Nelsão da Imperial: o ‘sabe tudo’ de Corumbá

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Nelsão ao centro* Montero Netto – Nelson Fernandes, ou simplesmente Nelsão, na foto ao centro, ladeado por dois amigos. Esta figura ímpar da região pantaneira é extremamente conhecido em Corumbá e Ladário por sua militância no futebol. Fernandes já foi presidente e líder da torcida do Corumbaense F.C., time da cidade que disputou a série A do Brasileirão na década de 80; além de ser o proprietário do Salão Imperial, que herdou de seu pai, o saudoso seu Martins Fernandes.

O estabelecimento, que funcionou anos na Rua Delamare (a gloriosa), e hoje está na Galeria Pantanal, foi uma das primeiras Barbearias de Corumbá a oferecer aos seus clientes barba feita por cabeleireiras, as quais utilizam as técnicas mais tradicionais como toalhas quentes, navalha e massagem facial. O salão do Nelsão, ao estilo ‘Boca Maldita’, que continua oferecendo os serviços de barba e corte de cabelos, é ponto de encontro de políticos, empresários, pecuaristas, jornalistas e formadores de opinião. Isso faz com que o seu proprietário atue como “eminencia parda” da política local.

Sempre bem humorado, o ‘língua preta’, como é chamado carinhosamente pelos amigos, sabe de tudo o que ocorre na cidade. Os assuntos vão desde os conchavos firmados nos bastidores do poder até quem anda traindo quem. Mas Nelsão guarda em sua atuação, como dirigente de torcida, histórias hilariantes que mostram como a ‘malandragem’ e a força de uma torcida podem trazer respeito para o time, sem é claro machucar ninguém.

Aos risos Nelson Fernandes lembra de um locutor esportivo, famoso no Estado de MS, que insistia em suas narrações em destacar um certo preconceito dos esportistas da Capital, Campo Grande, contra os corumbaenses, que eram chamados de caipiras. A torcida aguerrida do Galo da Carijós (Corumbaense FC) já não aguentava mais as piadinhas feitas no ar e mandou um recado para o comunicador, que viria a Corumbá para narrar uma partida contra o time da terra, pegasse leve nas ironias.

Desta forma, em uma manhã ensolarada de domingo, o Estádio Arthur Marinho estava pronto para mais um confronto. Nelsão e alguns líderes da torcida ficaram na espreita vendo a chegada do narrador, o qual se dirigiu a uma das cabines de transmissão do Estádio para fazer seu trabalho. Devidamente instalados, partida iniciada o speaker começou seu trabalho. Acompanhado pelos membros da Carijó Força, torcida do nosso personagem principal, considerada na época a mais badalada de todo o Estado, as ironias tiveram início irritando a todos.

Em um ato de revolta, contra o que ocorria nas ondas do rádio, Nelsão e sua tropa arranjaram um grande chumaço de mato seco e material inflamável, devidamente preparado, colocaram fogo, abriram a porta da sala de transmissão, toda envidraçada, jogaram o material em chamas e trancaram o local por fora com um cadeado de container.

A cena que se seguiu foi de desespero para o locutor e sua equipe que começaram a sufocar em meio a fumaça. O jogo rolava no campo enquanto, nas arquibancadas, a revolta da torcida contra o radialista da capital se expressava em risos, vaias e muito barulho. O episódio terminou com a PM e o Corpo de Bombeiros arrebentando os vidros da cabine para retirar de lá um locutor assustado, sufocado a beira de um colapso. Não houve mais transmissão.

Nelsão, nosso personagem, continua vivo, aprontando das suas. Entre os amigos de infância e de convivência o ‘língua preta’, que é botafoguense roxo, uma aposta marca o relacionamento entre eles. Quem morrer primeiro terá que fazer xixi no tumulto do outro. Foi assim, em 2004, com o folclórico Joaquim Pé de Alho. Nelsão garantia a todos que iria regar o túmulo do amigo que dava o contra. Neste ano, o Pé de Alho faleceu e Nelsão, não se sabe na verdade, jura ter cumprido o prometido. Ninguém viu o fato, mas que Nelsão fala que fez, isso fala. Histórias que só vemos em Corumbá.

 

copyMONTERO NETTO* Montero Netto é natural de Mogi das Cruzes, criado em Santo André. Jornalista, radialista, professor do Estado, gestor público e escritor, autor de três livros. Atuou como repórter e assessor de imprensa em jornais, emissoras de rádio e TV, assessorias de comunicação do Poder Público e privado na Grande SP e região do ABCD. Atualmente reside em Ladário/MS, em pleno Pantanal Sul-matogrossense, onde atua como repórter, assessor e professor de administração. Contato com o colunista: pressplanet@gmail.com

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