivocada no rótulo, por exemplo, pode resultar num consumo errado do produto e, consequentemente, reduzir sua eficácia.Imagine uma embalagem que traga a informação de possuir 3000 mg de determinado ativo, mas na verdade possui apenas 1000 mg, é certo que ele não terá o efeito desejado. Caso seja o contrário, o paciente pode ter reações pela superdosagem.
Essa é uma das partes que considero mais negativas,o produto não traz o resultado esperado por esses tipos de falhas . Além do paciente ter um gasto considerável, não resolve seu problema e acaba por descredibilizar um produto tão eficiente, que há anos pessoas vêm tentando naturalizar na sociedade a sua eficácia.
Por isso, caso a pessoa queira aderir a algum tratamento à base de cannabis, é fundamental, primeiramente, pesquisar quem está por trás de cada empresa, onde os produtos são produzidos, licenças e certificações, além de comprovações documentais. Afinal, a educação e a informação são essenciais para garantir um acesso a produtos de qualidade.
O Brasil, por exemplo, me surpreendeu positivamente no setor, já que é um dos países líderes na produção de pesquisas e artigos científicos sobre a cannabis na medicina. O mercado legal do país está bem medicinalmente orientado, logo, a ciência e atenção perante a qualidade e usos específicos desses produtos estão altamente sendo expostos e debatidos. Como uso recreativo ou suplemental foi liberado antes do medicinal, podemos acompanhar uma resistência maior da classe médica, mas é algo que vem se transformando com a quantidade de dados referentes a utilização dos produtos.
Vejo que ainda há muita desconfiança perante a eficácia da cannabis, principalmente por ser um insumo rodeado de preconceitos enraizados. Entretanto, aos poucos, as pessoas estão mais engajadas na causa e buscando embasamentos científicos que comprovam os inúmeros benefícios do uso dos ativos, apesar da maioria ainda não possuir amplo conhecimento. Afinal, como qualquer medicamento, pesquisar a procedência é essencial para garantir um resultado satisfatório e seguro para todos.
Fabrizio Postiglione é fundador e CEO da Remederi, farmacêutica brasileira que promove o acesso a produtos, serviços e educação sobre a cannabis medicinal. O executivo estuda a planta há mais de 10 anos e ao longo de sua trajetória profissional, atuou em todo o processo para produção e comercialização de medicamentos à base de cannabis.
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