Da Redação – Um estudo elaborado pela startup Expert Market, baseada no Texas (EUA), e publicado recentemente na Fast Company teve por objetivo descobrir quais são os países com os empreendedores “mais determinados do mundo”, ou seja, aqueles que embora enfrentaram muitas dificuldades e burocracias, ainda assim apresentaram um alto número de negócios criados em 2016.
Apesar da forte crise econômica pela qual o Brasil passa, sobretudo, nos últimos dois anos, o país aparece bem posicionado no ranking, em 5º lugar numa lista de 15 países, quando o assunto são os empreendedores mais determinados do mundo.
Ainda de acordo com o levantamento, em uma escala de 1 (mais fácil abrir um negócio) até 130 (mais difícil), o Brasil ganha pontuação 125. Ao mesmo tempo, na escala que mede a abertura de negócios e que varia de 1 (maior número de negócios criados) até 130 (mínimo negócios criados), o Brasil ganha pontuação 48. Isso demonstra os dois lados da moeda: a dificuldade em abrir um negócio comparada ao alto número de negócios criados. Ou seja, o país tem um grande número de pessoas dispostas a empreender, mesmo com todos os riscos envolvidos.
Empreendedores contam quais foram as maiores dificuldades que enfrentaram para abrir o negócio, explicam por que muitas startups fecham tão rápido, e qual foi o segredo do sucesso para estarem no mercado, inclusive recebendo aportes e até expandindo internacionalmente.
Para Guilherme Bonifácio, CEO e Cofundador do Rapiddo, serviço online sob demanda para solicitação de motoboys, a maior dificuldade para abrir o negócio foram os sindicatos, tanto o patronal quanto o de empregados que não entenderam e não apoiaram o modo de trabalho da empresa. Ao invés de buscarem trabalhar juntos e enxergar as oportunidades de melhorar o setor, se sentiram ameaçados e tentaram atrapalhar a atuação do Rapiddo. Outro ponto que incomodou o executivo foi a burocracia do dia a dia para abrir empresa, atualizar contrato ou estatuto social, cartórios etc.
O sucesso do Rapiddo Guilherme atribui à boa qualidade do serviço, que traz valor para todos os envolvidos. “Os entregadores ganham mais, os clientes pagam menos, nós ficamos com a nossa parte para criar tecnologia e expandir, todos saem ganhando”, diz Guilherme. Ele acredita que muitas startups fecham rápido porque o modelo de negócios não está aprovado, foram mal planejadas ou houve erro na execução. Acesso a capital é também uma restrição forte. “Não tivemos problemas financeiros por que recebemos aporte de investidores que acreditaram no negócio, mas se não fosse isso provavelmente não existiríamos. É praticamente impossível levantar dinheiro em bancos ou em órgãos de fomento com uma apresentação, sem ativos que sirvam de garantia para um empréstimo. Sem um ecossistema forte de investidores em capital de risco é difícil gerar o ciclo virtuoso de crescimento de startups”, finaliza Guilherme.
Thiago Carvalho, CEO do Guichê Virtual, plataforma que permite que as pessoas comprem passagens de ônibus de diversas empresas para todo o Brasil, acredita que todos os países apresentam dificuldades para o empreendedor. Para ele, o Brasil tem algumas adversidades culturais e estruturais que endossam isso, como, por exemplo, escassez de mão de obra qualificada e dificuldade em obter recursos, como financiamento bancário. Para ele, o sucesso do Guichê Virtual foi conseguir validar o modelo de venda de passagens de ônibus online com poucos meses de operação, com um time enxuto. Isso permitiu chegar ao breakeven em apenas 18 meses e chamar a atenção de investidores internacionais.
Thiago acredita em três motivos que levam as startups fecharem rápido: o primeiro é que os founders não se planejam financeiramente. O executivo conta que ficou privado de uma remuneração por pelo menos dois anos. O segundo motivo é que os founders muitas vezes não estão envolvidos em tempo integral com o projeto. E o terceiro é que o excesso de colaboradores nessa etapa pode exceder o orçamento inicial do negócio.
Quando fundou o TemLugar, marketplace focado em aluguel de escritórios, o CEO Roberto Felipe Tesch, diz que sua maior dificuldade foi a questão da burocracia. “Investe-se muito tempo e dinheiro com processos burocráticos, desde o pagamento de taxas de fiscalização e manutenção de todos os documentos da vida da empresa (gastos, investimentos, etc.) até questões mais complexas inerentes a cada modelo de negócios”, explica Roberto. “Por exemplo, no caso da nossa startup, tivemos que adaptar nosso modelo de negócios para as regras do setor imobiliário. Frente a tantas dificuldades, é válido dizer que o processo de abertura de uma empresa já melhorou e não é mais tão burocrático quanto era há alguns anos, mas ainda há muitas barreiras”, completa o executivo.
Para ele, a legislação trabalhista também traz dificuldades, notadamente para empresas que estão começando, além da questão da cultura da inovação recente. Roberto conta que sentiu falta de mais pessoas com experiência no campo de startups e que isso dificultou desenvolver uma metodologia de trabalho específica para inovação, que deve ser diferente daquela aplicada em negócios tradicionais.
Roberto acredita que muitas startups fecham precocemente porque estão investindo todo o dinheiro muito rápido antes de ter um produto maduro e bem testado. Se um empreendedor começa a investir em divulgação e marketing antes do “Market Fit”, as vendas ocorrem, mas não decolam e, quando o dinheiro acaba, o negócio perde sustentação. Para o executivo, o sucesso do negócio está associado a gostar do que faz, saber onde quer chegar e ter em mente que empreender se trata de um processo no qual cada etapa representa aprendizado e experiência acumulada, indispensáveis para alcançar o seu objetivo. E aconselha: “Quando algo não funciona, não se deve encarar como um erro ou algo para desanimar, e sim como parte natural do processo e mais uma etapa vencida. Mas para que essa filosofia seja possível, é imprescindível o planejamento e ter clareza dos riscos que está correndo, pois ela não vai funcionar se o tombo for muito maior do que o previsto”.
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