Após dois anos de internação no HMU, menina vai para casa pela primeira vez

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Da Redação – Nesta terça-feira (16), quando chegou ao Hospital Municipal Universitário (HMU), a auxiliar de limpeza Vanderléia Mendonça Novaes, 41 anos, sentia um misto de ansiedade, alegria e cansaço. Passou a noite acordada, pensando em todas as pessoas que gostaria de agradecer. Imaginando, pela milésima vez, como seria deixar a unidade com a filha nos braços, depois de tanto tempo. “Meu coração está agoniado. O hospital é a casa que ela conhece. Agora começa uma nova história, né?”

Valentina nasceu em 7 de março de 2014, e nunca havia saído do HMU. Prestes a completar 2 anos, a menina recebeu alta depois de uma batalha que durou 710 dias na UTI Neonatal. O quarto andar do hospital estava em festa para se despedir de sua graciosa “hóspede”, que conquistou o afeto de dezenas de trabalhadores da unidade durante o longo período em que permaneceu internada.

Do pessoal da limpeza à diretoria, muita gente fez questão de beijar e abraçar a pequena, tirar uma selfie de recordação e desejar sorte na vida nova. De colo em colo, a pequena distribuiu beijos, tirou sonecas e brincou com as pessoas que, agora, já fazem parte de sua família. “Estou emocionada e muito feliz. Em todos esses dias ao lado da Valentina desejei que ela pudesse ir para casa. Aprendi muito com ela, principalmente a alimentar a esperança”, conta a neonatologista Paula Venturini Nireki.

Paula cuidou de Valentina desde que ela nasceu, prematura, pesando 1,7 kg e diagnosticada com a síndrome de Pierre Robin, doença rara que se caracteriza pela deformidade da face. Com a mandíbula pequena, retração da língua e palato aberto, a pequena não conseguia se alimentar e tinha dificuldades enormes para respirar sozinha. Nos primeiros dias de vida, foi submetida à traqueostomia (abertura de um orifício na traqueia) e à gastrostomia (sonda ligada ao estômago). E foi então que teve início a dificílima jornada pelo ganho de peso.

“Valentina não reagia. Com seis meses ela pesava 2,4 kg. Entrou num quadro de desnutrição severa, a gastrostomia passou a não funcionar e passamos a estudar alternativas. Foi um desafio clínico enorme. Em uma semana ela ganhava 50 gramas, em dois dias perdia 100 gramas”, relata a neonatologista.

Vanderléia recorda que muitas vezes não pode sequer pegar a filha no colo, tamanha a fragilidade do quadro, agravado por duas convulsões e uma parada cardíaca. “Voltava para a minha casa chorando. Não me conformava. Cheguei a pensar que ela não conseguiria.” Cada grama a mais na balança era celebrado e, aos pouquinhos, Valentina passou a colecionar progressos. Quando ultrapassou os 3,5 kg, a mãe se animou e comprou um vestido florido para a filha, pensando no dia em que iriam juntas para casa – o mesmo que ela vestia nesta terça-feira. “Tenho certeza de que minha filha superou tudo isso graças a todo amor que ela recebeu aqui. Hoje a gente deixa esse hospital com esse grande exemplo de solidariedade.”

Paula guarda com carinho no celular as fotos tiradas nos últimos dois anos ao lado de Valentina. “Olha como ela estava magrinha nessa época… Foi tão difícil! Depois que ganhou peso ela passou a ser um bebê a cada dia mais feliz, sorridente. Isso é o mais gratificante”, afirma a médica, que fazia questão de dar banho e ninar a menina nos dias em que Vanderléia não conseguia estar presente, além de passear com ela pelos corredores.

Valentina deixou o HMU pesando 5,7 kg, se alimentando de papinhas, bebendo líquidos e ainda respirando com o auxílio da traqueostomia. É miúda se comparada a outras crianças da idade dela, mas gigante aos olhos de quem a viu superar a desnutrição. “Como pode? Tão pequenininha e tão vitoriosa. Não vejo a hora de colocá-la no bercinho que comprei para ela há tanto tempo. Agora a família está completa”, diz Vanderléia, que tem mais quatro filhos, três deles ansiosos pela chegada da caçula.

Em casa, na Vila Esperança, a menina será acompanhada pela equipe do Programa de Internação Domiciliar (PID) e terá acesso a todo o cuidado necessário. Valentina ainda passará por tratamentos e cirurgias para superar as sequelas da síndrome, reversíveis, segundo a neonatologista. “É o milagre da vida. Estamos orgulhosos dela”, finaliza a médica, antes de entrar na concorrida fila para pegar Valentina nos braços mais uma vez.

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