* Melina Garcia Cunha Sanjar – São inúmeros os desafios pelos quais os estudantes brasileiros têm passado desde o início da pandemia do coronavírus. No Ensino Médio as preocupações se acentuaram e novos obstáculos, como a migração das aulas presenciais para remotas e a mudança de data do Enem, somam-se agora a um cenário de evasão, que já era preocupante. Tendo em vista este quadro, as discussões sobre o ensino médio brasileiro ganharam mais espaço no debate público.
Com Reforma do Ensino Médio, as Secretarias de Educação de alguns estados têm até 2022 para reformular os currículos. Em São Paulo, as mudanças já devem ser vistas a partir do próximo ano. O objetivo é, na proposição da Reforma, torná-los mais flexíveis, focados no interesse dos estudantes, com a oportunidade de eles elegerem os itinerários formativos para que possam se dedicar nas matérias preferidas, diminuindo a evasão escolar.
Mas afinal, o que de fato os jovens querem? Pesquisas apontam que eles almejam aprender a partir de experiências, ou seja, de situações práticas, desejam aulas dinâmicas, com presença de tecnologia constante, atividades e oficinas culturais, visitas, passeios fora da escola, envolvimento com a comunidade e participação ativa nas decisões escolares. Também desejam estar preparados para o Enem, para os vestibulares e para o mercado de trabalho.
Por outro lado, é necessário compreender o que o mundo do trabalho precisa. Segundo o relatório do Fórum Econômico Mundial de 2019 sobre o futuro do trabalho, o mercado será marcado pelo declínio de uma série de funções e tarefas que serão automatizadas e pelo crescimento de novos produtos, serviços e empregos que surgirão pela adoção de novas tecnologias. O profissional contemporâneo precisará de aptidões socioemocionais, capacidade de adaptação, de adquirir novas habilidades no decorrer da carreira e ter familiaridade com tecnologia, como já está sendo exigido, com rapidez, em função da pandemia.
A boa notícia é que há instituições de ensino que já conseguiram colocar em prática soluções educacionais que atendam às necessidades dos jovens e das empresas, considerando todos esses elementos: a principal delas é o desenvolvimento por competências, que permite aos jovens reconhecerem-se no contexto histórico e cultural de modo colaborativo, produtivo e responsável.
No Ensino Médio Técnico do Senac São Paulo, por exemplo, há um modelo que possibilita a integração da educação profissional e o ensino médio, convergindo os interesses das juventudes pela profissionalização. Nele, existe integração entre as áreas do conhecimento, superando a centralidade das disciplinas e não havendo, portanto, aulas isoladas. Os alunos estão sendo instigados a investigar e a procurar soluções por meio de projetos e pesquisas, sendo capazes de estabelecer relações com o saber, capacidades essenciais para enfrentar um momento tão complexo como esse.
E esse modelo mostra resultados interessantes, formando jovens que se preocupam com temas importantes, como inclusão e tecnologia, e cito alguns exemplos, como projeto que busca soluções para deficientes físicos com as impressões de próteses 3D e o game que poderá ser utilizado para que as pessoas entendam um pouco como alguém que tenha autismo se sente.
Quem sabe a pandemia estimule práticas educacionais propositivas, rompendo de vez com a concepção cartesiana que vem marcando a educação básica brasileira até aqui. É preciso forçar o limite em busca de uma expansão, focada na aprendizagem e que atende os modelos da era digital na qual vivemos. Para que nossos jovens possam, em um futuro próximo, terminar o ensino médio com uma profissão e um projeto de vida pronto para ser posto em ação. Uma formação completa como ser humano, cidadão e profissional.
* Melina Garcia Cunha Sanjar é gerente de desenvolvimento e responsável pelo Ensino Médio Técnico do Senac São Paulo
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