* Mariana da Cruz Mascarenhas – O megaempresário estadunidense, Donald Trump, mal esquentou a cadeira presidencial, após sua posse na sexta-feira do dia 20/01/17, e já está dando o que falar mundo afora. Para surpresa de muitos, no dia 23/01/17, ele assinou uma ordem executiva para retirar os EUA do Tratado de Associação Transpacífico (TPP, na sigla em inglês).
Criado no ano de 2005, na gestão do presidente Barack Obama, após cerca de cinco anos de negociações, o TPP é um acordo de livre-comércio estabelecido entre doze países banhados pelo Oceano Pacífico: Estados Unidos, Japão, Austrália, Brunei, Canadá, Chile, Peru, Malásia, México, Nova Zelândia, Cingapura e Vietnã.
Com o intuito de promover o crescimento econômico, aumento de empregos, produtividade e inovação, entre outras medidas, o Tratado proporcionou fortalecimento e expansão comerciária dos seus integrantes através da diminuição de barreiras comerciais entre os países membros e cancelamento das tarifas de comércio de bens e serviços, além de incluir normas sobre legislação trabalhista, ambiente, propriedade intelectual e compras estatais.
A constituição de tal acordo trouxe à tona também um dos fortes objetivos de Obama no propósito de fortalecer sua economia: ele fez de tudo para que a China fosse excluída do tratado e assim poderia expandir sua presença em fortes áreas econômicas, aumentado seu poderio econômico sobre o mercado mundial.
Mas por que Trump decidiu desligar-se do Tratado? A resposta pode ser facilmente encontrada em muitas das afirmações que o atual presidente vem proferindo desde o período da sua candidatura, quando deseja “salvar os EUA dele mesmo”. Nas concepções do republicano, enquanto o país abre suas portas para acolher novos imigrantes e promover a liberação comercial, muitos de seus próprios cidadãos estão vivendo às margens da sociedade, vítimas da miséria, desemprego, ocasionados pela globalização que está lhes tirando oportunidades com a intensa fomentação de mão-de-obra estrangeira.
A solução seria, então, na visão do presidente, recorrer ao protecionismo e voltar o mercado norte-americano para ele mesmo por meio de maiores incentivos à infraestrutura, redução de impostos e aumento das taxas de importação, para que assim o país fomente o mercado interno – situação semelhante ocorreu no Brasil, quando a gestão do governo Lula (2003-2010), diante da crise mundial, resolveu fomentar o comércio nacional por meio do estímulo ao crédito, sem os devidos investimentos, e o resultado é a recessão vivida nos dias de hoje.
Redução na arrecadação e aumento de gastos são medidas inversamente proporcionais que poderão gerar altos déficits para o governo estadunidense, o qual poderá recorrer à elevação dos juros e fortalecimento da moeda americana. Para o Brasil, isso não seria nada bom, pois sua moeda tenderia a enfraquecer e reduzir ainda mais os investimentos que, diante da recessão atual, se encontram ínfimos.
Mas há quem veja com bons olhos para a nossa nação a saída dos EUA da TPP. Assim que o decreto foi assinado, o setor exportador brasileiro aumentou a pressão sobre o governo Temer para que possa acelerar negociações e desta forma tentar ocupar o espaço surgido com a saída dos norte-americanos, exportando para esses países. Essa oportunidade foi levantada, pois o TPP não se trata de um acordo em que os seus membros aceitam regras válidas para todos, mas sim de uma série de acordos bilaterais intragrupo, o que facilitaria acordos comerciais com o Brasil.
Uma das fortes apostas brasileiras neste cenário é o agronegócio que, em tempos de crise, é favorecido pelo aumento de exportações, ocasionado pelo enfraquecimento do real que barateia nossos produtos. Dados divulgados pela Secretaria de Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, em agosto de 2016, revelaram que as vendas externas brasileiras do agronegócio chegaram a US$ 52,8 bilhões entre janeiro e julho de 2016.
Já as importações representaram uma queda de quase 12% nos valores, atingindo US$ US$ 7,24 bilhões. O setor representou 49,6% das exportações totais do país nesses sete meses, as quais também cresceram ao longo dos anos anteriores como visto no gráfico.
Ainda segundo a Secretaria, em 2016, a balança comercial teve superávit de US$ 47,7 bilhões e a balança comercial dos produtos do agronegócio foi superavitária em US$ 71,3 bilhões. Sem a contribuição dos produtos do campo, a balança comercial apresentaria déficit de US$ 23,6 bilhões. São dados que confirmam o quanto o país pode se beneficiar ao agir rapidamente na proposição de negócios comerciais com outras nações.
Outro país que pode se beneficiar da saída dos EUA é a China. Segunda maior potência econômica mundial, o país criticou medidas protecionistas adotadas por Trump e, nas palavras de um porta-voz do governo chinês, o país defende “rotas comerciais mais abertas na região do Pacífico” e “soluções que beneficiem a todos”, ao contrário do discurso protecionista norte-americano.
O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Roberto Azêvedo, disse que o mundo deve ficar mais cauteloso para não cair em guerras comerciais, o que agravaria ainda mais o desemprego no planeta. De acordo com o diretor, a imposição de barreiras comerciais poderá complicar a situação, considerando que foi o setor comercial o responsável por tirar um bilhão de pessoas da pobreza. Será que estamos à beira de uma guerra comercial?
* Mariana da Cruz Mascarenhas é jornalista e especialista em Comunicação Organizacional. Articulista e crítica de Economia e Cultura, já escreveu matéria do Vaticano, além de muitos outros trabalhos jornalísticos realizados em São Paulo. http://mixpoint.com.br/marianamascarenhas/
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