* Vinícius Freaza – Dentre as inúmeras mudanças sociais que surgiram por conta do distanciamento de prevenção a COVID-19, estão os novos horizontes na educação, e consequentemente as mudanças nos métodos e objetivos das avaliações escolares. Como avaliar o aprendizado de um aluno sem estar frente a frente com ele? À que deve servir uma avaliação nesse contexto?
Primeiramente, é o momento de escolas e redes de ensino refletirem sobre o uso da avaliação como mecanismo de reprovação, sobretudo com a pandemia ainda não controlada. Nos Estados Unidos, por exemplo, a cidade de Nova Iorque decidiu que seus alunos não repetirão de ano e a sistemática de notas está dividida em três classificações: “atende aos parâmetros”, “precisa melhorar” e “curso em andamento”. Alunos identificados nas duas últimas situações passarão por reforço escolar. Já na Itália, a nota final levará em consideração a trajetória escolar do aluno, não apenas o resultado das avaliações deste ano.
No Brasil, o Parecer nº 5/20 do Conselho Nacional de Educação (CNE), homologado em 29 de maio pelo Ministério da Educação (MEC), sinaliza a importância da realização de uma avaliação diagnóstica no retorno das aulas presenciais para que seja possível identificar o “desenvolvimento em relação aos objetivos de aprendizagem e habilidades que se procurou desenvolver com as atividades pedagógicas não presenciais e construir um programa de recuperação, caso necessário, para que todas as crianças possam desenvolver, de forma plena, o que é esperado de cada uma ao fim de seu respectivo ano letivo”.
Os debates e encontros virtuais atuais que estão ocorrendo com frequência no setor educacional trazem discussões sobre como os modelos tradicionais de ensino estão se adaptando a esse ano letivo tão atípico. Enquanto aguardamos uma vacina e acompanhamos os planos de retomada das escolas nos diferentes estados brasileiros, os estudantes seguem assistindo aulas à distância. Chama-nos atenção as mudanças que precisaram ser implementadas repentinamente na dinâmica dessas aulas. Nesse novo processo, é natural que muitas dúvidas surjam entre os educadores e as famílias. Os alunos realmente estão aprendendo com as aulas on-line? Quais habilidades e conteúdos deverão ser retrabalhados com uma turma quando as aulas presenciais voltarem? Como identificar e trabalhar as dificuldades individuais de cada aluno?
Durante minha jornada na área da educação, inclusive em sala de aula, onde passei parte da carreira como professor de química, tenho reforçado a necessidade de utilizar a avaliação prioritariamente pelo viés diagnóstico. Agora, mais do que nunca, a defesa dessa abordagem faz todo sentido. A pandemia trouxe a oportunidade de escolas e educadores repensarem suas estratégias pedagógicas. Quando os alunos retornarem às escolas, além de todos os cuidados sanitários e socioemocionais, será preciso realizar uma avaliação diagnóstica que identifique os pontos a melhorar de uma turma ou série, mas que também possibilite estabelecer um olhar personalizado para os alunos. Alguns tiveram mais facilidade de aprender à distância do que outros e isso precisará ser mensurado.
O método clássico de avaliar alunos – por meio de categorização – já vinha sofrendo críticas, mesmo antes do cenário atual. Com o ensino remoto adotado em massa, a utilização compulsória de plataformas tem gerado uma valiosa massa de dados proveniente, principalmente, de atividades avaliativas digitais. A partir de ferramentas elaboradas especificamente para instituições de ensino, esses dados podem ser organizados e analisados adequadamente, convertendo-se em informações relevantes sobre a aprendizagem dos alunos, que servirão como referência para estruturação de ações pedagógicas que respondam às necessidades identificadas.
Alinhado à função diagnóstica da avaliação, trago o exemplo da Evolucional. Somos uma startup de educação que tem como missão gerar dados robustos e informações precisas aos educadores e gestores escolares a respeito da aprendizagem cognitiva dos alunos da escola. Nesse contexto, a avaliação deixa de ser mero instrumento classificatório ou apenas momento de treino para os alunos, e passa a ser uma importante interface de coleta de dados sobre aprendizagem, que deverão ser criteriosamente analisados para tomada de decisão.
O Simulado Enem Online que criamos no início da pandemia, por exemplo, permite com que os alunos continuem se preparando à distância para o exame, ao mesmo tempo em que gera dados para a escola sobre quais competências, habilidades e conteúdos precisam ser melhor trabalhados para que os resultados de aprendizagem sejam otimizados. Por contar com a mesma metodologia do exame oficial – a Teoria de Resposta ao Item (TRI) – cada aluno tem a sua proficiência medida nas diferentes áreas do conhecimento, o que permite a recomendação de atividades personalizadas para alavancagem de desempenho individual.
Os números que atingimos em tão pouco tempo mostram a necessidade latente das escolas em mensurar a aprendizagem cognitiva dos seus alunos, mesmo que de maneira remota: mais de 200.000 mil alunos já realizaram o simulado on-line do Enem durante a pandemia, em mais de 1.700 escolas parceiras da Evolucional em todo o país.
O que mais nos anima entretanto, é o que tem ocorrido com muita frequência após a avaliação. Muitas dessas escolas estão nos procurando para entender como analisar os dados das avaliações minuciosamente e elaborar intervenções e atividades relevantes a partir deles, direcionando os seus esforços e tempo para os pontos que realmente farão a diferença na aprendizagem dos alunos.
Finalmente temos visto a nota na escola deixar de ser o ponto final e se tornar, cada vez mais, o ponto de partida.
* Vinícius Freaza é diretor de Inovação Pedagógica da Evolucional
Gostei muito do texto, pois urge que venham à baila propostas e soluções que mesmo através de consultorias, possam auxiliar educandos e educadores no pós-pandemia. Contudo há que se considerar que uma avaliação de potencial eficaz deve entender o processo de aprendizagem apoiado no triplé: CHA (Conhecimento, habilidade e atitude). Ainda, considerar a realidade social, pois a migração abrupta dessas comunidades de aprendizagem para o universo digital trouxe à tona uma série de desafios. Há limitações graves, especialmente para alunos e professores mais empobrecidos, muitos deles localizados em regiões limítrofes das grandes cidades ou na zona rural. Faltam computadores, aparelhos de telefonia móvel, softwares e Internet de boa qualidade, dentre outros recursos. Pessoas com deficiências físicas não têm conseguido acompanhar as aulas remotas e desenvolver as atividades propostas, que não foram adequadas para permitir o acesso universal.