Diário de um empresário na pandemia

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* Alvaro Furtado – “O futuro é amanhã e o passado foi ontem”. Não sei onde li isso, mas acho que encaixa perfeitamente no que estou vivendo. Ontem, antes da pandemia e de todas as suas consequências. Amanhã, a pandemia começa a ir embora e aí?

Como será que estaremos você, eu, nós todos? Não quero ser resumido a um CPF ou CNPJ, virar um número frio das estatísticas. Acredito que, como eu, certamente atrás de um CNPJ há muitos CPFs preocupados com o futuro.

Quando tudo isso passar, os que tiverem sorte e se cuidado não terão ficado doentes e talvez alguns de nós estejamos autoimunes. Mas e os CNPJs, que saúde terão? Embora muitos CPFs tenham reserva financeira para suportar este cenário por um tempo, essa é a pergunta de US$ 1 milhão que eu, você, todos nós gostaríamos de saber a resposta e acertar o resultado.

Como não se trata de um jogo, mas da realidade, do hoje, em plena pandemia, lidando com tantos problemas e situações nunca vividas, sei que tenho de me preparar para o que está por vir. Tudo que começa, acaba, e nós e nossos CNPJs precisam estar o melhor possível quando isso acontecer.

Eu percebo que muito do que estávamos acostumados a viver e a praticar já está diferente e possivelmente não voltará a ser como antes.

Vejo que as vendas, se não despencaram, diminuíram significativamente e, ainda mais preocupante, estão concentradas nos produtos essenciais, onde a margem é mínima e aí o custo de funcionamento começa a ficar pesado.

Vou ter de mudar minha postura, reavaliar as compras em volume e na qualidade de itens. Não devemos esquecer que nossos clientes/compradores estão com dificuldades, muitos sem renda alguma, dependendo de auxílio governamental, outros com redução de salários e não poucos, lamentavelmente, perderam seus empregos.

O cenário nos obriga a reduzir custos, cortar pessoal, e demitir é sempre difícil. Conheço estabelecimentos com equipes pequenas e boas, em que os laços são quase os de uma família.

Pode-se começar pela redução de jornada e, consequentemente, de salário, avaliando por critérios como os que não têm encargos familiares, os solteiros, depois aqueles cujos salários merecidos agora pesam mais.

Não sei se será suficiente, mas vou acompanhar de perto o dia a dia, a entrada e a saída de recursos do caixa e ver se não estou usando a minha reserva financeira para manter o negócio.

Ah, uma novidade: passei a usar o tal do delivery para entregar para meus clientes idosos que não querem, não devem e não estão saindo de casa, mas que ligam pedindo mantimentos, e ainda estou “apanhando” muito.

Aquele momento no mês de abril, em que houve uma corrida da população para estocar produtos, e que foi uma loucura, que pena, acabou. Agora eu é que preciso correr atrás de vendas.

Não posso esquecer do Jaime, do Norberto e da Cleusa, que fornecem refeições e já vieram pedir um prazo maior para pagar as compras, porque não estão podendo funcionar de portas abertas e o dinheiro que entra do fornecimento por entrega mal cobre o custo.

Agora, mais que nunca, vou precisar de conselhos e de ajuda para tomar as decisões que quase diariamente batem à minha porta. Vou pedir auxílio ao meu contador e ao advogado do SINCOVAGA, que me atende por telefone.

Por falar em conselho, a minha mulher ontem lembrou que eu bobeei não tendo comprado o prédio do nosso mercado há dois anos. Agora, bem, agora é a hora de tentar renegociar o valor do aluguel, que é a nossa segunda maior despesa. A imobiliária que cuida da locação é páreo duro.

Esse foi mais um dia de trabalho. O hoje em breve vai se tornar ontem. Sigo acreditando e ansioso pelo amanhã. Deus, ao contrário de nós, não descansa.

* Alvaro Furtado é presidente do Sincovaga

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