Referência na luta antimanicomial, Santo André inaugura sexta residência terapêutica

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Da Redação – Pioneira nacional no modelo, Santo André inaugurou nesta quarta-feira (26) a sexta residência terapêutica do município, na Vila Tibiriçá. O novo espaço recebeu oito moradores egressos de hospitais psiquiátricos do interior do Estado. Outros oito munícipes que ainda vivem em instituições do gênero serão acolhidos em uma nova residência terapêutica, a sétima na cidade, que será inaugurada em agosto. A iniciativa cumprirá o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) firmado em 2012 entre Ministério Público Federal, Ministério Público Estadual, Estado de São Paulo, União e os municípios, que assumiram o compromisso de cumprir a Lei 10.216/2001, que prevê a desinstitucionalização de pessoas ainda internadas em hospitais psiquiátricos da região de Sorocaba, atualmente o maior polo manicomial do país.

“Nossa cidade foi a primeira do Brasil a adotar os Serviços Residenciais Terapêuticos, em 1999. Estamos dando continuidade a um projeto que é importante porque cuida das pessoas com humanidade. Nossa gestão assumiu e aceleramos o processo para que esses munícipes que viviam em hospitais psiquiátricos voltassem para a cidade e mais que isso, para um ambiente que os trate com dignidade. Nós somos destaque na luta antimanicomial e vamos trabalhar para continuar sendo referência nessa e em outras políticas públicas”, afirmou o prefeito Paulo Serra.

O Ministério da Saúde repassou R$ 40 mil para aquisição de móveis e adaptações das duas novas residências, além disso, vai repassar R$ 20 mil por mês para cada casa, que são cadastradas como tipo II (destinadas às pessoas com transtorno mental e acentuado nível de dependência). Porém, a maior demanda será custeada pelo município. “O custeio total de cada casa é de R$ 48 mil mensais, ou seja, a Prefeitura vai pagar R$ 56 mil. Esse valor se justifica, além da manutenção do espaço, com a contratação de técnicos de enfermagem e outros profissionais, já que os moradores têm um nível de comprometimento que necessita de cuidados constantes”, explica a secretária de Saúde, Ana Paula Peña Dias.

A mudança de um ambiente fechado para uma casa trouxe melhora significativa para Antonia Maria Cirino, de 85 anos, que apresenta um quadro demencial. Institucionalizada há 35 anos, Antonia em poucos dias vivendo na nova residência deixou de utilizar a cadeira de rodas, passou a se locomover com andador e até começou a ensaiar algumas palavras e sons. “Quando eu ia visitar minha mãe no hospital no interior, não podia ver muito o local onde ela ficava, mas percebo a mudança dela, agora ela está muito mais feliz. Eu nem imaginava que ela poderia voltar a andar”, comentou o filho Oseias Cirino, de 54 anos, que foi criado numa instituição beneficente, onde é assistido até hoje. Enquanto seu filho falava, a idosa se levantou com certa dificuldade, porém sozinha e sentou no braço do sofá para olhar a televisão, como se quisesse reforçar que agora ela consegue.

Durante as visitas nos hospitais onde os novos moradores viviam, o coordenador de saúde mental da rede municipal, Danny Martyn Van de Groes, disse que se surpreendeu por ver certas cenas ainda em 2017. “Algumas unidades não permitiam nosso acesso aos quartos e outras salas. Na única que consegui circular, ainda vi cenas de pessoas expostas, nuas e jogadas no chão”, relatou.

A residência terapêutica é um espaço de moradia, acolhimento e reinserção social para os moradores com transtornos mentais, que não possuem referência familiar para possível retorno a suas casas de origem. Na casa, os moradores desenvolvem tarefas cotidianas como limpeza, organização da casa e alimentação. Os moradores fazem tratamento no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) de referência, são acompanhados por uma equipe multidisciplinar e são inseridos na vida profissional por meio de oficinas ofertadas pelo Núcleo de Projetos Especiais (NUPE) e até ofícios com carteira assinada. Para a responsável pelas residências terapêuticas do município, Zelia Tolentino, “essas pessoas querem ser tratadas como seres humanos, então nas residências eles têm uma relação de família mesmo, um cuida do outro. Ele sofrem de transtornos, mas isso não impede que eles tenham uma vida normal e que se relacionem com outras pessoas, aqui eles são moradores”.

A Rede de Atenção Psicossocial (RAPS ) do município é composta dos seguintes pontos de atenção: três CAPS tipo III (24 horas com 24 leitos comunitários para adultos); um CAPS III AD (Álcool e outras drogas) com oito leitos; um CAPS infanto-juvenil e oito leitos de enfermaria psiquiátrica no Centro Hospitalar Municipal “Dr. Newton da Costa Brandão”.

Para reabilitação psicossocial há duas repúblicas terapêuticas (unidades de acolhimento, uma para adulto e outra para jovens de acordo com Projeto Terapêutico Singular vinculados ao CAPS III AD); um Núcleo de Projetos Especiais (NUPE), que realiza atividades voltadas a geração de trabalho e renda; o Consultório na Rua (CNR), que realiza atendimento itinerante à população de rua e o CAPS itinerante, uma equipe mista dos CAPS AD, Vila Vitória, Infantil e CNR, que realiza atendimentos em Paranapiacaba e Parque Andreense, com objetivo de promover acesso à Saúde. Com a inauguração de mais uma nova residência terapêutica em agosto, a cidade vai passar a contar com total de sete moradias, duas masculinas, uma feminina e quatro mistas, com um total de 60 moradores.

Além disso, há atendimento de referência em psiquiatria e psicologia na USF Parque Miami, Centro de Saúde Escola, Centro de Especialidades III, Centro de Especialidades I, referência de psiquiatria e de psicologia. Na Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), são ofertadas mensalmente em média 1.400 consultas psiquiátricas, 1.300 oficinas terapêuticas e 900 grupos terapêuticos.

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