Vidas negras importam violência racista
Da Redação – Para aprender, entender, e, principalmente, apoiar a comunidade negra, é preciso descobrir histórias inéditas. Como a da carioca Ana Paula Bernabé, que aos 45 anos e moradora do bairro dos Pimentas, em Guarulhos, traz no corpo as cicatrizes de muitas chicotadas. Na própria carne, na memória e na alma, sabe o que são as dores dilacerantes sofridas pelos antepassados nas senzalas.
Mãe de três filhas, quando ela pensava que estava a salvo de racistas da nossa sociedade nas ruas, foi amarrada, sofreu açoites, estupro, todos os tipos de violência física e moral dentro do próprio lar.
Leonina, corajosa, desempregada nesse momento de pandemia, Ana Paula não desiste, se reinventa. Sem um companheiro, sem poder trabalhar como faxineira (não pode entrar nos lares), lava carros para pagar as contas, ajudar filhas e netos. No final do dia, cansada, tem um momento de alento na companhia de uma de suas paixões: os livros.
Qual sonho da Ana no momento? Conseguir comprar uma cadeira de rodas para a neta de seis anos que não pode andar por ser portadora de microcefalia (malformação congênita em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada).
A luta da carioca apaixonada por samba que deseja correr a São Silvestre parece história de cinema. Agora, ela vai tentar vencer mais um de tantos obstáculos enfrentados em sua vida. Mesmo sabendo da crise no setor audiovisual, a mulher batalhadora que tem orgulho de sua cor, apesar de tudo o que já sofreu, quer ser dublê. E ela já iniciou as aulas de boxe seguindo o protocolo para evitar contaminação do novo coronavírus. Ela coloca máscara descartável, usa álcool em gel, protetor facial e segue para o treinamento sob o comando do diretor do Centro de Treinamento de Dublês e Atores, o ator e produtor Bruno Santana. Ambos estão sob a supervisão atenta de uma técnica de enfermagem.
Link de depoimento de Ana Paula, no qual ela afirma que a escravidão continua: http://www.youtube.com/watch?v=lAyzMLv54X0&feature=youtu.be
Dados mostram como é a realidade
Bruno Santana cita números que demonstram que o racismo permanece, mesmo camuflado:
Cerca de 61% das vítimas de feminicídio são negras
Negros são 62% mais vulneráveis à morte por covid-19
Apenas 10% dos escritores negros têm suas histórias publicadas por grandes editores
Negros são 2,5 vezes mais afetados por homicídios
Muitos jovens pretos cometem suicídio
Apenas 4% dos parlamentares são negros
Mas há os que venceram os obstáculos e superaram barreiras:
5% estão em cargos de liderança das maiores empresas do país
São 18% dos magistrados
São 16% entre professores universitários
PS – Bruno observa que são números recentes, porém sujeitos a alterações.
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