* Caio Bruno – Engana-se quem pensa que se dizer como novidade sendo antigo no meio político é coisa dos tempos atuais. Este expediente, que visa catalisar eventual anseio da população por candidatos outsider e capitalizar rejeição à classe política é utilizado no Brasil desde pelo menos o retorno ao pluripartidarismo em 1980.
O primeiro a usar dessa tática ilusionista foi o Partido dos Trabalhadores (PT) que se apresentou em suas primeiras eleições como o “novo” e “diferente de tudo que está aí”. O tempo e a chegada da sigla ao Planalto com Lula e Dilma (2003-2016) mostrou que os petistas eram adeptos das velhas práticas mais repudiadas do espectro político brasileiro.
O segundo turno da eleição presidencial de 1989, aliás, (a primeira direta para presidente do Brasil desde 1960) teve como protagonistas dois candidatos que se diziam como o Novo. O já citado Lula e o então ex-prefeito biônico de Maceió, ex-deputado federal e ex-governador de Alagoas, Fernando Collor de Mello, que fora filiado à Arena, ao PDS, ao PMDB e montou sua própria sigla, o PRN. Além do currículo, o sujeito era neto e filho de políticos e mesmo assim, se colocou como o “diferente”, o “moderno”. Sua baixa idade (40 anos) ajudou a consolidar a imagem e ele foi eleito presidente. O desfecho da história todos sabemos.
Em um salto da primeira para a mais recente eleição presidencial temos mais um candidato vitorioso que mesmo do establishment se vendeu como alguém de fora: Jair Messias Bolsonaro. O atual presidente da República se elegeu com discurso beirando o apartidarismo e o apolítico, contrário às negociações, as alianças políticas e com críticas ao sistema como um todo. Logo ele que foi vereador no Rio de Janeiro (1988-1990), deputado federal por longos 28 anos e com passagens por 8 partidos.
A busca por fugir do estigma da classe política vem aumentando principalmente após a ruína do PT e a Operação Lava Jato e abrangeu não só velhos personagens do meio como partidos políticos, que buscam alterar estatutos, cores e nomenclaturas em busca de um reposicionamento no cenário.
Essa atitude é perfeitamente normal, ainda mais se levarmos em conta as mudanças dinâmicas do cenário nacional e mundial. É importante ressaltar também que não há nada de errado ou criminoso em ter uma carreira política consolidada, pelo contrário, é sinal de bons serviços prestados à população.
O incorreto é quando políticos com anos e anos de estrada, diversos cargos públicos nas costas e passagens por vários partidos políticos se apresentem como se estivessem debutando no meio. Este ano temos eleições municipais e esse perfil vai aparecer muito por aí. É necessário que o eleitor preste muita atenção para não comprar velho (e velhaco) por novo.
* Caio Bruno é jornalista, pós-graduado em Comunicação e especialista em Marketing Político. Acesse: www.caiobruno.com.br
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