Engenheiro Luiz Roberto Beber comandava assessoria técnica de engenharia da fundação, mas foi exonerado após embate com empreiteiras
Da Redação – O depoimento do engenheiro Luiz Roberto Beber à CPI que investiga irregularidades na Furp (Fundação para o Remédio Popular) lançou novas suspeitas sobre a construção da fábrica de medicamentos do governo do Estado em Américo Brasiliense, citada em acordo de delação premiada da construtora Camargo Corrêa.
Beber trabalhou na fundação – maior fabricante pública de medicamentos do país – entre outubro de 2003 e março de 2007. Na condição de assessor técnico de engenharia, ele acompanhou o início das obras em Américo Brasiliense. Acabou exonerado do cargo após divergências com o consórcio responsável pelo serviço, liderado pela Camargo Corrêa.
“Ele procuravam achar defeitos no contrato e no projeto para gerar aditamentos”, declarou. Além da Camargo Corrêa, integravam o consórcio responsável pela obra as construtoras OAS, Schahin e Planova.
A nova fábrica da Furp
A obra da fábrica de Américo Brasiliense foi executada em duas etapas. A primeira, a cargo da construtora MPD, contemplou a construção da estrutura básica do prédio, sob um custo de R$ 21 milhões.
Já a segunda fase, executada pelo consórcio liderado pela Camargo, incluiu a montagem de todos os ambientes farmacêuticos e serviços complementares, totalizando R$ 155 milhões (considerando aditivos).
Beber relatou que, ao final de sua passagem pela fundação, o consórcio estava diminuindo o ritmo da obra de Américo Brasiliense e que “ocorreram algumas rejeições de qualidade dos trabalhos”. “Logicamente, eles [consórcio] não ficaram satisfeitos”, disse o engenheiro. “Pedi a substituição da pessoa que gerenciava a obra em nome do consórcio. Em 48 horas, o pedido foi atendido”, acrescentou.
Denúncias de corrupção
Ao final das obras, o consórcio ainda conseguiu uma indenização de R$ 22 milhões da Furp (a título de reequilíbrio econômico-financeiro) por supostos prejuízos durante a execução do contrato.
Este acordo, segundo a delação premiada da Camargo Corrêa, foi garantido mediante pagamento de propinas a agentes públicos do Estado – incluindo o sucessor de Beber.
O ex-assessor técnico de engenharia da Furp, hoje funcionário da Prefeitura de São Bernardo do Campo, disse que, durante sua passagem pela Furp, não recebeu das empreiteiras nenhum pedido de indenização. “Não tenho detalhes sobre isso. Os fatos que foram noticiados aconteceram após a minha saída.”
Fim da linha
Beber contou ainda que sua exoneração do cargo se deu logo após a troca do superintendente da Furp. Edson Nakazone, que levou o engenheiro para a fundação, deu lugar a Ricardo Oliva em janeiro de 2007. “Houve a nomeação de um novo superintendente. Ele me comunicou sobre a substituição, que já havia sido aprovada no Conselho Deliberativo da Furp.”
Beber disse que conheceu Nakazone na Prefeitura de São Bernardo, durante a gestão do ex-prefeito Maurício Soares – ambos integravam o secretariado. A exemplo do engenheiro, Nakazone voltou a trabalhar na administração e exerce hoje o cargo de secretário-adjunto de Saúde.
Beber foi convocado a depor na CPI por um requerimento do presidente da comissão, deputado estadual Edmir Chedid (DEM). Para o parlamentar, o depoimento do engenheiro trouxe novos elementos à investigação.
“Ficou muito claro aqui que ele não aceitou o que as empreiteiras queriam. E foi substituído por alguém que, segundo delação premiada, recebeu propinas para fazer o que as empreiteiras queriam”, disse. “Ele [Beber] foi simplesmente chamado e exonerado, sem maiores explicações.”
Reta final
A CPI da Furp foi aberta pela Assembleia Legislativa em abril com base em requerimento do deputado Edmir Chedid – que citava, entre outros pontos, as suspeitas de corrupção na estatal.
A comissão entra agora em sua fase final. Na próxima semana, os deputados iniciarão a análise do relatório com a conclusão dos trabalhos, documento que deverá ser votado pelos membros da CPI, obrigatoriamente, até o dia 9 de novembro.
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