Sesc Belenzinho traz o Coletivo Estopô Balaio ao projeto Teatro Fora da Caixa

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Da Redação – O Sesc Belenzinho convida, a partir do dia 6 de abril de 2018, em seu projeto Teatro Fora da Caixa, o Coletivo Estopô Balaio com seus três espetáculos: “Carta 1 – A Infância, promessa de mãe”, “Carta 2 – A Vida Adulta, a Mulher” e “Carta 3 – A Velhice, o artista”, os dois últimos realizados nos vagões de trens da CPTM.

As três Cartas compõem o tríptico do projeto “Nos Trilhos Abertos de um Leste Migrante”, que reúne três histórias sobre sonhos, fugas e lembranças. Estão em cena as trajetórias de vida de Martha e seu filho Erik (Carta1), Janaína (Carta 2), e do Sr. Vital (Carta 3), (i)migrantes que saíram da Bolívia, de Pernambuco e de Minas Gerais, respectivamente, para construir novas narrativas pessoais na cidade de São Paulo.

O Teatro Fora da Caixa, do Sesc Belenzinho, está em sua segunda edição e neste projeto participam peças e intervenções criadas para espaços não convencionais como praças, corredores, lugares de passagem, áreas de trânsito dos públicos, etc. Ao projeto interessam obras teatrais em que o espaço é elemento central para a dramaturgia e estratégia para o jogo teatral.

Os espetáculos do Coletivo Estopô Balaio serão encenados – e vividos por seus protagonistas e pelo público – no Sesc Belenzinho (“Carta 1 – A Infância, promessa de mãe”) e nos trens da CPTM (“Carta 2 – A Vida Adulta, a Mulher” e “Carta 3 – A Velhice, o artista”), em viagens em direção à Guaianazes e Rio Grande da Serra, respectivamente. Munidos com fones de ouvido e MP4, os passageiros são convidados a avançar o olhar pelas janelas do trem, onde o audiotour auxilia no mergulho das narrativas que perpassam a vida dos imigrantes da América Latina.

Dentro da programação do projeto, o diretor do coletivo João.Junior, ministrará a oficina ‘A Praça’, com jogos, improvisações, entrevistas e escritas de cartas que serão ferramentas para o percurso de estímulo às memórias individuais, e uma rede de acontecimentos que se interseccionem e se instalam no espaço arquitetônico da praça localizada na entrada da unidade do Belenzinho, onde a ação formativa finalizará com apresentação/instalação aberta à fruição pública.

A partir da ideia de biodrama (desenvolvido pela artista argentina Vivi Tellas), o trabalho a ser realizado utilizará da biografia dos participantes e de seus imaginários sobre a imagem da praça como meio para mergulhar em questões mais abrangentes.

“Carta 1 – A infância, promessa de mãe” –  A “Carta 1 – A Infância, promessa de mãe” traz a história de Erik, filho de bolivianos. Já no Brasil, Martha, sua mãe, escreveu uma carta para seu pai (avô de Erik, que estava doente na Bolívia). Martha, com o desejo de rever seu pai na Bolívia, fez a promessa de não cortar o cabelo do filho pequeno enquanto não pudesse voltar ao seu país natal e rever seu pai, para que ele mesmo pudesse cortar o cabelo de Erik. Essa prática cultural boliviana – em que alguém mais velho corta o cabelo da criança e dá a ela um presente – não levava em conta as dificuldades financeiras de Martha voltar à Bolívia e o tempo passou, sem que ela conseguisse cumprir a promessa. O cabelo do menino alcançou um tamanho gigantesco, o que gerou problemas na escola, no bairro e na vida social do garoto.

Quando finalmente a mãe de Erik conseguiu voltar ao seu país com o menino, o avô de Erik não se achou à altura de cumprir a promessa e não cortou o cabelo do neto. Foi então que Erik teve a ideia de oferecer sua história para um programa da TV aberta: o cabelo imenso (media cerca de 1,20m) poderia resolver parte dos problemas financeiros da família. E assim foi que o garoto expôs sua história na TV e conseguiu reformar seu quarto.

A história de Erik se entrelaça com o jogo geopolítico existente entre os países da América Latina e suas relações comerciais, afetivas e de poder. De maneira bem humorada, Erik e Martha propõem uma reflexão sobre os problemas enfrentados pelos cidadãos latino-americanos: das promessas de lucro fácil (na imigração para o Brasil), à realidade da semiescravidão do setor têxtil, tudo é demasiado real e cruel nessa relação de irmandade com os vizinhos brasileiros.

