* Iara Souza – A história nos lembra de que os primeiros seres humanos venceram o tempo para dominar a natureza, depois, o tempo foi dominado pelo homem ao seu bel prazer e, agora, o homem parece dominado por suas próprias criações. E tudo isso para estar sempre um passo a frente, pensando no futuro, afogados em compromissos, reuniões e pendências.
Mas, afinal, qual a relação que temos com o tempo? Talvez a de guerra, estabelecida desde que nos declaramos produtivos, ou uma fuga para não admitir impotência?
Dentre aparentes desvantagens, há um grande benefício que é a oportunidade que o tempo nos empresta para refletirmos sobre para o que viemos. Nesse embrulho com tantas emoções, pode emergir uma vontade incontrolável de esquecer o tempo, as demandas externas e se voltar à qualidade dessa utilização, abandonando o sutil reconhecimento do estar sempre ocupado por uma jornada de fato produtiva.
O processo de escolha e de como empregá-lo, pode desenhar a intensidade, indo além das 24 horas que todos temos por dia, de forma limitada. Quando estamos na companhia de quem amamos ou realizando uma atividade prazerosa, não percebemos o tempo passar. Nesses momentos sintonizamos o estado de flow, ou seja, sua natureza em perfeita comunhão. É claro que vivemos fases de entregas e necessidades distintas, e assim dispomos da energia necessária a cada uma. Há muitos que, como em um jogo, não avançam as fases, e continuam investindo em um ciclo que não muda.
Há o sentimento de inacabado quando, por mais que façamos, a sensação é de que ainda há muito por fazer, nos tornando reféns de um universo paralelo onde nada é o suficiente. Mas, como definir qual o seu momento atual, administrando tantas turbulências e ruídos e ainda se ater ao tempo que parece estar sempre jogando contra?
Rever o conceito multitarefa pode ser uma grande alternativa. Vale lembrar que não somos programas, embora sejamos altamente programáveis. Observar-se na necessidade de ser informado, consultado e envolvido em tudo, também é um exercício na liberação do seu espaço, dando vasão para real contribuição.
O tempo de qualidade passa a ser construído e degustado de forma nova, com sabores ainda desconhecidos pela maioria, revelando talentos e potencialidades surpreendentes. Planejar a ascensão deve ser um projeto, só é pouco, quando realizada apenas como possibilidade de ganho financeiro ou produto fim.
A essência de sermos humanos nos permite potência, nos diferencia de animais, justamente por nos preocuparmos, com o além de sobreviver e acumular. Faz-se necessário, integrar-nos aos recursos para deixar algo relevante, uma marca individual. E não me refiro a grandes feitos, é constatado que há muitos feitos de grande contribuição sem o título. Para além da produtividade comercializada como um método implacável, organizar o tempo deve ser um relacionamento com seus talentos, sonhos e necessidades. Busque a produtividade sustentável, que garante espaço adequado para o que de fato importa, e para o que é possível controlar.
E, se você não souber por onde começar, já considere um início, afinal para vermos o arco-íris, precisamos reconhecer a tempestade.
Decisões são construídas e ao deixarmos a consciência fluir, reequilibramos o ecossistema, firmando paz com o mais ativo dos capitais. O tempo, o seu tempo.
* Iara Souza é Especialista em desenvolvimento humano
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