* Kati Dias – Legado foi uma das palavras mais faladas no ano passado. Quem não viu – ou leu – inúmeras reportagens falando sobre como as obras para a Copa do Mundo poderiam servir ao bem comum. É uma pena que grande parte delas não saiu do papel. Mais do que isso, legado tem muito a ver com o tipo de mensagem que se deseja deixar para as próximas gerações.
Como pensar no futuro, se o Brasil vive um momento extremamente conturbado de instabilidade política e estagnação econômica. O que esperar de 2016? Graças a um ato de vingança do deputado Eduardo Cunha (PMDB), presidente da Câmara dos Deputados, foi aberto um processo de impeachment contra uma presidente democraticamente eleita. E por causa desse mesmo ato de vingança, uma série de ações que ajudariam a destravar a economia brasileira estão travadas no plenário do congresso.
Esse ato de vingança hoje é chancelado tanto pelo vice-presidente Michel Temer (PMDB), que vê uma chance de se tornar presidente, quanto pela oposição, que sonha em consolidar um projeto político que foi derrotado nas urnas por mais de 54 milhões de brasileiros. Para isso, estão dispostos a sacrificar a democracia ao apoiar um golpe institucional.
No entanto, as ações antidemocráticas não duram para sempre. Veja só o que aconteceu na última quinta-feira (10/12). A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) revogou o título de Doutor Honoris Causa concedido em 1972 ao general Emílio Garrastazu Médici, presidente do Brasil entre os anos de 1969 a 1974.
O governo Médici foi considerado como “anos de chumbo” da ditadura militar. Durante a ditadura, foram registrados mais de 362 casos de mortos e desaparecidos. Segundo a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos (CEMD), são 149 só no governo Médici.
A anulação do título havia sido uma promessa do reitor Roberto Leher, que, ao tomar posse na instituição, afirmou que tal reconhecimento não deveria ter sido concedido ao general, já que durante a ditadura foram violados todos os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
A oposição pode voltar ao poder após 12 anos, caso o golpe institucional em curso seja efetivado. Resta saber a que custo. Afinal, a história e o julgamento das futuras gerações podem ser implacáveis.
* Kati Dias é jornalista e analista no Núcleo de Conteúdo e Imprensa da Agência Insane de São Caetano. Pós-graduada em Política e Relações Internacionais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), com passagens pelos jornais Diário do Grande ABC e Bom Dia ABC. Contato com a colunista pelo e-mail kadias26@gmail.com
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