Os amores da alma

Em nota, ABIA repudia Bolsonaro por disseminar a ignorância com falsa associação entre AIDS e vacina contra a Covid-19Palavra de Internauta

Mestre

Nossos projetos de futuro foram rasgados. Por insensatos segmentos do povo, mais do que por políticos. Esses falaram suas linguagens, aproveitadores do mal. Os mandatos passarão, mas não – pelos menos tão facilmente – os choques da sociedade, que sequer chegou a ser nação, em sua juventude de homens e mulheres que não deram importância por séculos à política – ou foram impedidos pelos chicotes dos barões.

E o que havia de esperança parece desmanchar-se no ar. A insensatez dos antagonismos humanos neste imenso território brasileiro.

O que nos conduz não é a tolerância e o pouco que virá das eleições. É o fel do ódio que se dissemina entre nossos outrora irmãos. Os que discriminam e os discriminados. Os autores do “aparthaid”, não de brancos e negros, mas de amarelos e vermelhos, das iguarias tropicais de coxinhas e mortadelas.

Gente insensata, levar-nos-ão ao caos. O sofrimento será longo. E o crime organizado fica à espreita, para fornecer a ambos os lados sua mão-de-obra mercenária. Não minimize, povo brasileiro, a real, concreta e sangrenta possibilidade do amplo conflito civil.

Os politiqueiros são como jogadores de futebol, que brigam no campo, estimulando contendas de lesões e mortes fora dos estádios.

Pensem que esquerda, direita, centro, são dinossauros políticos. Temos uma Constituição da paz, da tolerância, mas parece que o vaticínio do grande parlamentar que a promulgou não vinga: “Queira Deus que seja cumprida!” Porque a maioria de nossas leis não são cumpridas. E a sociedade derrapa nas selvas.

Independentemente dos exemplos de ódio dados pelos políticos, pensemos na harmonia de nossas pequenas oficinas, de nossas lojinhas, de nossas padarias, de nossas fábricas, de nossos campos, de nossas academias, de nossas favelas, que gritam justamente, de nossos escritórios,  por meio do único método eficaz para os humanos que neles vivem: a tolerância. Ao tolerarmos as ideias alheias, o bem vem para nós, não para o tolerado.

As ações devem ser concretizadas pelos princípios que a Constituição foi pródiga ao proclamar. Ou revelar, implícitos. Só assim caminharemos, mais uma vez segundo os versos de Whitman, que fez a América acima do Rio Grande, experimentada pelos 500 mil mortos da secessão, e pelos ainda mais infelizes, que sobreviveram com suas chagas lancinantes:

“Aqui estão o devasto, as barbas, a benevolência, a combatividade, os amores da alma, Aqui os trens que fluem, aqui as multidões, a equidade, a diversidade, os amores da alma.”

Amadeu Garrido de Paula (São Paulo)

 

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