* Gabriel Clemente
Coluna Boa Prosa – Com as eleições de Rodrigo Maia (DEM), para a Presidência da Câmara, e de Davi Alcolumbre (DEM-AP) para a Presidência do Senado, o panorama, aparentemente, não poderia ser melhor para o presidente Jair Bolsonaro. Com os ‘aliados’ (?) presidentes da Câmara e do Senado, é bem provável que Bolsonaro possa emplacar com muito mais facilidade as suas propostas para tentar solucionar os inúmeros problemas brasileiros.
O novo presidente do Senado é aliado do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEM), que, nos bastidores, articulava apoio a ele. A mulher de Lorenzoni, Denise Verbeling, trabalha no gabinete do Alcolumbre. Embora seja de um partido posicionado mais à direita, Alcolumbre tem entre seus principais conselheiros o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que é de esquerda.
Ideologias? Parece um tanto quanto ingênuo acreditar que aqueles caras que estão lá no Parlamento ou no Executivo estejam, de fato, preocupados com os interesses populares. No entanto, claro que há boas exceções.
O parlamento nacional é a esfera de poder onde mais há “toma lá dá cá”, em um fisiologismo desenfreado no qual impera a máxima “ melhor me ajudar hoje, pois, amanhã, a “bola da vez” pode ser você”. Isso sem falar no verdadeiro ‘balcão de negócios’ que se tornaram, também, as Assembleias estaduais e muitas Câmaras de vereadores pelo país.
Discursos em tribunas são, quase sempre, sem medo de errar, verdadeiros laboratórios teatrais abertos. Já nos bastidores impera outra conversa, na qual o que vale é “o que você tem a me oferecer ?!”.
A verdade nua e crua é essa.
Quem não lembra, nas eleições municipais de 2012, da célebre foto na qual aparecem Lula, Haddad e Paulo Maluf, outrora inimigos políticos ferozes, de mãos cruzadas, com o último ‘medalhão’ manifestando apoio ao petista, naquela ocasião, eleito prefeito de São Paulo? Ali, o que estava em jogo era o maior tempo de propaganda na televisão. Ideologia ? Dane-se.
Hoje, na esfera federal, as costuras políticas no Legislativo não devem indicar vida muito fácil ao presidente no Congresso.
Embora a bancada do PSL, partido de Jair Bolsonaro, tenha crescido muito, atualmente com 52 deputados, o reeleito presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já declarou não ser um governista, embora tenha prometido colocar na pauta, o quanto antes, o principal projeto do governo: a PEC da Reforma da Previdência. Mas podem ter certeza de que, para que isso ocorra, haverá muito “troca-troca” de interesses ocultos. Não tenham dúvida de que, mesmo com o cenário favorável, o presidente precisará de bons “articuladores políticos” para emplacar o que deseja.
O fato é que a maioria desses caras estão muito mais preocupados em se perpetuar no poder, mantendo-se como “políticos profissionais” de forma vitalícia. O que predomina é o populismo, não os interesses do país, mesmo que, às vezes, “impopulares”.
Será que se os salários e benefícios fossem bem menores e houvesse o limite de uma única reeleição, esses políticos do Legislativo esforçariam-se tanto para se manterem lá, tendo campanhas milionárias bancadas por meio do lobby de ‘monstros’ do empresariado nacional ? A resposta parece óbvia.
Como exemplo, citemos os casos das tragédias de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. Alguns projetos de lei “muito bem intencionados” tiveram seus andamentos emperrados, em razão dos interesses financeiros das mineradoras. Além disso, muitos parlamentares têm o “rabo preso”, porque tiveram campanhas financiadas pela Vale, Samarco e BHP.
Como já dizia a canção “se trocam vidas por diamantes” sem nenhum escrúpulo.
- Gabriel Clemente é jornalista graduado pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Atuou como assessor de imprensa político, repórter da rádio ABC e assistente de comunicação institucional do Centro Universitário Fundação Santo André (FSA).
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