Da Redação – No dia 24 de novembro, às 20h30, o Grupo Teatral Mata! estreia a sua mais nova montagem no Teatro Studio Heleny Guariba, que fica na Praça Roosevelt em São Paulo.
“Cafona – Ensaio sobre brega, preconceito e violência” é um espetáculo construído a partir de uma intensa pesquisa realizada pelo Grupo Mata! entre os anos de 2016 e 2017, acerca das rádios populares, seus ouvintes, canções e cantores bregas que fizeram sucesso entre as décadas de 1960 e 1970, período em que o Brasil viveu sob um intenso regime militar.
E foi neste período que, com o crescimento das rádios FMs, as rádios AMs acabaram perdendo popularidade. Por terem menor qualidade tecnológica, porém maior alcance territorial, passaram a abarcar sobretudo as camadas mais populares da sociedade e a tocar aquilo que ficou conhecido pejorativamente como “brega”, ou “cafona”.
Como neste período a juventude intelectualizada dava mais atenção aos cantores da MPB e às músicas de protesto, taxando os artistas de músicas românticas de “cafonas” e alienados políticos, surgiu um raciocínio por parte da população que acreditava que “enquanto a ditadura endurecia o regime, os artistas “cafonas” cantavam para o entorpecimento das massas”. Por isso, a pesquisa do MATA! aborda as contradições do período com a atualidade desse “universo da música brega”, na busca por compreender “o ontem e o hoje” das relações sociais ligadas a esse gênero musical, que continua a fazer sucesso e a lançar artistas.
Muitos artistas cafonas – tidos como “bregas” – estiveram presentes nas temáticas pesquisadas pelo grupo, com destaque para: Diana (que retrata em suas canções a mulher apaixonada, que vez ou outra “pisa” naquele que a desprezou), Amelinha (que trouxe em suas letras o caráter de sonho, de ilusão e fantasia, para a dramaturgia), Odair José (que motivou pesquisas a partir de estereótipos masculinos dotados de um tipo de sex appeal à brasileira: fusão entre o “caipira” e o “roqueiro”), Carmen Silva (mulher negra que rechaçou o estereótipo de cantora de samba para cantar músicas românticas) e Waldick Soriano (o típico boêmio conquistador, aquele que coloca a “mulher comum” como protagonista de suas canções e, ao mesmo tempo, reforça determinados preconceitos e opressões).
“Ao pesquisar as músicas bregas na época da ditadura militar no Brasil, percebemos como a compreensão acerca deste gênero musical até hoje possui inúmeras lacunas. A começar pela diversidade de interpretações entorno da palavra “brega” e dos seus estilos musicais. No norte e nordeste do país o brega está mais próximo do forró e do axé. Já no Sudeste, o brega dialoga mais com o Pop, o Rock e a MPB, definindo-se mais como música de amor ou música romântica. É a partir de uma pesquisa centrada mais no sudeste do Brasil que nosso espetáculo se desdobra. E nessa região as músicas bregas também ficaram conhecidas como “cafonas”, ou seja, um tipo de arte “mal-acabada”, distante de qualquer referência erudita. Uma das abordagens do preconceito sobre o brega começa aí: as músicas cafonas por serem popular e falarem dos “populares” sempre foram discriminadas pelo público e crítica especializadas” – comenta Anderson Zanetti – diretor e dramaturgo.
“Cafona – Ensaio sobre brega, preconceito e violência” possui três personagens centrais, criadas a partir dos estudos acerca dos ouvintes das rádios AMs: a empregada doméstica branca e nordestina; a mulher negra cantora/catadora de papel e o homem trabalhador comum de portaria de prédio, que passa em um concurso público para a Polícia Militar.
Com a abordagem das personagens femininas do espetáculo o grupo propõe também reflexões sobre certas contradições em ser mulher na sociedade de hoje.
“Raimunda, por exemplo, preenche a solidão de sua vida interagindo com pessoas imaginárias, “capazes de fazer coisas maravilhosas” e que conversam com ela através do rádio, seu único companheiro. É por meio dele que ela descobre que a felicidade só aparece “para quem sofre, para quem se machuca, para quem nunca desiste”. Porém, acaba se casando com um policial militar, que não era bem o marido descrito nas histórias de amor do rádio. A peça mostra que para as mulheres, a realidade é bem diferente da ficção”, comenta Vanessa Biffon, atriz de Cafona.
Em “Cafona – Ensaio sobre brega, preconceito e violência” o Grupo Teatral Mata! faz um convite para uma imersão na nostalgia da música brega, seus contrapontos e transita entre o período ditatorial e o atual. Do preconceito à violência de gênero, Cafona reflete sobre temas importantes e sobre a relação dos veículos de comunicação com a população, estabelecida durante todos esses anos.
Sobre o Grupo Teatral Mata!
Em 2014 o Grupo Teatral MATA!, nome dado em homenagem ao primeiro processo de montagem de espetáculo, ganhou o Prêmio do “Programa de Apoio à Cultura do Estado de São Paulo” – “Proac – Primeiras Obras”, com espetáculo guerrilheiro não tem nome, trabalho inspirado na Guerrilha do Araguaia e no livro MATA!, do premiado jornalista Leonêncio Nossa.
Em 2015, o grupo foi contemplado com o edital de circulação do “Prêmio Zé Renato de apoio à produção e desenvolvimento da atividade teatral para a cidade de São Paulo”, percorrendo inúmeros espaços do Estado de São Paulo.
Agora, o grupo dá continuidade a sua pesquisa, trabalhando novamente com a perspectiva épico-dialética e traçando um paralelo entre a situação do regime militar (instaurado em 1964) e o momento atual, através de um estudo sobre as canções e cantores bregas, e a relação dos ouvintes com as rádios AM’s. O novo espetáculo: Cafona – ensaio sobre brega, preconceito e violência estreia no dia 24 de novembro.
Mais informações em: www.facebook.com/grupoteatralMATA
Serviço – Ensaio sobre brega, preconceito e violência, estreia 24 de novembro, no Teatro Studio Heleny Guariba (Praça Franklin Rooosevelt, 184, próximo ao Metrô República – São Paulo), com temporada até 9 de dezembro. Sábados 20h30 / Domingos 19h. Ingressos: Inteira R$20 / Meia R$10
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