90% dos casos de violência infantil não são denunciados

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Da Redação – De acordo com estudos realizados pelo CRAMI – Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância do ABCD, 90% dos casos de violência praticada contra crianças e adolescentes não são denunciados. Thelma Armidoro Velasco, psicóloga e assistente técnica do Centro, explica que isso ocorre porque os casos acabam sendo encobertos pelos próprios familiares.

“São casos de negligência e violência sexual, física e psicológica que não chegam ao conhecimento das autoridades e esses números podem ser ainda maiores”, revela Thelma. Para se ter ideia, durante o mês de agosto, o CRAMI atendeu 466 casos, sendo 133 de violência sexual, 186 física; 104 de negligência e 43 de violência psicológica. “Este último é um dos mais velados em razão do seu reconhecimento ser mais difícil, haja vista que envolve humilhações, ameaças e rejeição”.

Outro dado importante diz respeito aos agressores. Nos últimos seis anos, constatou-se que nas violência física e negligência, em sua maioria o autor é a mãe, sendo 51% nos casos de violência física e 71% nos casos de negligência. Já o autor de violência psicológica aparece de forma equilibrada – sendo 42% a mãe e 41% o pai, ambos na faixa etária de 35 a 45 anos.

Com 27 anos de atuação e mais de 344 mil atendimentos em forma de intervenções domiciliares, orientações, oficinas e psicoterapias individuais e em grupo, o CRAMI também derruba o mito de que o padrasto é quem mais abusa sexualmente da criança e do adolescente. “Nossos dados estatísticos apontam que a maioria dos autores de abuso sexual identificados é o pai biológico com 31% dos casos contra 15% cometidos pelo padrasto. Os demais casos estão distribuídos entre outros parentes, desconhecidos e sem informação. O fato do pai biológico aparecer como quem mais abusa sexualmente de crianças e adolescentes retrata uma realidade que não se restringe à região do Grande ABC, mas em todo Brasil e no mundo”, explica a psicóloga Thelma Velasco.

A profissional ainda lembra que segundo o Mapa da Violência, do Ministério da Saúde, de 2002 a 2012 houve um acréscimo de 40% da taxa de suicídio entre crianças e pré-adolescentes com idade entre 10 e 14 anos. Na faixa etária de 15 a 19 anos, o aumento foi de 33,5%. No caso de crianças, são estimadas 300 tentativas para um suicídio consumado, seja porque usam método pouco letal, seja por dificuldade de acesso a instrumentos. “É preciso prestar atenção a qualquer sinal que a criança ou o adolescente demonstre sobre vontade de tirar a própria vida, seja através de comunicação verbal, seja por apresentar sinais como tristeza prolongada e outros comportamentos sugestivos”.

Perfil – O CRAMI atende notificações de violência doméstica (violência física, psicológica, negligência, abandono e abuso sexual) praticada contra crianças e adolescentes de zero a 18 anos. Seu atendimento é gratuito, mas não é “porta aberta”, ou seja, para ser atendido no CRAMI é necessário seguir o fluxo de rede de cada município sendo que o primeiro passo sempre é procurar o Conselho Tutelar que avaliará o caso e encaminhará a família para atendimento. Por isso, é muito importante que as famílias com dificuldades procurem ajuda no Conselho Tutelar ou quando suspeitar / ter certeza de que está havendo violência contra alguma criança ou adolescente que conheça. A denúncia pode ser anônima no próprio Conselho Tutelar ou através do disque 100.

O CRAMI realiza cursos de capacitação, seminários, fóruns e palestras direcionadas aos segmentos que lidam em seu cotidiano diretamente com crianças, adolescentes e famílias, com o objetivo da identificação precoce da violência e os encaminhamentos necessários. Este trabalho é gratuito e oferecido à rede dos municípios em que o CRAMI atua  – Santo André, São Bernardo do Campo e Diadema.

Além disso, em 2012, com o objetivo de gerar sustentabilidade à instituição, foi criado o CRAMI Consultoria e Cursos, sendo possível oferecer a todos os municípios do país a sua contribuição quanto à capacitação para o enfrentamento à  violência doméstica contra criança e adolescentes e outras demandas dos profissionais que atuam na rede de atendimento. “Nosso objetivo é estimular o olhar dos profissionais e estudantes para o contexto social. Nossos cursos são dirigidos a pessoas que atuam ou desejam atuar com o tema nas áreas da Saúde, Educação, Assistência Social, Sistema de Garantia de Direitos, entre outros”, acrescenta Thelma.

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