* Luiz Pladevall – A pandemia do novo coronavírus assusta o mundo pelos impactos na saúde, economia e no bem-estar social. Essa crise mundial vai provocar mudanças profundas na maneira como os mais diversos governos encaram a saúde pública. No Brasil, o enfrentamento da Covid-19 vai se deparar com um panorama de 100 milhões de brasileiros sem acesso à rede de coleta e tratamento de esgoto, além de 35 milhões de habitantes sem água potável.
Esse é um cenário devastador e propício para a propagação do novo coronavírus. A indicação básica para evitar a proliferação da doença é lavar bem as mãos com água e sabão, mas uma parcela significativa dos brasileiros sequer conta com acesso aos recursos hídricos adequados. Um estudo da Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes), a partir dos dados do Datasus, aponta que nas maiores cidades com saneamento precário a taxa de internação por doenças causadas pela veiculação hídrica – como diarreia, gastroenterites, cólera, febre tifoide, entre outras – é três vezes maior em comparação com os municípios próximos da universalização.
A Covid-19 reforça o que os especialistas já ressaltam há muito tempo. O saneamento básico deve ser prioridade de qualquer nação interessada a reduzir as abissais diferenças entre a população mais abastada e os mais pobres. Portanto, deve ser uma política permanente de Estado, independente do governo de plantão. Os prejuízos causados pela falta de tratamento adequado do esgoto e de abastecimento de água tratada, principalmente com a pandemia desse novo coronavírus, são incalculáveis.
Para alcançar a universalização desses serviços, todas as esferas governamentais têm o desafio de contribuir para um planejamento minucioso, de curto, médio e longo prazo. Ele deve ser capaz de atender às demandas regionais, embasado em informações consistentes dos mais de 5.500 municípios brasileiros.
O enfrentamento a pandemia da Covid-19 poderia ser menos traumática se o país contasse com melhores condições de infraestrutura na área de saneamento. Essa é uma lição que não podemos esquecer e precisamos transformar esse aprendizado em política eficaz capaz de reverter os péssimos indicadores que ainda colecionamos na área.
* Luiz Pladevall é engenheiro, presidente da Apecs (Associação Paulista de Empresas de Consultoria e Serviços em Saneamento e Meio Ambiente) e vice-presidente da ABES-SP (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental).
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