- Gabriel Clemente
* Coluna Boa Prosa – Antes de mais nada, quero declarar aqui que votei em Jair Bolsonaro. Por quê? Por considerar a alternância no poder algo benéfico para o país. A perpetuação de qualquer grupo político é deletéria, nociva ao “bem-estar” das instituições e do próprio povo brasileiro.
A tragédia do rompimento da barragem do Feijão, em Brumadinho (MG), na sexta-feira (25), deu um fôlego ao filho-senador eleito do presidente, alvo de uma avalanche de denúncias, desde que o pai tomou posse. Naturalmente, diante da nova catástrofe, os holofotes da mídia voltaram-se à cidade mineira, proporcionando uma ‘sobrevida’ a Flávio.
Dia após dia, como num “pinga-pinga”, a imprensa vem divulgando supostas ações nada republicanas atribuídas ao senador eleito pelo Rio. Um ex-assessor “laranja” que cobrava ‘pedágios’ e transferia quantias à conta bancária do patrão; e a descoberta do suposto envolvimento com milícias cariocas ao nomear parentes de membros da facção para o seu gabinete são denúncias, no mínimo, muito graves.
Há documentos, discursos feitos na ALERJ quando era deputado estadual, rastreamentos feitos pelo COAF, órgão que fiscaliza atividades financeiras. Aí, Flávio recorre ao STF pedindo a suspensão das investigações e a anulação de provas obtidas pelo Ministério Público fluminense alegando que, por ter sido eleito senador já diplomado, teria direito ao Foro especial e que a instituição estadual do Rio cometeu usurpação por investigá-lo sem autorização judicial.
O velho e sábio ditado popular que diz “Quem não deve não teme” parece que cabe muito bem ao caso. Por que Flávio quer emperrar e tentar melar tudo? Medo do quê? Por que os depósitos não foram feitos na boca do caixa, ao invés de fracionamentos em caixa eletrônico? Receio da descoberta da origem e do destino do dinheiro?
Embora não haja denúncias contra o presidente, seu pai, o caso contamina o Palácio do Planalto, não só pelo sobrenome do clã político, mas por que, no começo, Jair Bolsonaro e seus assessores mais próximos tentaram minimizar as denúncias.
Agora, acuado, o presidente já diz que “caso o ‘garoto’ tenha cometido algum ato ilegal, que pague a conta”. Menos mal. No entanto, o uso do termo ‘garoto’ parece fazer crer que Bolsonaro usa de um expediente para tentar reduzir a responsabilidade do filho. Creio que não caiba bem tal expressão para um homem com 37 anos e com carreira política há muito tempo.
Sergio Fernando Moro, ex-juiz federal, nomeado ao cargo de ministro da Justiça, evita vir a público falar sobre o escândalo, embora já tenha se manifestado, de forma rápida, que “não será advogado de ninguém”.
Creio que Moro, por ter sido alçado a um cargo de confiança, age com prudência ao evitar falar demais. Queriam o quê? Que ele viesse a público voltar-se contra quem o nomeou? Não faz sentido. Que deixe a Polícia Federal trabalhar com isenção, autonomia e ponto final. Basta. Apenas isso cabe a ele.
O fato é que Flávio deve sim muitas explicações à opinião pública e, por carregar o sobrenome do maior mandatário da nação, atinge o governo, eleito sob a égide do combate à corrupção.
Eu, como eleitor do presidente, também aguardo mais esclarecimentos do senador e quero que as investigações prossigam com total transparência. Afinal, trata-se do trato com a coisa pública. Acusações como peculato e ligações com milícias são graves e têm de ser muito bem esclarecidas.
O ministro relator do pedido de Flávio, Marco Aurélio Melo (STF), deverá julgar a petição na volta do recesso do Judiciário, em 1º de fevereiro. Em outros casos semelhantes, já negou a prerrogativa de foro privilegiado. Portanto, tudo leva a crer que a tentativa de manobra de Flávio irá para a lata do lixo.
Ainda não conheci um só político “casto”, honesto. Talvez existam apenas aqueles que “fedem menos”.
Aguardemos.

* Gabriel Clemente é jornalista graduado pela Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS). Atuou como repórter da rádio ABC, assessor de imprensa político e assistente de comunicação institucional do Centro Universitário Fundação Santo André (FSA).
Preciso.