Ministério da Saúde exclui casos de indígenas que vivem na cidade; Natalia Moreno é licenciada em Cultura Indígena e afirma que o governo é responsável pela situação
Da Redação – Na Terra Indígena Tenondé Porã os casos de Covid-19 saltaram de 75 para 239 em um mês. O Ministério da Saúde confirmou 163 casos, porém excluiu os indígenas que vivem na cidade e, com isso, a Comissão Pró-índio de São Paulo (CPI-SP) alertou que, na verdade, já passam dos 300 casos na população nativa da região sudeste.
“A Cultura Indígena sempre foi esquecida porque nós sempre demos valor apenas para àquilo que conhecemos e isso se perpetua até hoje (…); Ainda temos um pensamento colonial em cima deles e é preciso desmistificar a ideia que índio é tudo igual”, explica Natalia Moreno, que é escritora e especialista em Cultura Indígena. Ela continua: “Eles são história. São pessoas como nós, que estão sempre se adaptando à realidade. É preciso ouvi-los porque até agora só fomos apresentados à versão do colonizador, é preciso respeitar a diversidade cultural e linguística deles”.
Na avaliação do Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena, a Sesai atua com um grande racismo institucional por desconsiderar indígenas em contexto urbano e, por isso, ocorre a subnotificação. “O preconceito contra os índios existe porque ninguém nunca nos ensinou a pensar diferente, e falta essa reflexão”, comenta Natalia Moreno, ela afirma que o racismo começa quando a Cultura Indígena não é devidamente ensinada para as crianças na escola.
O Boletim Epidemiológico da Sesai do Ministério da Saúde não categoriza os dados por povo indígena ou por Unidade de Federação. Somente na capital, de acordo com a CPI-SP, seriam 316 casos confirmados. A Comissão recebeu relatos da existência de 63 casos na aldeia de Pyau, na Terra Indígena Jaraguá, localizada na região metropolitana de São Paulo, onde há seis aldeias Guarani.
Natalia Moreno, que também escreveu “Destino Traçado”, uma ficção envolvendo a Cultura Indígena, indica que o Governo deveria dar mais atenção aos índios. “As comunidades indígenas têm pouco acesso à saúde e é difícil ir até um centro urbano. As prevenções sanitárias, mesmo antes da pandemia já eram miserável e o Governo Federal nega essas políticas preventivas e determina que o povo deve fazer sacrifícios.” A especialista ainda afirma que o Estado é responsável pelas mortes indígenas porque o povo é visto com “pouca importância” perto da população urbana. “Não ressaltamos que todos devem sobreviver, apenas a parcela com um poder aquisitivo maior é o povo que vai enfrentar o vírus. Os indígenas pretos, pobres e idosos fazem parte do povo que o Estado deixa morrer”.
Diante dos problemas de contabilização do avanço da Covid-19, que tem se dados de forma expressiva entre os povos indígenas, a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) realiza um monitoramento paralelo ao do governo. Por meio da plataforma Quarentena Indígena, os dados são atualizados semanalmente em um esforço conjunto de várias organizações indígenas.
O romance de Natalia Moreno, “Destino Traçado”, publicado pelo Grupo Editorial Coerência, traz a Cultura indígena em suas páginas. A personagem principal, Valentina, é neta de indígenas e foi criada na cidade; ela teve seu destino traçado em um ritual quando nasceu e, por isso, acredita que tudo de errado que acontece com ela é culpa do ritual. Ela percebe que tem livre-arbítrio quando se envolve com James, mas começa a entender que consequências são esperadas.
Sinopse:
Valentina seguia sua vida na loja de pipas e pedras preciosas sem muitas novidades até o dia em que um sonho se mistura com a realidade e ela se vê ligada a um homem e a uma criança. Os olhares do pai e do filho que entram em sua loja revelavam que eles desejavam um grande amor tanto quanto ela, mas Valentina não quer aceitar e o destino terá um trabalho árduo pela frente para convencê-la de que ele foi traçado há muitos anos em uma tribo indígena. Será que é possível enganar o destino traçado?
Sobre a autora:
Natalia Moreno nasceu em Porto Feliz em 1986. Formada em Letras e pós-graduada em Literatura, é professora de Língua Portuguesa e Literatura e palestrante sobre a importância da leitura na formação profissional e individual. Apaixonada por literatura, animais, música e natureza, encontrou na escrita uma maneira de extravasar seus sentimentos escondidos pelo seu jeito capricorniano de ser. Já conta com alguns feitos em sua carreira literária: ganhou um concurso de crônica em sua cidade natal e publicou alguns títulos, entre eles Destino Traçado. Adora fazer listas e tem a mania de querer colocar tudo em ordem, desde um quadro torto até o mundo, desesperando-se por este estar fora do seu alcance.
Nenhum comentário on "“Os indígenas fazem parte do povo que o Estado deixa morrer”, diz especialista"