Gaeta: o ‘Diabo Loiro’ que marcou época na política do Pantanal

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* Montero Netto – Como prometi na semana passada, trago para os leitores, na 2ª edição desta Casinha Pantaneira, pérolas de um dos personagens mais carismáticos da política do Pantanal. Nas cidades de Corumbá e Ladário, região de fronteira do Brasil com a Bolívia, considerada área de segurança nacional, os chamados “anos de chumbo”, que tiveram inicio com o Golpe Militar de 64, fizeram com que a possibilidade de a população eleger seus prefeitos fosse trocada pela passagem contínua de prefeitos biônicos, indicados pelo Regime Militar. Para a população, sobrava eleger vereadores e deputados.

dc63e394f42c93dfe297edef9f5cc789Neste cenário, ARENA e MDB disputavam os pleitos parciais. Foi neste quadro que apareceu Cecílio de Jesus Gaeta, o Diabo Loiro. Este corumbaense, dotado de uma oratória invejável, língua afiada, capacidade de fazer discursos memoráveis, jogo de cena digno de grandes atores, encantava os eleitores com bordões, canções e rosas. Gaeta era conhecido por usar camisas vermelhas e cabelos loiros. Sua carreira meteórica inclui mandatos de vereador em Corumbá e deputado estadual constituinte pelo Estado de Mato Grosso Uno, antes da divisão feita em 79 pelo presidente Geisel, o qual estabeleceu o Estado de Mato Grosso do Sul.

Em sua performance eleitoral, nos comícios feitos em Corumbá e Ladário, cidades em que era uma máquina de conquistar votos, Gaeta tinha uma desenvoltura folclórica. Ao subir nos palanques, em uma época em que eleitores iam aos comícios para ver os políticos falarem, o Diabo Loiro entrava cumprimentando seus seguidores, voltado para as categorias profissionais mais humildes. “Boa Noite minhas queridas lavadeiras; Boa Noite minhas queridas empregadas domésticas; Boa Noite minhas queridas professoras; Boa Noite meu Roseiral querido”.

Dizem os contemporâneos de Gaeta que após o tradicional boa noite interminável vinham os pronunciamentos forrados de metáforas fáceis de entender, denúncias, promessas e tudo o que falasse direto ao coração da população que lhe garantia os mandatos nas urnas.

Mas os finais de suas aparições eram cinematográficos. O Diabo Loiro cantava os versos iniciais da conhecida canção de Nilton César, “A Namorada que Sonhei” (Receba as flores que lhe dou, E em cada flor um beijo meu, São flores lindas que lhe dou, Rosas vermelhas com amor, Amor que por você nasceu…) ao mesmo tempo em que distribuía botões de rosas as fãs mais entusiasmadas, como o cantor Roberto Carlos.

Este show de desenvoltura política era seguido por mandatos aguerridos, rodeados de polêmicas e postura de oposição à Ditadura Militar.  Na Assembleia Legislativa, quando ele levantava para usar a tribuna, sempre de camisa vermelha, todos sabiam que vinha chumbo grosso, ou momentos de humor recheados de sarcasmo.

A bancada do MDB era pequena, mas atuava com precisão ao fazer oposição ao então governador Garcia Neto. De vez em quando, uns deputados mais ousados como Milton Figueiredo, Ari Leite Campos e Oscar da Costa Ribeiro, partiam em defesa do Executivo Estadual, mas se davam mal. Ao se retirar da vida política Gaeta se mudou para o município de Nobres (MT) onde faleceu em 2003. Controverso, odiado por alguns e amado por outros, o Diabo Loiro deixou sua marca na história.

copyMONTERO NETTO* Montero Netto é natural de Mogi das Cruzes, criado em Santo André. Jornalista, radialista, professor do Estado, gestor público e escritor, autor de três livros. Atuou como repórter e assessor de imprensa em jornais, emissoras de rádio e TV, assessorias de comunicação do Poder Público e privado na Grande SP e região do ABCD. Atualmente reside em Ladário/MS, em pleno Pantanal Sul-matogrossense, onde atua como repórter, assessor e professor de administração. Contato com o colunista: pressplanet@gmail.com

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3 Comentários on "Gaeta: o ‘Diabo Loiro’ que marcou época na política do Pantanal"

  1. Meu amigo Montero Netto, muito boa a sua crônica sobre o Diabo Loiro da política pantaneira. Aliás, como lembra o Jacinto Figueira Júnior, o eterno O Homem do Sapato Branco. Quando estava lendo o texto, lembrei do refrão e até cantarolei baixinho, um dos refrões: “são flores lindas que te dou, rosas vermelhas com amor/, amor que por você nasceu”. Parabéns amigo. Um abraço a todo esse hospitaleiro povo pantaneiro, a sua família que conheço cada integrante e que já está em meu coração. Em breve iremos fazer um churrasco a Ladário, quem sabe com um dourado fisgado na hora.

  2. Emerson

    Não faleceu! Está vivo, inclusive detém perfil no Facebook. Meu amigo pessoal e tive o prazer de receber o seu voto nas últimas eleições

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