Grupo EMS ganhou contrato de 15 anos durante a passagem de Giovanni Cerri pelo governo; caso é investigado pela CPI do Remédio Popular
Da Redação – Uma empresa aberta pelo ex-secretário de Saúde do Estado Giovanni Guido Cerri recebeu aporte de R$ 10,1 milhões de uma indústria farmacêutica que ganhou um contrato de 15 anos durante sua gestão na pasta.
Cerri exerceu o cargo de secretário entre 2011 e 2013, exatamente no período em que o governo estadual transferiu sua fábricas de remédios em Américo Brasiliense (região de Araraquara) à gigante EMS por meio de PPP (Parceria Público-Privada).
O contrato, assinado em 2013 com validade até 2028, tem gerado um prejuízo de R$ 56 milhões por ano aos cofres do Estado. A EMS foi a única empresa a apresentar proposta na licitação da PPP. Cerri pediu exoneração do cargo de secretário poucos dias após a homologação do resultado.
A parceria é alvo de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Assembleia Legislativa, presidida pelo deputado estadual Edmir Chedid (DEM). O Ministério Público também apura o caso.
A empresa de Cerri
Depois de deixar o governo, Giovanni Guido Cerri abriu uma holding (empresa de participações e investimentos) em sociedade com Leonardo Sanchez Secundino, dirigente do grupo NC – que controla, entre outras empresas, justamente a EMS.
Menos de dois meses depois de ser constituída, a Clintech Participações S/A recebeu um aporte de R$ 1,5 milhão do grupo NC, comandado pelo empresário Carlos Eduardo Sanchez, bilionário da indústria farmacêutica e tio de Leonardo Sanchez Secundino. O grupo NC ainda faria outros dois aportes na Clintech, totalizando R$ 10,1 milhões.
Em janeiro deste ano, Cerri foi admitido como sócio de outra empresa, a Criva (Centro Regional de Radiologia Intervencionista e Vascular), com sede em São José do Rio Preto. Na mesma data, o grupo NC também ingressou no quadro de proprietários da Criva.
Cerri foi questionado sobre suas ligações com a EMS durante depoimento à CPI do Remédio Popular nesta terça-feira (17). As relações foram reveladas pelo presidente da comissão, deputado Edmir Chedid.
“Essa relação é totalmente posterior à minha saída da secretaria. Muito tempo depois”, limitou-se a informar o ex-secretário. Na época em que deixou o governo, Cerri alegou que pretendia se dedicar à vida acadêmica como professor da USP.
Investigação
Para o presidente da CPI, as ligações de Cerri com o grupo EMS devem ser investigadas a fundo. A comissão tem até novembro para concluir seus trabalhos.
“A CPI deve se debruçar em cima das respostas que ele [Cerri] deu, de como se deu esse negócio, para saber se não tem alguma influência”, disse o deputado.
“Vamos encaminhar ao MP, à Corregedoria do Estado, à Procuradoria-Geral, até para que ele possa se defender, se for o caso.”
Edmir Chedid também defendeu a criação de um período de “quarentena” para gestores públicos que migrem para empresas e entidades contratadas pelo governo. A medida, segundo ele, ajudaria a combater eventuais conflitos de interesses.
“Já vimos presidente de Organização Social de Saúde que presta serviços ao governo migrar para a Secretaria de Saúde. Da noite para o dia, em vez de receber o recurso do governo, ele passa a pagar. Passa a fiscalizar a própria entidade. Também já vimos pessoas fazendo o caminho inverso. Não pode continuar assim.”
Sobre a CPI
A CPI foi aberta pela Assembleia Legislativa em abril com base em um requerimento do deputado Edmir Chedid. O objetivo é investigar irregularidades na gestão das fábricas de medicamentos do governo, controladas via Furp (Fundação para o Remédio Popular) – incluindo suspeitas de superfaturamento e corrupção.
A comissão volta a se reunir nesta terça-feira (24) para nova rodada de depoimentos. A reunião acontece a partir das 11h no Plenário Tiradentes.
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