Crédito-foto: Vanderlei Yui-Divulgação
Com grande elenco e direção de Márcio Telles, a peça, que teve sua montagem iniciada em 1997, leva ao palco da ancestralidade africana com narrativa sobre a criação do mundo, segundo a mitologia yorubá
Da Redação – Entre os dias 4 e 27 de outubro, o Teatro Oficina recebe o espetáculo “Odara – Tradição, Cultura e Costumes de um Povo”, que reúne, em seu elenco, mais de 65 pessoas entre atrizes, bailarinos, dançarinos, cantoras, músicos, percussionistas, capoeiras, sambistas, técnicos, produtores e promotores da cultura e das tradições de matriz africana que estão no alicerce da construção da sociedade brasileira.
Em um momento necessário e de protagonismo, o que “Odara” propõe ao espectador? “As pessoas podem se questionar: mais um espetáculo que resgata a ancestralidade? O que traz de diferente?”, provoca o diretor, Márcio Telles, que há 20 anos levou a mesma proposta para os palcos de periferias e centros culturais e que também atua como diretor criativo no G.R.E.S. Nenê de Vila Matilde.
“Bom, essa foi exatamente a pergunta que me fiz quando resolvi trazer a montagem de volta para os palcos e batalhei para que se desenrolasse especificamente no Oficina e que tivesse no elenco pessoas reais que praticam em suas vidas cotidianas o que entregam no teatro. Por que “Odara” agora? Ainda é extremamente urgente falar de “Odara” por razões que estão aí, todos os dias, nos jornais e nas ruas”, afirma Telles.
Após curta temporada em agosto, às quartas e às quintas, a montagem será apresentada aos finais de semana. Com duração de 120 minutos e elenco majoritariamente negro, o espetáculo reúne diversas manifestações importantes para a manutenção e a resistência de narrativas yorubás, seja na música, na dança, na literatura e na dramaturgia.
A criação do mundo segundo a diáspora e uma visão yorubá são os fios condutores de uma montagem cujo conceito une a singela tradição Griot com a explosão inerente de quem pisa no chão do Oficina. “Este teatro, como seus próprios integrantes falam, inclusive eu que estou aqui há 11 anos, é um terreiro eletrocandombléico. Tem vida própria, assim como o corpo. Essa união impregna a peça de uma energia singular”, diz o diretor.
“Acho que Odara tem um conceito de narrativa e uma visão estética que lhe são muito peculiares. Caminho nesse chão há muito tempo e recolhi dentro de todo o período de pesquisa aquilo que me tocava de forma muito profunda dentro do nosso território negro. Além desse garimpo e dessas vivências, admiro extremamente o trabalho e a trajetória do Balé Folclórico da Bahia e o bailarino e coreógrafo Ivaldo Bertazzo”, diz Telles.
SINOPSE
“Odara – Tradição, Cultura e Costumes de um Povo” traz a narrativa da criação do mundo segundo referências da mitologia yorubá. Olorun, o Senhor Supremo do Universo, resolveu acabar com o ócio reinante no Orun e decidiu criar um mundo habitado por seres semelhantes a Ele. Para tanto, convocou todos os Orixás e, sob o comando de Obatalá, ordenou que partissem para criar o Ayê, a terra.
A peça segue com o surgimento de novos povos, desde a vida livre do negro na África, passando pelo tráfico de escravos até o período contemporâneo, mostrando que, além do sofrimento, houve resistência que manteve vivos os costumes, a tradição e a cultura, apresentando ao longo de 120 minutos uma dramaturgia enriquecida com manifestações populares como dança dos Orixás, capoeira, samba-reggae, puxada de rede e samba de roda, ilustrando um patrimônio cultural inestimável e preservado.
Nesse sentido, “Odara” propõe um novo grito, uma nova revolução, uma retomada dos territórios e das ruas, uma chamada de alegria e afeto, aguerridos, contra qualquer tipo de escravidão, violência e intolerância,
O espetáculo foi concebido em maio de 1997 como projeto cultural para atender, de forma sócio e arte educativa, comunidades periféricas da cidade de São Paulo e municípios limítrofes. A proposta pedagógica era implementar atividades culturais focadas no resgate e na preservação da cultura afrodescendente, usando, inicialmente, as ferramentas da dança, do teatro e da música.
No Acervo da Memória e do Viver Afrobrasileiro (atual Centro Cultural Jabaquara) e com o apoio fundamental de Mãe Silvia de Oxalá (in memorian), Telles reuniu artistas e gestores de vários coletivos, como Afro II, Dandara, Okun, Quilombo Capoeira e Adarrum, e realizou o primeiro espetáculo, “Raízes de Ketu”, que estreou no Teatro Taib, localizado no bairro do Bom Retiro e que, atualmente, chama-se Casa do Povo.
A partir daí “Odara” aflorou como um grupo de resistência e perdurou por longos anos. Em 2005, o projeto migrou para o bairro de Vila Nova Cachoeirinha, na Zona Norte de São Paulo, como uma alternativa à elevação da autoestima e da valorização de moradores de uma periferia onde o risco social era e ainda é parte da rotina de jovens, crianças e suas famílias. Assim, o Projeto Odara passa a fazer parte de uma Organização Não Governamental, a Omo-Ayê, tendo como presidente Margarida Moura (in memorian).
Nesta linha de desenvolvimento, um amplo trabalho social contribuiu direta e efetivamente para a execução de políticas públicas de promoção que viabilizaram oportunidades de inserção, criação de oportunidades de trabalho e geração de renda para jovens em situação de grande vulnerabilidade social por meio de um ateliê de confecções e cursos profissionalizantes de moda étnica (roupas e bordados afros). Esta iniciativa participou do projeto São Paulo é uma Escola e, também, do Projeto VAI.
Neste processo evolutivo, o Projeto Odara estreou no Teatro Itália, na região central paulistana, e seguiu em grande temporada no Café Concerto Uranos. Em meados de 2017 ocorreu a estreia de “Brasilidade Nagô” no Teatro Oficina. Atualmente sediado na Casa Florescer, o Odara fortalece-se com aulas de dança e vivências afro gratuitas, promovendo a inclusão de mulheres trans e famílias em situação de vulnerabilidade social. Depois de uma curta temporada, mas com grande plateia em agosto, o espetáculo volta à cena nos finais de semana de outubro.
Serviço – ‘Odara – Tradição, Cultura e Costumes de um Povo’, no Teatro Oficina, Rua Jaceguai, 520 – Bixiga, de 4 a 27 de outubro, às sextas e sábados, às 20h, e domingo, às 19h. Duração: 120 minutos. Elenco: Lena Silva, Raquel Tobias, Jurema Pessanha, Rafaela Tomam, Ito Alves Cristina Matamba, Cibele Souza e grande elenco, direção de Márcio Telles. Classificação indicativa: 12 anos. Ingressos: R$ 40 (inteira), R$ 20 (estudantes, maiores de 60 anos, professores de rede pública, classe artística mediante comprovação, moradores do bairro mediante comprovante de residência), R$ 5 (estudantes secundaristas de escola pública, imigrantes, refugiados, moradores de movimentos sociais de luta por moradia mediante comprovante), limitados a 10% da lotação diária. Ingressos antecipados pelo link : https://www.clubedoingresso.com/evento/espetaculoodara-teatrooficina. A bilheteria do teatro abre com uma hora de antecedência nos dias de espetáculo
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