“Carta 2 – A vida adulta, a mulher” – A “Carta 2 – A vida adulta, a mulher” traz a história de Janaina. Nascida e crescida em Pernambuco, em Bonança, sofreu diversos tipos de abuso na infância. Aos 15 anos, foi entregue a um homem ao qual teve que chamar de marido. O sonho da festa de 15 anos, uma idade emblemática, foi interrompido pela transformação forçosa dessa menina em mulher.

Foram 18 anos de um relacionamento abusivo com seu “marido”. Janaina passou por vários tipos de violência – a mais frequente era a doméstica – mas chegou a apanhar dele até mesmo dentro do hospital onde estava internada por causa das surras que recebia.

Estimulada pelos seus dois filhos, Janaina se libertou do relacionamento e veio para São Paulo, com milhões de sonhos na mala. Há seis anos aqui, Janaina é uma das seguranças da estação central da CPTM, no Brás. A narrativa construída pelo Coletivo Estopô Balaio é refazer a festa de 15 anos que Janaína não teve, mas no local que ela escolheu para si: na própria estação de trens.  É ali que o público verá a transformação de menina/mulher, mas em uma festa. A viagem, que parte da estação Brás com destino a Guaianases, é para buscar o bolo de aniversário, uma festa na estação do trem, para público/convidados.

“Carta 3 – A velhice, o artista” – A “Carta 3 – A velhice, o artista” conta a história de Sr. Vital. Nascido em Mariana (MG), na roça, saiu de lá em 1964, para tentar a sorte na famosa cidade de São Paulo. O destino profissional do Sr. Vital cruzou diversas metalúrgicas, em épocas que o sindicalismo era bastante forte, vivenciou lutas e os desdobramentos trabalhistas do período. Mas o sonho do Sr. Vital sempre foi tocar sanfona. E foi só na sua aposentadoria que um empréstimo bancário fez o sonho virar realidade.  E hoje ele toca, toca por aí, pelo prazer de tocar. Já tocou inclusive com Chico César, sem sequer imaginar o tamanho da trajetória musical de seu parceiro.

O Sr. Vital se envolveu no assunto “cartas e Estopô Balaio” quando ofereceu sua música como ferramenta para encorajar os transeuntes da estação de trem do Brás a escreverem cartas, por meio dos integrantes do coletivo. Ele, que estava em processo de alfabetização, aproveitou o ensejo e se permitiu escrever cartas para os amigos.

Em cena, Sr. Vital rememora seu passado de metalúrgico, sua infância e as privações da velhice. Partindo da estação Brás, com destino a Rio Grande da Serra, a partir das janelas do trem é possível ver muitas paisagens, como a de fábricas abandonadas e trens antigos, que revelam a mobilidade urbana dos anos 60. Os rios lameados que cortam o trajeto remetem à sua meninice e provocam-no a pensar em sua cidade natal, Mariana, e seu Rio Doce. Nas inquietações sobre a velhice, o Sr. Vital questiona o confinamento dos idosos em asilos – privados de sua liberdade sobre essa escolha.

Serviço – Nos Trilhos Abertos de um Leste Migrante

Carta 1: A infância, promessa de mãe, na Sala de Espetáculos do Sesc Belenzinho (R. Padre Adelino, 1000, Belém/ SP), de 6 a 8 de abril. Sexta e sábado, às 21h30, e domingo, às 18h. Lotação: 100 pessoas | Duração: 90 min | Classificação: 12 anos. Ingresso: Grátis. Retirada com 1h de antecedência.

Carta 2: A vida adulta, a mulher (linha 11 da CPTM), na Linha 11 da CPTM | Dias 12 e 13 de abril de 2018, às 14h (chegar com 30min de antecedência, as reservas caem às 13h30), no Espaço Cultural da Estação Brás – Linha Vermelha CPTM. Lotação: 50 pessoas | Duração: 120 min | Classificação: 12 anos. Reservas: reservas@coletivoestopobalaio.com.br

Carta 3: A velhice, o artista (linha 10 da CPTM), na Linha 11 da CPTM | Dias 19 e 20 de abril de 2018. Horário: 14h (chegar com 30min de antecedência, as reservas caem às 13h30), no Espaço Cultural da Estação Brás (Lotação: 50 pessoas/ Duração: 160 min/ Classificação: 12 anos Reservas: reservas@coletivoestopobalaio.com.br

Oficina A Praça – Dias: 10 a 25/04. Terças e quartas, das 15h às 19h; 26 e 27/04. Quinta e sexta, das 15h às 19h; 28/04. Sábado, das 15h às 20h; 29/04 Domingo, das 14h às 19h. Duração: 42h| 30 vagas | Recomendação: 18 anos | Grátis. Público: interessados nos aspectos que serão abordados, estudantes das artes e artistas em geral. Seleção por meio de carta de interesse, que devem ser enviadas até 05/04 para o e-mail oficinadeteatro@belenzinho.sescsp.org.br

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