Da Redação – Uma história que começou com duas tragédias. Primeiro a morte de uma criança, Vinicius Vilela, de 15 anos, estudante, morador da Vila Ferreira, em São Bernardo do Campo. Morto covardemente numa tentativa de assalto em 2017, com um tiro pelas costas quando tentava chegar na escola. Uma semana depois, a segunda perda: o suicídio do pai de Vinícius, que teve grande repercussão na imprensa, chocando toda uma comunidade que junto com o Instituto Cativar, que trabalha na região desde 2014, foram para as ruas em passeata contra a violência.
Diante do ocorrido, formaram um coletivo chamado Alvez Dias para conversar sobre a paz. As tragédias provocaram uma reflexão profunda sobre o que poderia ser feito de novo para aquela comunidade. Por meio de pesquisas foi levantado que mesmo com tantas dificuldades, medos e incertezas existia um enorme interesse de crianças e jovens pela música, então, foi criado o “Musicando para um mundo melhor” como a primeira iniciativa de disseminação da paz por meio da arte.
Em 2018, intervenções aconteceram em escolas que Vinicius tinha estudado, algo muito emocionante que se encerrou com a soltura de balões brancos e palmas a Vinicius e sua família. Uma praça foi inaugurada com o seu nome. Então, teve início o Projeto Cultura da Paz, que foi um sucesso desde o início, e foi a forma encontrada para distanciar os jovens da violência, entre outros riscos no dia a dia.
No ano de 2019, foi mantido o atendimento de 230 usuários e utilizado o Projeto Cultura de Paz, que já com o novo nome “Vez & Voz” atuava como ferramenta de temática transversal importante para o empoderamento e protagonismo de lideranças comunitárias, sendo elas, crianças, jovens e adultos. Falar por meio das artes foi o caminho encontrado para o início de um diálogo de paz. A Cultura Hip Hop sintetizava tudo isso, arte, rua, consciência e resistência, sendo a ferramenta de mudança trazendo cor e valores para o bairro. Em julho do mesmo ano, voluntários da Basf S/A apoiaram o projeto de revitalização com arte urbana, denominado “Vielas Pedem Paz”, ofertando toda a doação para pintura e com isso foi possível revitalizar 300 metros de vielas do Jardim Nazareth, local que dá acesso a pontos importantes, como escolas, UBS, creche e toda essa movimentação ocasionou uma grande repercussão na imprensa escrita e televisiva, sendo notícia no Diário do Grande ABC, ABC Repórter, Diário Regional e Rede Globo, no programa SP1, com grande participação da comunidade.
Em entrevista ao Diário Regional, Nádia Gibo, coordenadora do Cativar, explicou que o projeto visava expandir a mensagem da organização além dos muros e impactar não somente a vida dos alunos, mas também da vizinhança. São dela as palavras: “Queremos que eles coloquem para fora os sentimentos, não em forma de revolta, mas sim de palavra, poesia, argumento e diálogo”, resume Nádia.
Ela conta que o projeto exigiu conversa com a vizinhança para que a permissão para as intervenções fosse concedida. Apesar de não ser tarefa fácil, a coordenadora afirma que o resultado foi positivo, com boa recepção por parte dos moradores do bairro e adesão dos alunos. “Quando vemos pessoas que a gente nem imaginava participarem e fazerem parte da ação, a gente sente que a mensagem foi absorvida”, concluiu a coordenadora do Cativar.
Para Sarará, profissional reconhecido e premiado dentro da Cultura Hip Hop e também mestre de grafitti e fotografia há 5 anos no Instituto Cativar, o que mais foi gratificante no projeto foi a construção conjunta com os jovens. Dos 50 artistas previstos na revitalização da viela, 10 são frutos da oficina. Além de aprender sobre arte, os jovens foram incentivados a conhecer mais a vizinhança e a trocar vivências com moradores do bairro, que vivem realidades distintas. Ele falou: “É gratificante poder trazer esse intercâmbio cultural e fazer com que eles entendam o sentimento deles e também do outro. Foi importante a troca de sentimentos e mútuo entendimento”, afirma Sarará.
Agora, em 2020, os planos continuam! O objetivo do Cativar é expandir seus atendimentos para outros dois territórios, onde não existe presença de organizações sociais e possuem uma demanda reprimida, são eles Areião, com 60 vagas de crianças e jovens dos 06 aos 17 anos e Alvarenga, também com 60 vagas de crianças e jovens dos 06 aos 17 anos. Ambos os serviços são uma parceria com a SAS (Secretaria de Assistência Social). Outro foco é a captação de recursos para manutenção e funcionamento das atividades e aquisição da sede própria, para isso vai ser inaugurada uma estamparia e também uma casa de bolo, ambos projetos foram elaborados junto com os alunos da FTT (Faculdade Tecnologia Termomecânica) e tem previsão de conclusão até o mês de abril deste ano.
Combater a violência com a arte por meio do Hip Hop, colorir a vida das pessoas com muita criatividade e escrever novas histórias sem lágrimas e com finais felizes são os maiores desafios desses artistas da paz!
Muito importante esses projetos do Instituto Cativar é através dessas lutas e de boa vontade que se transformará a “violência” em PAZ ✌ PARABÉNS NÁDIA E TODOS(AS) PARTICIPANTES