Especialistas explicam porque boatos são aceitos com tanta facilidade, e o que de fato auxilia os pacientes com câncer
Da Redação – Em fóruns pela internet e grupos de redes sociais é comum aparecerem “milagres” contra o câncer a todo momento. Sem nenhuma evidência científica ou fonte médica, são textos que afirmam, por exemplo, que a graviola é a nova arma para a cura de qualquer câncer ou que a maçã evita o câncer de pulmão; que não se deve tomar chá verde durante o tratamento contra um câncer.
A adesão tende a ser imediata, com muitos agradecimentos. Mas por que tantas pessoas aceitam essas receitas sem questionar a veracidade delas – e chegam até a ser agressivas com quem hesita em acreditar? Para Denise Leite, oncologista clínica do CPO (Centro Paulista de Oncologia), a resposta está na fragilidade que os pacientes ou seus amigos e familiares sentem diante do câncer. “É uma doença de que as pessoas têm muito medo, acham que não há cura – mesmo que haja. Elas se agarram a qualquer coisa que crie uma esperança além do tratamento convencional”, afirma.
Marcelo Aisen, também oncologista do CPO, concorda e acrescenta que alguns pacientes em fases mais avançadas do câncer procuram saídas alternativas sem pensar racionalmente sobre sua eficácia. “Se alguém relata que se curou de um câncer ou que conhece alguém que tenha ficado bom depois de comer ou beber algo, eles acreditam. Não importa se não há estudo que comprove; aquilo é falado e escrito tantas vezes, em tantos lugares diferentes, que eles tomam como verdade”, conta.
E o que leva à escolha de um ou outro alimento nessas narrativas? Leite diz que, na maior parte das vezes, são elementos que foram ou estão de fato sendo estudados pela indústria farmacêutica, mas acabaram descartados por não terem sido encontradas neles substâncias eficazes para a elaboração de medicamentos ou cujo trabalho ainda não terminou. “Um pedaço de informação é manipulado e a história toma proporções enormes.”
A seguir, Leite e Aisen esclarecem o que é mito e o que é verdade na relação entre a alimentação e o câncer. Mas, antes, os especialistas lembram: uma alimentação balanceada e saudável, com o máximo de alimentos naturais e o mínimo possível de processados, é realmente uma aliada para o sucesso dos tratamentos contra o câncer e para o bem-estar geral das pessoas, tenham elas câncer ou não.
Graviola é a nova arma na cura do câncer
MITO – Alguns compostos da folha da graviola estão sendo estudados devido às suas características antioxidantes e profiláticas, mas ainda não há nenhuma conclusão quanto à sua eficácia contra o câncer ou mesmo em relação ao seu uso em medicamentos para o tratamento da doença.
Maçã evita o câncer de pulmão
MITO – Um estudo realizado em 2017 pela Universidade John Hopkins (EUA) indica que quem come três porções (cerca de 400 gramas) de maçã por dia tem a função pulmonar mais forte e preservada, devido principalmente às características antioxidantes e anti-inflamatórias da fruta. Mas não há nenhuma ligação formal entre isso e o desenvolvimento de um câncer de pulmão.
Não se deve tomar chá verde durante o tratamento contra o câncer
VERDADE. O chá verde é metabolizado pelas mesmas enzimas necessárias para a absorção de alguns dos medicamentos do tratamento contra o câncer. Assim, é melhor evitar a bebida para não haver a diminuição da eficácia dos remédios.
Tomate previne contra o câncer de próstata
NÃO CHEGA A SER MITO, MAS É DIFÍCIL CHAMAR DE VERDADE. O licopeno presente no tomate realmente tem a capacidade de prevenir contra o câncer de próstata, mas não existem estudos científicos que comprovem na prática se é possível alcançar algum resultado – além de ter toda uma alimentação geral exemplar.
Gengibre cura qualquer tipo de câncer
MITO – Não há nenhuma evidência científica de que algum elemento do gengibre tenha a capacidade de curar o câncer. Porém, é VERDADE que o gengibre alivia os sintomas de mal-estar da quimioterapia e da radioterapia, como náuseas e enjoos.
Vegetais verdes protegem contra o câncer de intestino
VERDADE – Eles aceleram o movimento intestinal, facilitam a evacuação e POSSIVELMENTE impedem a formação de células cancerígenas no órgão, embora, novamente, não haja estudos definitivamente comprobatórios em relação a isso.
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