Burundanga marca a estreia da comédia de Luis Alberto de Abreu no Teatro Municipal Paulo Eiró

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Da Redação – Uma irreverente comédia popular com uma contundente crítica ao poder em nossa sociedade. Talvez essa seja uma boa descrição do que BURUNDANGA apresenta ao público. Nessa história de uma revolução que “quase acontece” por engano, dois pilantras (João Teité e Matias Cão) vão parar numa cidade distante e isolada e são recebidos na mansão de uma poderosa família. Confundidos com líderes revolucionários, eles se aproveitam das situações e criam as mais divertidas confusões com medo de serem descobertos.

Escrita pelo premiado dramaturgo Luís Alberto de Abreu e comandada por Paulo Olyva (em sua primeira direção), a encenação da Tal Cia de Teatro apresenta uma roupagem contemporânea, salientando as nuances e toda a comicidade do texto. Profundo conhecedor da sociedade brasileira, Abreu conseguiu trazer importantes discussões com simplicidade e maestria, com um humor crítico e inteligente.

Interessados na pesquisa de técnicas de atuação com referências pessoais e na cultura popular, o elenco construiu seus personagens com partituras corporais precisas, ágeis e que potencializam as ideias dramatúrgicas e reverberam sensações e nuances a cada gesto e palavras. Tudo para tornar a experiência cênica mais plausível, enriquecedora e divertida para o público, que poderá rir e refletir sobre as questões apresentadas.

Resultado do Prêmio Estímulo de Dramaturgia da Secretaria de Estado da Cultura em 1994, BURUNDANGA foi a fundo numa análise cômica e crítica sobre os jogos de poder na sociedade brasileira. Conhecedor profundo e grande mestre da dramaturgia, Luis Alberto de Abreu soube explorar cada arquétipo da cultura popular para a construção desse texto, tornando sua eloquência reveladora de nossa cultura.

Para o dicionário Houaiss, a palavra “Burundanga” é sinônimo de confusão: estado ou efeito do que é ou se encontra confundido, misturado. O poder pode corromper é o tema de BURUNDANGA, misturando à farsa elementos da comédia de costumes.

As situações de Burundanga remetem os vícios que permeiam a conduta de parte da classe política e de figuras públicas do país: adesismo, oportunismo, autoritarismo e corrupção. Um exemplo é o rápido entusiasmo com que o establishment político da fábula (o Deputado, a Prefeita, o Coronel, o General) adere à falsa “revolução”. A tradição reacionária e violenta do poder constituído no Brasil também está presente na história e é personificada pela figura do Coronel Marruá (latifundiário e moribundo que ressuscita toda vez que ouve a palavra “Revolução”). Como em toda comédia, as situações criadas pelo dramaturgo ao mesmo tempo que ironizam, criticam esses costumes, tal qual a fábula de “O Inspetor Geral,” de Gogol e “O Juiz de Paz na Roça,” de Martins Pena.

A primeira montagem foi feita no ano de 1996 pela Fraternal Companhia de Artes e Malas Artes, de São Paulo, conquistando repercussão e sucesso entre o público e a crítica.

Para organizar cenicamente essa dramaturgia rica e bem estruturada, a direção optou por ressaltar a comicidade através do trabalho dos atores e uma estética com roupagem contemporânea, com referências a cultura Pop e ao universo animado dos quadrinhos.

Para a construção dos personagens, os atores criaram partituras corporais minuciosas, usando diversas referências pessoais que proporcionam frescor e comicidade ao jogo cênico. Esse trabalho é o primeiro resultado de uma pesquisa iniciada pelos integrantes da Tal Cia de Teatro em 2014, na qual as “mimeses corpóreas” são exploradas com profundidade até se tornarem orgânicas, pertinentes e artisticamente relevantes.

A construção estética da peça inspirou-se no momento em que João Teité (o esfomeado da história), se torna o líder civil da “revolução”. Através da perspectiva de Teité e influenciado também pelas recentes manifestações políticas (que utilizaram acessórios de cozinha como forma de protesto), optamos por trazer a referência desses utensílios de cozinha para a cenografia e também para a encenação. No caso da cenografia, as imagens desses utensílios sobrepostas formam desenhos inusitados que estampam enormes totens, trazendo a atmosfera da revolução para dentro da residência do Coronel Marruá (local da maioria dos acontecimentos). Na cena da audiência em que Teité recebe o povo, este é representado por bonecos formados também por utensílios de cozinha como escorredor de macarrão, espátulas, panelas e abridor de vinhos, numa alusão ao teatro de objetos e formas animadas, ampliando assim ainda mais a visão de Teité sobre as pessoas e as coisas.

Serviço – Burundanga, pela A Tal Companhia de Teatro de 1º a 24 de setembro, às sextas e aos sábados, às 21h, e domingos, às 19h, no Teatro Municipal de Santo Amaro Paulo Eiró (Av. Adolfo Pinheiro, 765 – Alto da Boa Vista – Santo Amaro) Telefones: (11) 5686-8440 / 5546-0449. Ingressos: R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (Estudantes, idosos, professores, classe artística e moradores do bairro)

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