No Brasil, 39% dos entrevistados dizem que é improvável que pessoas que têm visão política discordante mudem de opinião, mesmo que uma evidência seja apresentada
Da Redação – A divergência de opinião política ainda causa muita tensão entre as pessoas, aponta a pesquisa global “A World Apart” da Ipsos. Segundo o estudo, três em cada dez brasileiros (32%) acreditam que não vale a pena tentar conversar com pessoas que tenham visões políticas diferentes das suas. O índice do Brasil está acima da média do mundo, de 24%. Além disso, 40% dos brasileiros se sentem mais confortáveis com pessoas que possuem posições políticas similares as suas. Globalmente, o índice é de 42%.
O levantamento mostra que uma parte dos brasileiros acredita que as pessoas não pretendem rever o que pensam: 39% dizem que é improvável que quem possui uma visão política diferente mude de opinião, mesmo que uma evidência seja apresentada. No mundo, metade das pessoas (49%) acreditam que a opinião não deve mudar.
“A pesquisa mostra que estamos cada vez menos tolerantes às divergências de pensamento e opiniões, reforçando os resultados da edição anterior. Apesar de os brasileiros conviverem com grupos muito diversos em termos de renda, idade e escolaridade, ainda existe falta de confiança no diálogo e empatia até mesmo entre os amigos quando o assunto é opinião política”, afirma Marcos Calliari, CEO da Ipsos no Brasil.
Quando perguntados se, por causa das diferenças de opiniões políticas, a sociedade está mais em perigo do que estava há 20 anos, 44% dos brasileiros concordaram com a afirmação contra 14% que acreditam que o perigo esteja menor atualmente.
Em todo o mundo, duas em cada cinco pessoas (41%) acham que a sociedade de seu país passa por mais perigo atualmente quando comparado há 20 anos por causa da divisão entre pessoas com visões políticas divergentes.
E as redes sociais que deveriam promover a interação e a troca de ideias estão potencializando os discursos intolerantes. Para mais da metade dos brasileiros (54%), essas mídias estão tornando esses debates mais divididos do que eram antes.
“O estudo levanta algumas questões importantes: Estamos perdendo a nossa capacidade de dialogar? Ou cada pessoa passou a escolher a sua própria ‘verdade’ e não quer abrir mão dela? Os embates por visões políticas diferentes cresceram, até mesmo entre amigos, e algumas pessoas acreditam que quem têm opinião discordante está sendo enganado. Nem mesmo as redes sociais, que poderiam ser palco de debates construtivos, conseguiram auxiliar na retomada das discussões respeitosas e enriquecedoras”, ressalta Calliari.
Diversidade
O Brasil é um dos países em que as pessoas possuem mais diversidade em seus grupos de amigos. Sete em cada dez brasileiros (75%) possuem amigos com renda diferente da sua. No mundo, o percentual é de 70%.
A pesquisa também mostra diversidade em outras questões: 63% dos entrevistados brasileiros afirmam que seus amigos não possuem o mesmo grau de escolaridade. Em contrapartida, na Arábia Saudita, 61% afirmam ter o mesmo nível de educação. No mundo, 45% relataram ter o mesmo grau de escolaridade que seus amigos.
O Brasil é o segundo país com o maior índice de diferença de idade entre o grupo de amigos: 67%. O Japão lidera nesse quesito, com 70%. No mundo, o percentual é de 51%.
Os brasileiros são os que possuem mais amigos de diferentes etnias (66%), em contraste com o percentual global de 44%. Na Hungria, apenas 28% têm um grupo de amigos etnicamente heterogêneo.
Embate por opiniões políticas
Apesar da grande diversidade entre o grupo de amigos, a opinião política ainda causa atrito entre as pessoas. Somente três em cada dez brasileiros (32%) dizem que a maioria dos amigos compartilha as mesmas visões políticas que eles.
Para 34% dos entrevistados do Brasil, quem possui visão política diferente não se importa com os demais indivíduos. Outros 31% acreditam que pessoas com opinião política discordantes das suas não se importam genuinamente com o futuro do país. Além disso, 39% dizem que quem possui visão diferente está sendo enganado.
A pesquisa online foi realizada com 19,7 mil entrevistados em 27 países, incluindo o Brasil.
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