Rede de São Bernardo é referência para especialistas do Uruguai

Da Redação – A rede municipal de saúde de São Bernardo servirá de modelo para a implementação de ações que melhorem a promoção do cuidado e a organização e gestão de serviços no Uruguai. Uma delegação uruguaia composta por integrantes do Ministério de Saúde Pública e por médicas especialistas em Saúde da Família estiveram na cidade nos últimos dois dias para troca de experiências.

A programação incluiu discussões com as equipes técnicas e visita a equipamentos localizados na região do Alvarenga: Unidade Básica de Saúde (UBS), Policlínica, Unidade de Pronto Atendimento (UPA), Centro de Atenção Psicossocial (Caps) e o Hospital de Clínicas Municipal (HC).

O intercâmbio foi promovido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que apoia financeiramente projetos de saúde no município e no país vizinho. A especialista em proteção social e saúde do BID no Uruguai, Rita Sorio, explica que o banco incentiva o diálogo entre equipes de toda a América Latina e Caribe, e que São Bernardo foi uma das escolhidas para receber os visitantes por ter promovido grandes transformações em seu modelo de atenção nos últimos oito anos.

“A rede de Saúde de São Bernardo mudou radicalmente. Antes, tínhamos um serviço muito focado nos hospitais e nas especialidades. Hoje a rede é exemplo na continuidade do cuidado e na gestão que promove um diálogo verdadeiro com as equipes nos mais diversos níveis de complexidade”, avalia.

A especialista aponta que, apesar das diferenças em termos de extensão territorial e população (o país sulista tem 3,4 milhões de habitantes), o sistema de saúde uruguaio guarda semelhanças com boa parte das cidades brasileiras quando analisados os perfis epidemiológico e sanitário, o que possibilita e enriquece o debate. Rita Sorio, uma das sete integrantes da comitiva, explica que a saúde no Uruguai registrou avanços na última década por conta da ampla reforma sanitária realizada pelo país em 2007.

“A reforma sanitária realizada no Uruguai tem objetivos gerais e valores norteadores semelhantes aos do SUS, como a universalidade, equidade, continuidade e interdisciplinaridade. O Brasil tem muito a agregar nessa discussão, uma vez que o SUS completou 25 anos. Hoje temos essa ponte para o diálogo, que no futuro pode se transformar em colaboração permanente”, afirma.

A médica Gabriela Lamique, responsável pela rede de atenção primária metropolitana de Montevidéu, diz que o intercâmbio é oportunidade “maravilhosa” de aprendizagem. Ela diz que inúmeras políticas implementadas por São Bernardo podem ser aplicadas com sucesso em seu país. Ela citou as linhas de cuidado de doenças crônicas, a divisão da gestão por territórios de saúde e a atuação dos agentes comunitários e disse que essas ações irão inspirar outras mudanças no sistema uruguaio. “Hoje os principais desafios da nossa saúde são a integralidade, a promoção da continuidade do cuidado e a melhoria da resolutividade do atendimento. Vamos sair de São Bernardo com exemplos bastante consistentes”, comenta.

Gabriela ressalta que a rede de saúde mental constituída por São Bernardo dentro da lógica antimanicomial também pode servir de modelo para o Uruguai. O país está prestes a aprovar o anteprojeto da Lei de Saúde Mental, elaborada com ampla participação popular e que mobilizou usuários e familiares. Ela explica que o país ainda convive com instituições psiquiátricas que isolam as pessoas em sofrimento psíquico em internações de longa permanência. “Temos iniciativas que fogem desse padrão de confinamento, como casas transitórias e locais para breves internações, mas esperamos que, com a aprovação da lei, possamos avançar para todo o país”.

A secretária de Saúde de São Bernardo, Odete Gialdi, participou do encontro com a delegação uruguaia e diz que a rede municipal de saúde está aberta para cooperar e sediar novos intercâmbios. “Temos uma experiência muito rica na construção do cuidado em rede, por meio do qual o usuário ‘caminha’ de forma segura e sem dificuldade pelos mais diversos serviços. Esse trabalho é fruto de muita dedicação por parte das nossas equipes, que ao longo dos oito anos conseguiram implementar essa cultura de diálogo e conexões. É um privilégio ter a oportunidade de compartilhar essa jornada e também de enriquecer nosso repertório com as experiências trazidas por eles”, afirma Odete.