* Caio Bruno – Em maior ou menor grau, os ocupantes do Palácio do Planalto têm ao longo da história rusgas com a imprensa e o jornalismo livre. Com o surgimento e a popularização de mídias como o rádio e a televisão, a partir do segundo período de Getúlio Vargas como presidente (1951-1954) o embate é uma constante. No Regime Militar (1964-1985) o governo, autoritário, amordaçou a imprensa ferozmente.
Na Nova República, Fernando Collor de Mello (1990-1992), Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016) viviam às turras com os jornalistas. Lula, aliás, quase expulsou o correspondente do The New York Times no Brasil, Larry Rohter, em 2004 após o profissional escrever matéria onde relatava os supostos abusos etílicos do petista.
Mas em nenhum momento da história do Brasil (exceto nos períodos autoritários) tivemos uma agressividade tão grande do governo e do presidente da república em pessoa como nos tempos atuais. É uma política de Estado, de confronto, de jogar suas bases contra o exercício do jornalismo livre e imparcial.
Obviamente que essa escalada só teve condições de ser criada com o boom das Redes Sociais e das Fake News. Jair Bolsonaro usou e abusou delas em sua campanha vitoriosa em 2018 e continua a utilizar. Seus apoiadores e colaboradores espalham notícias falsas, destroem reputações, incitam o ódio aos veículos de imprensa, sempre com o discurso de vitimização.
Dois dos mais recentes ataques aos profissionais de imprensa vieram nos últimos dias. Na terça-feira (11/2) em depoimento à CPI das Fake News no Congresso Nacional Hans River do Rio Nascimento, um ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp mentiu aos parlamentares (o que é crime por si só) e insultou a jornalista Patrícia Campos Mello da Folha de S.Paulo com falsas informações e insinuando que a profissional o assediou em troca de informações.
Prontamente, Patrícia e o jornal publicaram os documentos e prints das conversas com Nascimento provando as inverdades. Enquanto isso, as estruturadas milícias digitais do bolsonarismo por meio de seus bots e apoiadores (entre eles, Eduardo Bolsonaro, o filho presidencial 03) inundaram as redes sociais com difamações a jornalista.
No sábado (15/2) em mais uma constrangedora coletiva de Bolsonaro à imprensa em um cercadinho na saída do Palácio da Alvorada, o presidente, que costuma insultar e encerrar abruptamente as conversas, mostrou (pela segunda vez) uma “banana” aos profissionais do jornalismo.
É necessário ressaltar que mesmo Vargas durante o Estado Novo e os presidentes-generais mantinham relações pessoais cordatas com os jornalistas, mesmo seus governos censurando, reprimindo e até matando jornalistas. Era uma atitude cínica e dissimulada, claro.
A grande questão é até onde vai esse destempero com a imprensa? Qual o limite dessa escalada? E principalmente: qual a reação que os jornalistas e seus patrões terão? A primeira delas, ao meu ver, seria parar de comparecer às humilhações diárias que são as entrevistas do presidente no cercadinho do Alvorada.
* Caio Bruno é jornalista, pós-graduado em Comunicação e especialista em Marketing Político. Acesse: www.caiobruno.com.br
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