Supletivo é voltado também para jovens e está com inscrições abertas
Da Redação – Quem vê dona Jercy Marques Ferreira, de 82 anos, aprendendo as sílabas não imagina o quanto ela já desejou voltar a estudar. Alfabetizada pelo pai e tendo que se dedicar ao trabalho da roça, Jercy Ferreira nunca escondeu a paixão pelos livros. “Eu sempre gostei de aprender. Então, continuei escrevendo, tirando cópias de livro e nunca esqueci o Português que meu pai me ensinou”, conta com um sorriso no rosto.
Além do trabalho, Jercy Ferreira precisou enfrentar o preconceito da época e relata o quanto essa oportunidade é importante. “O trabalho da roça não deixou e meus pais também não deixavam ir para a escola. Naquela época, tinha a ideia de que mulher não estuda. Eu gostava de pegar livros para ficar vendo as palavras e as figuras, às vezes meu pai chegava na hora e falava assim: ‘serviço de moça é na cozinha’. Hoje, eu me sinto uma rainha na escola”. Dona Jercy é uma das alunas da EJA, no Instituto de Ação Social Enéas Tognini, que está inscrições com abertas.
A mesma felicidade de dona Jercy também é nítida no olhar da aluna Maria Helena dos Santos, de 64 anos, que parou de estudar após um acidente de ônibus. “Com 15 anos, eu sofri um acidente de ônibus, por isso não estudei. Fiquei oito meses internada com gesso da cintura para baixo. Um ano sem conversar e dois anos sem andar. Quando vejo uma pessoa pegando um livro e lendo, eu acho lindo. Voltar a estudar é muito importante para mim. Eu me sinto muito feliz”.
Maria Helena ou Paty, como prefere ser chamada, explica que antes do acidente não tinha tempo para se dedicar aos estudos, por isso não se lembra de muita coisa. “Eu morava com a minha madrinha e tomava conta das crianças, então não sobrava tempo para estudar. Não aprendia muito”.
A busca por autonomia e o desejo por realizar alguns sonhos foi o que motivou Maria José Bezerra, 77 anos, a procurar a Educação de Jovens e Adultos. “Antigamente eu comprava um remédio e não sabia o jeito que era para tomar. Tinha que achar uma pessoa para ler a bula e explicar. E, agora, eu já começo a ler, já entendo alguma coisa. Comecei a estudar e quero tirar todas as minhas dificuldades. Eu tenho muitos sonhos. Aos poucos vou vencendo meus sonhos. Eu creio que vou conquistar todos eles”.
“Meu pai faleceu quando eu tinha oito anos. Aí eu tive que sair da escola para cuidar dos meus quatro irmãos e não consegui mais estudar”, contou.
A Educação de Jovens e Adultos com horário matutino e vespertino é uma das novidades da Secretaria de Educação neste ano. Grande parte dos idosos encontram dificuldades para estudar no período da noite, e foi pensando nisso que a Prefeitura de Diadema firmou uma parceria com o Conselho Municipal do Idoso (CMI) com o objetivo de atender este público.
“No 2º semestre de 2018, fizemos estudo para otimizarmos o atendimento na EJA, de forma a atender as necessidades dos munícipes. Nesse estudo, verificamos uma demanda que há muitos anos está reprimida e que teríamos que abrir salas em diferentes períodos. Com essa ação, estamos atingindo um público que poderia ficar sem o acesso à escola, por não serem contemplados em suas necessidades nos diferentes períodos de aula”, ressaltou o secretário de Educação, Cacá Vianna.
Em resposta ao estudo, foram abertas duas turmas de Suplência II (5ª a 8ª série) na EMEB Candido Portinari e duas turmas de EJA I (alfabetização e pós alfabetização) em parceria com o CMI no Instituto Enéas Tognini, que também mantém parceria com a Secretaria de Assistência Social e Cidadania.
“Muitos idosos querem fazer um serviço no banco, pegar um ônibus e não sabem. Já temos visto um resultado bom dessa parceria com a Educação já na primeira semana”, relatou a coordenadora do Instituto Enéas Tognini, Rose Magalhães.
Além de resgatar a autoestima dos idosos, voltar a estudar é uma forma de estimulação cognitiva. “Oferecer aulas aos idosos é um meio de protagonismo social, participação cidadã, mas, também, uma possibilidade de prevenção de doenças. Nós entendemos que a educação tem um fator importantíssimo na prevenção de doenças”, destacou a presidente do Conselho Municipal do Idoso, Érica Prudente.
Inscrições
A inscrição pode ser feita no Instituto Enéas Tognini ou na Secretaria de Educação. Para realizá-la, é necessário levar os documentos pessoais (RG e CPF) e comprovante de endereço, assim como a declaração/histórico escolar (se tiver). Além disso, as escolas que oferecem a EJA ainda têm vagas para o período noturno.
Serviço – Instituto de Ação Social Enéas Tognini (Rua Yamagata, 265 – Jardim Takebe)
Secretaria de Educação (Rua Canadá, 26 – Centro)
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