Da Redação – Todos sabemos que momentos como os que vivemos são devastadores a vários níveis. Em tempos de guerra, como se costuma dizer, enterraram-se os mortos e cuidam-se dos vivos. No entanto, a arqueóloga Joana Freitas alerta que depois de a nuvem de pó assentar “teremos que lidar com a Pandemia econômica, com a recessão e empobrecimento. Todos os momentos são de alteração de políticas como nos foram ensinando outros eventos históricos.”
Joana Freitas, formada em arqueologia pela Universidade do Porto e pela Universidade Autónoma de Barcelona, tem por áreas de estudo a pré-história e a evolução da espécie humana. Membro e sócia da CPAH – Centro de Pesquisas e Análises Heráclito, com sede em Portugal e unidades no Brasil e na Holanda.
A arqueóloga diz que ainda é muito cedo para se saber exatamente quais serão as consequências, e os estragos, mas não duvida que elas vão existir. “É praticamente utópico achar que depois de todo este cenário não iriam existir mudanças. Obviamente o seu grau vai depender diretamente do tempo que a crise pandêmica durar. Mas teremos que estar cientes que haverá danos econômicos elevados e sociais também”, frisa a arqueóloga.
Continuando com a sua explicação, Joana Freitas acredita que comparativamente não acredita que ” o momento atual não trará um cenário tão devastador quanto uma guerra mundial, mas será comparável e até mesmo superior ao momento que o mundo viveu com a crise que se iniciou em 2008.”
A arqueóloga alerta que momentos de crise deixam profundas marcas nas sociedades e que normalmente perduram no tempo. “As crises econômicas moldam sociedades. Em 2008 o mundo empobreceu de maneira geral. Muitos ocidentais ainda hoje vivem nas consequências dessa crise. O mundo do trabalho tornou-se inseguro, precário. As gerações jovens viram-se sem grandes possibilidades de ter uma vida que não fosse dependente dos pais. Muitos agregados familiares voltaram a juntar-se para fazer face às dificuldades. Por outro lado, nenhum americano esqueceu o crash de 1929. É algo muito próprio”, destaca.
Há no entanto, segundo Joana Freitas, cenários mais globais que trazem mudanças maiores. “Há cenários como as guerras mundiais ou a pandemia da pneumónica, a chamada gripe espanhola, em que as alterações são mais drásticas. No fim da segunda guerra o mundo estava arrasado, a pobreza dominava. No entanto, e a partir daí que a sociedade moderna se começa a constituir no que se refere a parâmetros de nível de vida ou económicos. Antes disso, no início do século, a pneumónica arrasa o mundo já debilitado pela primeira guerra mundial. As perdas humanas e materiais foram incalculáveis mas também existiram aspetos positivos. É neste momento que a ciência avança e se dá valor à criação e melhoramento de sistemas públicos de saúde”.
Há muitas mudanças que se podem esperar. A história, por sua vez, ensina que há pormenores a que devemos dar atenção. “Não duvido que o setor econômico vai mudar. Acredito que os países irão fazer uma reflexão e tentar perceber o que podem produzir internamente e onde podem não estar tão dependentes. A pandemia fez-nos ver o quanto a indústria e o comércio podem sofrer por a cadeia de abastecimento ser tão longa. Este momento é crucial. Ou os países optam por uma cooperação mais transparente e justa ou viveremos anos de grande alteração nos setores produtivos.”, opina.
Concluído, “Este gênero de acontecimentos são propícios a uma onda de solidariedade e união iniciais. Há uma preocupação global. Depois há separações quando a cooperação for ao nível econômico. Temos o exemplo da união europeia e veremos como ela vai lidar com todo este caso, porque ou realmente revela coesão ou então irá sofrer muitas fissuras.”
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