* Paulo de Tarso Porrelli – É fato e já não é de hoje que o Brasil e o mundo reverenciam a pluralidade dos dons e talentos caipiracicabanos – isto nos vários segmentos das atividades humanas.
Quem viveu a alegria da efervescência artístico-cultural piracicabana no final dos anos 70 e início dos anos 80 sabe muito bem a importância dos encontros musicais e das pensatas tantas na Rua do Porto; aquele doce recanto rústico outrora habitado somente por ribeirinhos da Noiva da Colina – das Colinas.
Em meio aos trabalhos do também saudoso Elias dos Bonecos Livres e às famílias de pescadores, Marinho Castellar e sua trupe denominada ‘Banda Disritmia’ cantarolavam toadas, violavam cantigas e bradavam folks, pop-rocks, clássicos do samba e MPB, passeando pela world music sob a britânica influência dos Beatles; tudo com ares e cores duma peculiaridade ingenuamente universal.
Os anos eram de chumbo, mas os pensamentos libertários de Marinho Castellar demarcavam aquele eufórico tempo-espaço com letras épicas e arranjos desconcertantes. O intrépido Marinho Castellar foi pai da cabeça musical de muita gente Piracicaba afora. Seu ‘LP’ “Ovo”, cujo acetado de cor amarela inovou a produção fonográfica independente no Brasil, ganhou a cena cult internacional.
O legado poético-musical de Marinho Castellar ajuda-nos a entender melhor a linha do tempo das civilizações. Aliás, seria enfadonho contar a História sem a existência da música. É certo que não devemos olhar a vida pelo retrovisor, sobretudo quando as imagens que se sucedem aos nossos olhos são desalentadoras.
Contudo não dá para olhar para frente sem lembrar de seres vívidos que frutificaram e se perpetuaram pelo viés das artes neste Planeta tão conturbado, como o fez o bom combatente Marinho Castellar; em nome da posteridade.
* Paulo de Tarso Porrelli é escritor e jornalista.
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