Da Redação – Fora a alta percentual anual, 2015 registrou a maior quantidade de casos de importunação ofensiva ao pudor no sistema metroviário paulistano, em cinco anos. Entre 2011 e 2013, a quantidade de ocorrências dessa natureza variou entre 60 e 66 (menos da metade dos registros feitos no ano passado).
É o que aponta levantamento inédito feito pela Agência de jornalismo de dados públicos Fiquem Sabendo com base em dados da Delpom (Delegacia de Polícia do Metropolitano), responsável pelo registro e investigação dos crimes ocorridos no sistema de transporte sobre trilhos em São Paulo, obtidos por meio da Lei Federal nº 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação). (Veja o detalhamento dessas informações no infográfico abaixo.):
Contravenção penal (delito leve) com multa como pena estabelecida em lei, a importunação ofensiva ao pudor é a tipificação mais comum dada pela polícia para casos de abuso sexual no transporte público, quando passageiros se aproveitam da superlotação para passar a mão ou se esfregar na vítima, por exemplo.
Por não se tratar de um crime (delito grave), quem comete esse tipo de abuso sexual não pode ser preso. A prisão só ocorre em caso de estupro, crime hediondo descrito por lei como um ato libidinoso violento.
O que levou ao aumento dos registros de abuso sexual? – Na avaliação tanto da Polícia Civil quanto do Metrô de São Paulo, o aumento do número de casos de abuso sexual registrados é reflexo da campanha de conscientização da empresa iniciada em 2014 e intensificada no ano passado. Para a jornalista Nana Soares, especializada em temática de gênero e participante dessa campanha de conscientização, o aumento do número de termos circunstanciados de importunação ofensiva ao pudor indica que a subnotificação desse tipo de prática diminuiu nos últimos anos.
“Trata-se de uma resposta superpositiva à campanha. [123 ocorrências em um ano] Não é um número que corresponde à realidade dos casos de abuso sexual no transporte público, mas, sem dúvida, está mais próximo dessa realidade”, diz Nana, que é autora de um blog no site do jornal “O Estado de S.Paulo”, no qual posta semanalmente textos sobre temática de gênero e violências contra as mulheres.
A cada 155 dias, 1 caso de estupro é registrado no metrô – Se os casos de importunação ofensiva ao pudor no metrô de São Paulo são registrados com frequência, tendo atingido uma média de uma ocorrência a cada três dias em 2015, a elaboração de boletins de ocorrência de estupro no sistema metroviário é muito menos frequente. De acordo com dados da Delpom tabulados pelo Fiquem Sabendo, entre janeiro de 2011 e agosto de 2015 (1.703 dias), a polícia registrou 11 estupros no metrô. Isso representa uma média de uma ocorrência a cada 155 dias.
527 mil mulheres são estupradas por ano no Brasil – De acordo com o estudo Estupro no Brasil: uma radiografia segundo os dados da Saúde, feito pelo IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), do governo federal, cerca de 527 mil mulheres são estupradas por ano em todo o país. Segundo a pesquisa (a mais aprofundada já realizada sobre o tema no Brasil), apenas 10% desses casos chegam à polícia. Os dados utilizados nesse estudo apontam que “89% das vítimas são do sexo feminino e possuem, em geral, baixa escolaridade. Do total, 70% são crianças e adolescentes”.
Por que isso é importante? – O Decreto-Lei 2.848/1940 (Código Penal) define, no seu art. 213, o crime de estupro como “constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso”. Em caso de condenação, a pena para acusados desse crime (em sua modalidade simples) varia de seis a dez anos de reclusão. Já as modalidades qualificadas (consideradas mais graves pelo legislador) de estupro preveem penas mais altas. Quando há a morte da vítima, por exemplo, a pena máxima é de 30 anos.
Ajuda dos usuários é fundamental para coibir abusadores, diz metrô – O Metrô de São Paulo disse por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa que realiza constantemente campanhas de conscientização e treinamentos para que seus funcionários saibam como coibir a ação de abusadores e amparar as vítimas.
Leia a nota d Metrô – “O abuso sexual é um crime que deve ser combatido dentro e fora do transporte público. O Metrô realiza constantemente campanhas de conscientização e treinamentos para que os funcionários estejam preparados para coibir este tipo de crime e amparar as vítimas.
Ao longo de 2015, as campanhas incentivando as denúncias e registro das ocorrências foram intensificadas com cartazes nas estações e nos trens, distribuição de panfletos e veiculação de mensagens nos monitores dos trens e nos perfis oficiais da Cia nas redes sociais. Como resultado, o número de denúncias registradas no Metrô aumentou de 120, em 2014, para 146, em 2015 (21% a mais).
Atualmente, 89% dos abusadores descritos pelas vítimas são detidos pelos agentes do Metrô e encaminhados para a Delpom, Delegacia do Metropolitano, órgão responsável pela investigação dos crimes no sistema metroferroviário paulista.
A cooperação dos usuários, por meio de denúncias, é fundamental para combater a ação dos assediadores. É importante que as vítimas informem o fato imediatamente a um funcionário do Metrô, apontando ou descrevendo as características e roupas do autor do crime para que o mesmo seja localizado e detido. Os passageiros também podem colaborar por meio do serviço SMS-Denúncia do Metrô (97333-2252), que garante total anonimato ao denunciante. A mensagem é recebida no Centro de Controle de Segurança, que destaca os agentes mais próximos para verificação imediata e providências.”
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