Uma Peça por Outra satiriza os problemas de comunicação

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Mariana Mascarenhas – O processo comunicacional ocorre quando um emissor envia uma mensagem ao receptor e este a recebe por meio de um canal comunicacional. Simples, não é? Nem tanto. Em pleno século XXI, uma das tarefas mais vitais do ser humano, a comunicação, ganhou uma avalanche de inovações quanto às formas de se expressar, mas suas falhas persistem mais do que nunca com os chamados ruídos da comunicação – quando a mensagem reflete no receptor um efeito diferente do desejado pelo emissor.

Saindo da teoria e indo para a prática, ou, melhor ainda, para o campo da comédia, é possível refletir tal situação por meio de histórias satíricas e bem-humoradas no espetáculo Uma Peça por Outra.  Escrita pelo multipremiado dramaturgo francês Jean Tardieu (1903 – 1995), a comédia apresenta seis esquetes, baseadas em peças curtas do autor escritas entre 1955 e 1975, que, de forma criativa e inusitada, fazem uma aguçada crítica aos problemas da comunicação presentes nas mais diversas relações humanas. O espetáculo é uma expressão do Teatro do Absurdo, muito trabalhado por Tardieu e que consiste em expressar situações que permeiam o universo humano, por meio de elementos surreais e desordenados. Ousaria chamar de loucura racional, já que o exagero, no fundo, está pautado em comportamentos humanos que cometemos e às vezes nem percebemos.

Vale destacar algumas esquetes, como Para bom entendedor meia…., em que um casal apaixonado (interpretados por Dalton Vigh e sua esposa Camila Czerkes) mantém um diálogo sem nunca completar as palavras finais de cada frase, sem que, por isso, o entendimento não fique claro para o público; Uma Palavra Por Outra, que narra um chá das cinco em que os personagens conversam trocando palavras por outras de significados diferentes, sem afetar a compreensão das frases, dada a ordem dos elementos.

Em Só Eles o Sabem, o público dá altas risadas com a encenação de uma espectadora, que tenta entender o que se passa numa novela, cujos personagens parecem falar nada com coisa nenhuma e nem eles sabem o que se passam. Situação semelhante acontece na esquete seguinte, Conversação Sinfonieta, em que um grupo de músicos mantém entre si uma conversação, como se estivessem cantando ópera.

Dirigido por Guilherme Sant’Anna e Brian Penido Ross, que também participa do espetáculo, encenando, inclusive, uma esquete com a atriz Clara Carvalho – ambos nos mesmos papéis que fizeram há 30 anos e cuja projeção é exibida na peça atual – a comédia é encenada pelo Grupo das Dores, que está comemorando 30 anos de existência. São destacáveis as atuações de Dalton Vigh, encarando vários estereótipos divergentes de forma hilária e ao mesmo tempo natural, e também de Clara Carvalho, à vontade em todos os papéis que faz no palco.

A história por si só já é rica ao nos provocar uma reflexão sobre a persistência dos problemas de comunicação, principalmente nos dias de hoje com as plataformas digitais. Algo que soa até mesmo irônico, pois nunca se falou tanto sobre tudo, com a ampliação do acesso ao conhecimento, e nada ao mesmo tempo. Já que parecemos nos perder em meio a infinidade informacional em que somos conhecedores de tudo, mas sem verdadeiro aprofundamento, nos tornamos conhecedores do nada.

Contando com o excepcional trabalho de direção e atuação, o espetáculo é um programa excelente para rir, descontrair, provocar e refletir como uma peça escrita há tanto tempo, continua a encaixar-se perfeitamente na contemporaneidade, cujo problema parece eterno, e cujo absurdo não está na encenação, mas na própria realidade que se trasveste na satirização cênica.

Serviço – Uma peça por outra, no Teatro Aliança Francesa (Rua General Jardim 182 – Vila Buarque), até o dia 28 de maio, de quinta a sábado, às 20h30, e domingo, às 19h. Bilheteria – Quintas e sextas: R$ 20 | R$ 10/ Sábados e Domingos: R$ 50 | R$ 25. Bilheteria do teatro abre 2h antes do início do espetáculo. Pela Internet: www.ingressorapido.com.br  | 4003-1212

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